O gabinete de R$ 16 milhões

É incrível, mas verdadeiro: o gabinete do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, possui mais do que o dobro de funcionários da Casa Civil do governador de São Paulo, o mais rico e populoso estado do Brasil. No gabinete paulista, são 65 servidores. Já no gabinete da Prefeitura Municipal de Belém (PMB) - o equivalente à Casa Civil de um Estado -, são 158. A gastança com esse batalhão impressiona.

No orçamento de 2016, a Prefeitura da capital prevê gastar R$ 16,5 milhões, só com os gastos com pessoal e encargos da Chefia de Gabinete de Zenaldo. Isso supera os R$ 9,1 milhões destinados, no mesmo orçamento, à merenda escolar, por meio da Fundação Municipal de Assistência ao Estudante (FMAE). Para a população, o mais revoltante é saber que essa gastança acontece numa cidade que sofre com saúde pública de péssima qualidade, educação caótica e insegurança em níveis assustadores. Se investisse a fortuna que gasta em seu gabinete em setores realmente importantes à sociedade, Zenaldo poderia estar governando uma cidade muito melhor.

DIMENSÕES

A coisa toda fica ainda mais escandalosa quando se comparam, em números, as realidades do Estado de São Paulo e de Belém. O Estado paulista possui 45 milhões de habitantes, mais de 30 vezes a população de Belém, que é de 1,4 milhão. O orçamento paulista para 2016 é de R$ 207 bilhões, o que representa mais de 55 anos de orçamento de Belém, que não chega a R$ 3,5 bilhões anuais. Tudo isso torna ainda mais intrigante o fato de Zenaldo manter, em seu gabinete, mais do que o dobro de funcionários da Casa Civil paulista.

Há mais. Há 1 mês, o DIÁRIO mostrou que a Casa Civil do governador do Pará, Simão Jatene, possui 664 funcionários - 10 vezes mais do que o Governo de São Paulo. E assim como Jatene, Zenaldo mantém, em sua equipe, muito cacique para pouco índio: em média, há 1 chefe para cada grupo de 5 assessores.

No gabinete, há 1 chefe para cada 5 assessores

O gabinete de Zenaldo é um exemplo demolidor do “choque de gestão” cantando em verso e prosa pelos membros do PSDB. Dos 158 funcionários diretos do prefeito, 94 são assessores, 24 são chefes, 7 são técnicos e apenas 33 são servidores operacionais. Ocorre que, desses assessores, técnicos e operacionais, 21 estão cedidos ou à disposição de outros órgãos, restando portanto, 113 para 24 chefes.

Isso significa que, no gabinete do prefeito, há 1 chefe para cada grupo de, no máximo, 5 funcionários. E note que toda essa estrutura cara e pesada não é para a atividade-fim da Prefeitura. Ou seja, não é para atender à população em geral, mas apenas ao prefeito de Belém. A maioria esmagadora está concentrada no Departamento de Administração. Nele, há 40 assessores, 19 chefes, 3 técnicos e 16 servidores operacionais, o que dá 57% do total. Mais do que possui muitos juízes e promotores, com as centenas e até milhares de processos que têm para examinar.

O LEVANTAMENTO

O levantamento do DIÁRIO foi feito a partir de informações dos portais da Transparência de Belém e de São Paulo. Confira:

A quantidade de servidores da Casa Civil de São Paulo.
Informações sobre os funcionários do gabinete de Zenaldo.
O orçamento de Belém para 2016.
O RREO do 6º bimestre do ano passado (novembro/dezembro).

(Ana Célia Pinheiro/Diário do Pará)