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Profissionais seguem ofícios que resistem ao tempo

Engraxates, relojoeiros, protéticos, alfaiates: o tempo passa, a tecnologia muda tudo, mas algumas profissões não morreram com o passar dos anos. Para estes trabalhadores, os relógios correram. Mas suas utilidades e o desejo de atender bem permanecem muit

Engraxates, relojoeiros, protéticos, alfaiates: o tempo passa, a tecnologia muda tudo, mas algumas profissões não morreram com o passar dos anos. Para estes trabalhadores, os relógios correram. Mas suas utilidades e o desejo de atender bem permanecem muito vivos.

O DIÁRIO foi às ruas de Belém encontrar esses heróis nas rotinas de seus ofícios. Eles carregam orgulho de suas funções. Ainda que a modernidade acelere as mudanças de mercado, esses homens trabalham e preservam com primor o que aprenderam no batente.

Alguns estão já há meio século na lida. Uns começam as atividades por opção. Outros acharam nelas saídas para problemas e mantêm o sustento de famílias inteiras. E apesar destas serem profissões que resistem, avessas às mais novíssimas tecnologias, elas continuam sendo cruciais à nossa vida moderna e urbana.

COMO BONS SAPATOS VELHOS, VENDO A HISTÓRIA CAMINHAR

Os sapatos sempre foram um artigo ímpar na vida das pessoas. Dizem que, com eles, andam a elegância, o estilo e até fetiches. Para alguns, isso tudo vai até além: os pares de calçados merecem até a mesma limpeza e os cuidados que cada um tem com o seu próprio corpo. Mesmo com toda a tecnologia das grandes indústrias e uma infinidade de modelos disponível nas vitrines, o hábito de levar os calçados aos sapateiros ainda resiste.

CALÇANDO CONVERSAS

Quem ainda segue com o hábito de sentar na cadeira de um sapateiro, não busca apenas deixar seus sapatos limpos e brilhantes. Vai além. Pode ouvir histórias, prosas e jogar conversas fora. É o que desfrutam os clientes do seu Maximiano Lima de Oliveira, 69, que há 51 anos está no ofício e hoje trabalha na Praça Dom Pedro.

Seu Maximiano começou a ser engraxate em 1965: desde a época do “clipper” - termo em inglês que designava um mobiliário urbano, característico dos anos 1950 e 1960 nas capitais brasileiras -, no Boulevard Castilhos França.

E foi nesse abrigo de concreto, com lanchonetes, bares e comércio, que nasceu seu amor pelos sapatos.

“Quando o Jarbas Passarinho [ex-governador do Pará] assumiu o poder, em 1964, acaboucom o prédio”, recorda.

Foi então que o engraxate passou a ficar em vários pontos do centro de Belém, até se estabelecer, finalmente, quase à porta da Prefeitura, na praça Dom Pedro.

Seu Maximiano resiste na praça, mas já acredita que a violência urbana está minando o ofício. Na praça pública, moradores de rua e usuários de drogas são ameaças tanto aos profissionais quanto a clientes. “Hoje os sapateiros preferem ir para o quartel [limpar as botas dos militares] a ficar aqui”, pondera.

SEM CAIXOTES

Há 11 anos os engraxates da praça Dom Pedro ganharam lugares cativos . Trocaram os caixotes por cadeiras altas, com estruturas verdes que lembram charretes. A apresentação chama atenção de quem passa. Principalmente de clientes que precisam estar sempre bem alinhados para entrar nos órgãos públicos ao redor da praça. Vários políticos e personalidades já sentaram à cadeira de Maximiano. Até o senador da República, Jader Barbalho. “Lembro ainda do primeiro discurso dele, em palanque, na Praça do Relógio”, recorda.


HÁ MAIS DE TRÊS DÉCADAS MOLDANDO SORRISOS

Entre gessos, porcelanas, pinças, frascos e lupas, e sob a luz forte de um abajur, Francisco Sales, 50, dá moldes a sorrisos há pelo menos 35 anos. O protético resistiu ao tempo. E fez do crescimento de consultórios odontológicos um bom aliado.

No interior do Estado, e até mesmo na capital, os protéticos ainda são vistos como dentistas. Mas não são. E seu Francisco sabe bem disso: faz questão de lembrar que é necessário o pedido de um odontólogo para se fazer qualquer trabalho.

O protérico Francisco Sales: firme e forte no batente. (Foto: Octávio Cardoso/Diário do Pará)

HERANÇA

Francisco herdou a profissão de protético de seu tio. Hoje, ele garante: “É a única coisa que eu sei fazer”. Com o medo de perder espaço, ele passou a fazer cursos, e comprar novos equipamentos. “Antes os nossos maquinários pareciam uma tartaruga. Hoje são pequenos e bem eficientes”, brinca o protético da passagem Acácia, no Marco.

No início, fazer prótese era atividade de dentista. Quando muito, ele incumbia alguém, um auxiliar, para executar as tarefas. A própria odontologia tinha seus problemas com os chamados práticos licenciados, profissionais que exerciam a atividade sem formação superior. Até que na Revolução de 30, Getúlio Vargas tomou providências, com um decreto-lei referente à odontologia, que citava o protético.

“Nossa profissão é muitoantiga. Ela resiste até hoje,mas é necessário sempre se adaptar às mudanças”.

ECONOMIAS

Atualmente, em Belém não há sindicato. Mas, eles têm registro profissional, o qual soma pelo menos 260 protéticos no Pará. Porém, sem autorização para trabalhar, há mais de 400. “O grande problema é que eles não têm o Ensino Médio. Aprenderam e só sabem fazer isso”, disse Francisco, que é legalizado.

O serviço feito por esse profissionais custam, em média, 60% a menos do que feitos através de um dentista.

PARA QUE AS HORAS NÃO PASSEM

Parece que os anos não passam para o relojoeiro Haroldo Rômulo, de 40 anos. A tranquilidade é o resultado da dedicação aos detalhes de seu trabalho. Suas mãos, por mais de duas décadas, dão vida ao ‘tic- tac’ de incontáveis relógios. E elas parecem não se importarem com os minunciosos movimentos - e com o cansaço no final do dia. Entre limpezas, consertos, trocas de peças, de vidros, a paciência é o segredo para conquistar clientes.

Foi na calçada da rua Manoel Barata, no bairro do Comércio, em Belém, que encontramos o relojoeiro - resistente à modernidade e às dezenas de assistências técnicas nas redondezas. Ele faz o seu trabalho sentando em um banco, sobre uma pequena mesa de madeira. Com uma atenção diferenciada a cada cliente, Haroldo procura deixar cada relógio como se fosse recém-saído da loja. E foi com esse capricho que ele manteve até hoje o sustendo de seus três filhos.

Por dia, o relojoeiro recebe uma média de sete serviços. O valor das trocas e consertos não passam de R$ 50.

O relojoeiro Haroldo Rômulo: paciência é a alma do negócio. (Foto: Bruno Carachesti/Diário do Pará)

E mesmo com o movimento e valores sazonais, ele garante que é feliz com o trabalho que aprendeu a fazer desde criança. “Comecei com isso, há muitos anos. Hoje conserto tudo de relógio, inclusive os mais antigos, de parede”, garante Haroldo.

O servente Luiz Alexandre, 57, é cliente de Haroldo há cinco anos. Ele afirma que não troca os antigos relojoeiros pelas lojas grandes e modernasde assistência técnica.

Para Luiz, o diferencial é ter um serviço de confiança, entregue no prazo certo - e até mesmo feito na hora, além do preço que é mais baixo. “Pago menos, bato um papo, e ainda ganho um amigo”, sorriLuiz Alexandre.

UM SEGREDO DE ELEGÂNCIA

É mais fácil colocar uma linha no buraco de uma agulha: arrancar uma informação do alfaiate e estilista Juraci Modesto é um desafio. Assim como sua profissão, ele prefere se manter o mais reservado possível. Juraci diz que já dispensou mais de 20 entrevistas. Só depois de muita insistência falou com a nossa reportagem. E mais: ainda abriu um sorrisão e, no final, acenou com um tchauzinho.

Há 60 anos trabalhando com consertos e confecção de roupas - principalmente ternos masculinos-, na avenida Senador Lemos, em frente da Praça Brasil, no Umarizal, Juraci já é quase uma lenda viva no bairro. Na estreita fachada de sua loja, uma pequena placa antiga dança de acordo com o vento: anuncia que ali resiste um tradicional alfaiate de Belém.

Mas não é só por essa profissão que ele se denomina: “Eu também sou um estilista. Desenho os feitios de acordo com cada corpo”, ressalta. Aos 86 anos - idade que ele compara à do apresentador de TV, e seu ídolo, Sílvio Santos -, ele coleciona vários calos nos dedos e marcas de furos de agulhas.

O alfaiate e estilista Juraci MOdesto: "Faço o que eu gosto. E não vou me aposentar tão cedo". (Foto: Bruno Carachesti/Diário do Pará)

FREGUESIA

As calejadas e hábeis mãos de Juraci Modesto têm uma lista extensa de clientes fiéis.

Roupas feitas por ele já vestiram vice-governadores, deputados, executivos e empresários, entre outras personalidades. “O dinheiro de todos é igual. Pagando, todos são atendidos da mesma forma”, brinca. E assim, o homem que parecia sisudo revela-se boa praça.

Com muito orgulho, seu Juraci diz que seu trabalho garante conforto: tudo está nos perfeitos ajustes que ele faz a cada corpo. “Faço ternos para cadeirantes, aleijados, roupas para mulher. Para qualquer um, e com medidas únicas”.

COMO ANTIGAMENTE

O alfaiate conta seu segredo para resistir ao tempo, e às novas lojas e shoppings: é o amor pelo que faz. “Faço o que eu gosto. E não vou me aposentar tão cedo”, garante.

Outro trunfo de Juraci para fazer tanto sucesso, entre todos os públicos - principalmente homens de meia idade -, é trabalhar como nos tempos antigos. Mesmo com máquinas industriais no andar de cima da loja, ele prefere costurar com a tradicional máquina pedal, que fica à vista de todos que chegam ao seu ateliê.

Saudosista, seu Juraci prefere mesmo é manter protocolos. E um deles é não abrir espaço às mulheres em seu estabelecimento. Ele trabalha com mais parceiros de longas datas. Michel Miranda, de 65, há 50 anos é um dos dois alfaiates de Juraci.

Hilário é de poucas palavras: ele já tinha uma resposta pronta, quando perguntamos cadê as mulheres da loja? “Não vêm, pois vão sair daqui grávidas”, gargalha.

Apesar de manter a tradição, seu Juraci Modesto fez diversos cursos de costura em Belém e até em outros estados. Para ele, é muito importante estar sempre se reciclando e aprendendo.

Os seus serviços de alfaiate, custam a partir de R$ 100, para consertos. Quem quer garantir um bom terno, sob medida, pode desembolsar até R$3 mil - dependendo domodelo eleito e do tecido.

(Roberta Paraense/Diário do Pará)

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