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Músicos questionam funcionamento de bares de Belém

“Basicamente, eu acho que se readaptar a isso vai ser muito difícil para quem trabalha com música, e mesmo num cenário autoral, como é o caso da Se Rasgum. O governo está se desviando de uma obrigação que ele tem em diminuir a violência, seja em que horár

“Basicamente, eu acho que se readaptar a isso vai ser muito difícil para quem trabalha com música, e mesmo num cenário autoral, como é o caso da Se Rasgum. O governo está se desviando de uma obrigação que ele tem em diminuir a violência, seja em que horário for”, opina Marcelo Damaso, produtor de um dos principais festivais de música de Belém, sobre o anteprojeto de lei de autoria do Ministério Público do Estado (MPE) que limita o horário de funcionamento dos bares, casas de show, restaurantes e similares na capital paraense.

Vereadores da Câmara Municipal de Belém (CMB) aprovaram a realização de uma sessão especial, amanhã, às 9h, para discutir a proposta de que os estabelecimentos funcionem das 11h às 23h, de segunda a sexta-feira, e até as 2h, durante os fins de semana. O problema é que a medida envolveria não só a economia gerada pelos donos de estabelecimentos dessa espécie, os empregos gerados neste horário, o turismo, mas também a renda e produção direta de artistas – principalmente os músicos.

Para o guitarrista Delcley Machado, a medida atinge diretamente a classe, sendo claramente “a ideia de quem não vive disso”. E propõe com ironia: “Vamos pegar o salário de quem propôs isso e cortar pela metade justificando que é pelo fim da violência em Belém e vamos ver o que essa pessoa acha, porque é isso que eles estão fazendo com a gente. Quem vive de arte em Belém depende da noite, desse fluxo de público. De dia o que a gente faz é ensaiar, gravar, tudo para se apresentar à noite. Não concordo nem um pouco com essa determinação, nem como artista nem como público”.

Em redes sociais e em mesas de bares e shows – ainda não tocados pela proposta do MPE –, os artistas vão comentando de forma espontânea, entre amigos, as possíveis consequências da aprovação dessa medida, afirma o músico Renato Lú, que também vê tudo como uma proposta desmedida. “Lógico que a bebida é um fator que pode levar à violência, mas não é o determinante. Em Belém, a violência envolve muitas outras questões não resolvidas – como a ausência de boas políticas de educação, emprego e policiamento.”

Renato afirma que a noite de Belém corresponde a cerca de 70% de seu trabalho como artista, por isso, para ele, “instituir um toque de recolher é perder em cultura, entretenimento. É perder toda uma cadeia de turismo, serviços. Você já imaginou o turista chegando a Belém num voo às 23h e não tem um lugar mais descontraído aonde ele possa ir, um bar, um show, depois da meia-noite?”, questiona.

Ele também acredita que essa situação terá pouca aplicabilidade na periferia, onde os bares continuariam abertos. “Lá essa fiscalização não chega, e no centro vai prevalecer quem tiver maior poder econômico e político”, prevê.

“Eu vejo como uma solução paliativa e que não traz grandes vantagens porque sacrifica todo um contingente de trabalhadores para tentar frear a violência. Lembro que já foi tentado esse ‘toque de recolher’ em Belém ao menos duas vezes e o que aconteceu é que depois de um tempo a fiscalização foi diminuindo até que tudo foi esquecido”, lembra o músico Pedro Vianna, destacando também uma série de eventos na cidade que só iniciam após as 23h. Entre eles, a “Quintarrada”, show realizado pelo músico Félix Robatto, sempre às quintas-feiras, a partir das 23h – exatamente no limite do que a lei pretende censurar.

“Não conheço ninguém que concorde com essa proposta além do MPE”, diz Félix. “Essa desculpa da violência é fora dos ambientes onde a gente toca, onde os músicos trabalham, e na rua isso é responsabilidade do policiamento, do governo. Querer resolver isso cortando o nosso horário de trabalho não faz sentido. Se for assim, tem que fechar os bancos porque tem tido muito assalto, parar os ônibus onde também tem muito assalto. As pessoas já saem tarde do trabalho, fazem academia, estudam à noite, o nosso dia já é tão curto, ainda querem cortar”, indigna-se o músico.

A mesma crítica é tomada por Renato Lú. Para ele, mesmo que em curto prazo a medida não é solução para a violência. “Para quem realiza shows de MPB, como é o meu caso, os espaços já são escassos, e as apresentações sempre começam por volta das 22h, então como vamos ficar? Sem violência e sem cultura e entretenimento e trabalho também?”, questiona.

Félix Robatto lembra a experiência de anos atrás. “Eu tocava cinco dias por semana e, quando rolou isso, há uns oito anos atrás, passei a tocar uma ou duas vezes por semana. Para nós, músicos, que vivemos de economia aqui para nos manter por determinado tempo até o próximo show aparecer, foi muito difícil”. “Eu vejo isso como uma forma desesperada de querer frear a violência sem a consciência de que se está prejudicando a vida de várias pessoas”, resume Marcelo Damaso, se referindo ainda aos donos de bares que pagam altos valores em alvarás, os taxistas e os ambulantes que trabalham no entorno de estabelecimentos e festas. “Até o açougue vai vender menos carne para petisco para o bar, que, se fecha mais cedo, tem menos consumo”, diz Félix Robatto.


PETIÇÃO

O criador das “Quintarradas” decidiu criar esta semana uma petição contra o anteprojeto do Ministério Público Estadual do Pará que limita horários de funcionamento de bares e casas noturnas na Região Metropolitana de Belém. Para ele, uma oportunidade de a população manifestar por si mesma sua opinião. Endereço da petição.

Sessão Especial

Quando: segunda-feira 30, às 9h, na Câmara Municipal de Belém (Travessa Curuzu, 1755, próximo à Almirante Barroso – Marco . Aberto ao público.

(Laís Azevedo/Diário do Pará)

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