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Crianças deficientes ganham amor de voluntários

Por trás de um muro colorido com capricho, em verde, amarelo, azul e vermelho, na avenida Senador Lemos, uma das mais movimentadas de Belém, esconde-se um Pará de abandono e desencanto. Do lado de dentro, a casa mantém a atmosfera alegre da fachada. Pinta

Por trás de um muro colorido com capricho, em verde, amarelo, azul e vermelho, na avenida Senador Lemos, uma das mais movimentadas de Belém, esconde-se um Pará de abandono e desencanto. Do lado de dentro, a casa mantém a atmosfera alegre da fachada. Pintada em tons de azul, tem sinais da presença de crianças por toda parte. Na TV, canções infantis animam as manhãs. Ali, no chamado Abrigo Calabriano, vivem 40 pessoas, entre crianças, jovens e adultos, que compartilham o mesmo destino: foram abandonadas por causa de suas deficiências físicas e passam muito tempo aguardando uma adoção que não vem.

No último dia 25, a casa completou 10 anos de existência. Uma década de uma missão espinhosa, mas essencial. A entidade de direito privado, sem fins lucrativos, é o único abrigo no Pará para crianças e jovens abandonados portadores de deficiências físicas e mentais severas. Entre as histórias emblemáticas do abrigo Calabriano está a de A.C. Aos 38 anos, ele passou a vida em instituições como a antiga Fundação da Criança e do Adolescente (Funcap). Tem paralisia cerebral grave, que compromete os movimentos. Ele perdeu todas as chances de ser adotado. Não tem mais opções. Seu lar, para sempre, será o abrigo.

Em um colchonete em frente à TV, o menino D. – de cerca de 1 ano e meio – sorri com os olhos. Ele tem os braços imobilizados para não machucar as mãos. A assistente social e diretora do abrigo, Soraya Guimarães, conta que o menino nasceu no município de Irituia, nordeste do Pará, e que chegou ao abrigo há um mês. Foi vítima de abandono. Passou fome e chegou a partir, com os dentes, os próprios lábios inferiores. Passará por cirurgia de reconstrução na Santa Casa.

ESFORÇOS

Para cuidar do abrigo, é necessário um batalhão de profissionais. São 163 deles, entre médicos, fisioterapeutas, monitores e pessoal de apoio, como Edna Muniz, a cozinheira do lugar. Ela vendia quentinhas. Um dia, foi ao prédio fazer uma entrega e acabou substituindo a responsável pelas refeições, que tinha faltado – e assim já se passou uma década. A mulher conta que, quando chegou ao lugar, sofreu com as histórias tristes contadas ali. Demorou a se acostumar. Hoje, afirma, comemora cada pequena vitória, cada sorriso, cada olhar. “Aqui no abrigo a gente tem todo dia um aprendizado de humildade, alegria e paciência”.

Não é preciso adotar para dar apoio emocional às crianças e jovens que vivem em abrigos. A Justiça está incentivando entre a população a adesão ao programa padrinho solidário. “Não se trata de adoção, mas de responsabilidade solidária com crianças acima de 7 anos de idade, que precisam de orientações sobre saúde, educação, projeto de vida e formação profissional”, explica o juiz da Infância Alessandro Ozanan.

Para aderir ao programa, é preciso procurar a Vara da Infância, porque o processo é oficial. O padrinho deve visitar a criança periodicamente e, caso queira, pode levá-lo para rápidos passeios fora do abrigo ou até para temporadas mais longas, como férias. O padrinho pode também fazer doações como brinquedos, materiais escolares e roupas, entre outros.

Governo do Pará atrasou recursos ao abrigo por 6 meses este ano

Alimentos, remédios, material de limpeza, fraldas. Manter um abrigo para crianças e jovens com deficiências severas custa caro. O Abrigo Calabriano recebe doações, mas em 10 anos de existência tem se mantido graças a um convênio com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster). O problema é que, nos últimos anos, o atraso de repasses se tornou rotina. Quando a reportagem do DIÁRIO visitou o lugar, na segunda semana de agosto, os atrasos chegavam a 6 meses.

Soraya Guimarães, diz que o espaço conseguiu se manter nesse período recorrendo a um fundo de reservas, mas o dinheiro acabou e, no início de agosto, a situação estava desesperadora. “A gente começa a receber cobranças, fica muito difícil administrar com os atrasos”, diz. Havia também incertezas sobre a renovação do convênio para manter a casa, que consome cerca de R$ 250 mil, fora os gastos com serviços médicos e remédios.

Em entrevista ao Diário, na quinta-feira, 18 de agosto, o titular da Seaster, Heitor Pinheiro, justificou os atrasos. Disse que houve mudanças na legislação que regulamenta convênios entre governos e o setor privado, mas prometeu que os repasses seriam atualizados, o que de fato foi feito. Os depósitos foram feitos alguns dias depois. Heitor assegurou também que, em outubro, será firmado um termo de cooperação para manter o abrigo funcionando.

Bianca adotou Pedro (Foto: Ricardo Amanajás)

Em alguns casos, o amor venceu

As crianças do Abrigo Calabriano fogem do padrão desejado por casais que buscam a adoção. Em geral, elas têm mais de 3 anos e deficiências severas que vão exigir muito mais que dedicação. Pedem paciência e estrutura psicológica. A professora Bianca Priscila Pereira, 33 anos, e o autônomo Djalma Pereira, 32, não fugiram do desafio. Na fila da adoção, o casal conheceu o pequeno Pedro. “Não nos passava pela cabeça adotar uma criança com deficiência. A primeira reação foi de medo. Achava que a gente não tinha estrutura, mas foi amor à primeira vista”, conta ela. Primeiro, o casal conseguiu a guarda provisória e aos poucos percebeu que a vida não seria mais a mesma. Aos 6 anos, Pedro age como uma criança de 2. Tem atraso no desenvolvimento, mas nada disso desanima o casal. “Não há arrependimento aqui. Só amor. O Pedro é nosso”, reforça a professora.

(Rita Soares/Diário do Pará)

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