Teatro feito para todos os sentidos

O que dizer de sair para ir ao teatro para “ver” uma peça e ser vendado durante todo o espetáculo? Essa é a experiência que propõe “Pelos Olhos Dela”, uma montagem cênico-sensorial escrita e dirigida por Carlos Correa Santos, que tem no palco a participação de atores-inclusivos e que será apresentada de hoje até domingo, no auditório da Faculdade Integrada Brasil Amazônia - Fibra.

O espetáculo faz parte do projeto Cena Especial - Teatro Inclusivo, trabalho de extensão da Fibra, que vem propondo trazer ao público paraense uma forma mais ampla de experimentar o teatro, possibilitando a pessoas com deficiência visual ou auditiva terem acesso à arte e convidando também os demais espectadores a mudarem sua perspectiva.

“Pelos Olhos Dela” convida o público a mergulhar no universo da cegueira. Sem cenário, sem iluminação cênica, sem figurino específico, sem maquiagem ou visagismo, a peça coloca o desafio da dramaturgia não apenas nas mãos do elenco, mas o compartilha com o público. Quem decide participar, precisa concordar em ficar os quarenta minutos da encenação completamente vendado antes do início da apresentação e depois se deixar conduzir para o universo do espetáculo.

“É, acima de tudo, um experimento artístico que tem a inclusão como pressuposto. Queremos falar sobre a cegueira, mas num sentindo muito mais profundo que somente o da deficiência física”, diz Carlos Correia.

No palco, se unem atores com síndrome de Down, deficiência física e intelectual. Somente suas vozes são ouvidas ou suas ações são sentidas, impossibilitando o reconhecimento de supostas deficiências. A peça já foi apresentada em Belém em junho do ano passado, com uma interessante repercussão de público. Agora, volta a ser apresentada com novas cenas e novo elenco, formado por participantes do projeto Cena Especial em 2016.

PROJETO PROPÕE MUDANÇA NO ACESSO À ARTE

O projeto “Cena Especial” foi criado em março de 2015 e ganhou repercussão nacional - em veículos como a revista “Reação”, voltada à inclusão - ao abrir o debate sobre inclusão na arte.

Uma das diferenças, defende o diretor teatral e idealizador da proposta, Carlos Correia Santos, é a aposta na formação de atores-inclusivos.

Correia explica que qualquer pessoa – com ou sem deficiência e com ou sem experiência no teatro – pode ser um ator-inclusivo. Basta estar interessado em aprender as particularidades de ser um artista envolvido com a arte-educação especial. “O ator-inclusivo é, primeiramente, um artista ciente de seu papel como instrumento da inclusão por meio das artes, em particular as cênicas. É um artista preparado para lidar não apenas com as situações gerais do fazer teatral, do mergulho nas exigências do palco, mas uma pessoa capacitada para se comunicar artísticamente, explorando as possibilidades múltiplas dos sentidos. E da ausência destes. É um artista que precisa ser hábil a encenar montagens nas quais sejam exploradas a sua própria aptidão sensorial, as aptidões sensoriais de seus colegas de cena e as aptidões sensoriais do público na plateia”, detalha Carlos.

Como resultado do “Cena Especial”, têm surgido espetáculos em que atuam juntos, em cena, participantes com e sem deficiência. A plateia também é sempre convidada a experimentar sensações variadas vividas pelas pessoas com deficiência. No caso de “Pelos Olhos Dela”, o espetáculo é encenados na escuridão, mas podem ser peças sem qualquer som ou fala, que convidem o público a sentir limitações físicas e mostrem a necessidade que precisamos ter sempre de nos colocar no lugar do outro para entendê-lo e aceitá-lo.

EXPERIMENTE

Espetáculo Pelos Olhos Dela - Temporada 2016
Quando:de hoje a domingo, às 20h
Onde: auditório da Fibra (Av. Gentil Bittencourt, 1144, entre Generalíssimo e 14 de Março)
Quanto: de graça
*Os espectadores precisam concordar em ficar vendados ao longo de toda a encenação. Lugares limitados.

(Diário do Pará)