Obras da Estrada do Fama ficam só no papel

Armazenados atrás do portão mantido sempre fechado, os móveis que seriam colocados à venda já não possuem a cor original. Completamente cobertos por uma poeira grossa e amarronzada, sofás, mesas e fogões padecem sem qualquer atratividade aos poucos clientes que ainda passam pela Estrada do Fama, no bairro de mesmo nome, no distrito de Outeiro.

Obrigada a fechar a venda de móveis usados e a padaria que garantia o sustento da família, a comerciante Helena Costa Garcia, 63 anos, já enfrenta o problema há 25 anos. “O tempo todo é essa poeira.” Sem conseguir manter as janelas de casa abertas diante da rua sem asfalto, principalmente nos dias em que não há chuva, Helena conta que foi apresentada à necessidade de lidar constantemente com a poeira desde que se mudou para o local, duas décadas atrás. Nos dias de sol mais intenso, qualquer veículo que passe pelo local já levanta poeira suficiente para entrar na casa, mesmo que fechada. “A nossa padaria teve que acabar por causa da poeira.”

Moradores, como Helena Costa, penam com a poeira, enquanto placas colocadas na vizinhança anunciam pavimentação que nunca aconteceu. (Foto: Bruno Carachesti)

CASAS TOMADAS

Do outro lado da rua, que é a principal do bairro do Fama, a estratégia utilizada pela doméstica Maria Madalena dos Santos, 57 anos, foi a de cobrir a fachada de casa com panos. Amarrados por trás da grade do pátio, os tecidos tentam pelo menos amenizar a entrada do pó que sobre da rua. Às vésperas de comemorar o primeiro ano de idade da neta Izane, a senhora não consegue pensar em uma forma de manter a poeira afastada dos móveis e convidados. “As nossas roupas, nossas cortinas, as cadeiras, os panos da estante... tudo fica só poeira. Não se pode dar conta disso tudo.” Com os tecidos espalhados pelo chão do pátio esperando uma nova lavagem, a senhora diz que o problema não se restringe a alguns objetos. Nas paredes verdes, manchas de poeira. “Já tô com dor na vista de tanta poeira. Não se pode estar com criança no pátio porque elas adoecem”, diz Maria.

(Cíntia Magno)