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Área de Direitos Humanos ainda possui desafios

A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) completou, no mês passado, 38 anos de lutas em defesa dos direitos humanos na Amazônia. Fundada em agosto de 1977 na igreja de Santa Terezinha, no bairro do Jurunas, em plena Ditadura Militar, a e

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A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) completou, no mês passado, 38 anos de lutas em defesa dos direitos humanos na Amazônia. Fundada em agosto de 1977 na igreja de Santa Terezinha, no bairro do Jurunas, em plena Ditadura Militar, a entidade teve como idealizadores lavradores, profissionais, funcionários públicos, estudantes, religiosos e operários, que ousaram criar uma organização não governamental nos chamados “anos de chumbo”.

A meta era resistir à violência e ao autoritarismo do regime, além de defender os direitos dos trabalhadores do campo e da cidade.Os tempos mudaram e as bandeiras de luta também. A redemocratização do Brasil veio e com ela novos desafios. O jornalista Paulo Roberto Ferreira, 40 anos de profissão, foi um dos fundadores da entidade e um dos principais articuladores e fundadores do jornal “Resistência”, que, durante alguns anos, serviu como principal veículo alternativo de denúncia dos abusos da ditadura e das bandeiras da SDDH. Em entrevista exclusiva, Paulo Roberto relembra um pouco dessa história de lutas.

P: Qual sua história na SDDH? Como tudo começou?

R: Entrei na SDDH na primeira diretoria, que tinha como presidente o advogado Paulo Fontelles. Fiquei na segunda diretoria também, que tinha no comando Humberto Cunha. A sociedade foi criada em 1977 e nasceu da solidariedade de um grupo de pessoas para com trabalhadores rurais que estavam sendo pressionados e tendo suas terras espoliadas. Surgiram vários conflitos na época, como o da fazenda Capaz, em Paragominas, pertencente a um norte-americano. Oito trabalhadores rurais chegaram a ser presos e um dos advogados da causa foi o grande compositor Rui Barata. Em seguida, começou outro movimento para arrecadar dinheiro para as famílias desses presos que ficaram no município, juntando trabalhadores, igrejas, estudantes.

P: E a partir daí?

R: A sociedade foi se formatando, até que uma assembleia, em agosto de 1977, na igreja de Santa Teresinha, no Jurunas, fundou a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos para dar voz e vez aos marginalizados da sociedade, principalmente os que buscavam uma terra no campo e moradia na cidade. Vivíamos numa ditadura e não foi difícil reunir pessoas na defesa dos Direitos Humanos. A primeira sede da sociedade foi na igreja de Aparecida, na Pedreira, comandada pelo padre João Maria, que era um progressista.

P: Um dos instrumentos que marcaram a SDDH e fizeram história na luta pelos Direitos humanos na segunda metade da década de 1970 foi o jornal “Resistência”.

R: O jornal surgiu em fevereiro de 1978. Eram anos de chumbo. Na época, a própria imprensa se amordaçava. Não havia espaço para falar de Direitos Humanos nos jornais da época. Tínhamos de denunciar tudo aquilo. Tínhamos de resistir e a sociedade criou o jornal “Resistência”, cujo título foi sugerido pelo jornalista João Marques. O nosso lema era: resistir é o primeiro passo! O jornal não era neutro, tinha um lado e isso nunca foi escondido. Nossa bandeira era a luta contra os desmandos do regime militar.

P: Quem eram os jornalistas envolvidos no jornal “Resistência”?

R: O jornal era mensal e editado por Luís Maklouf Carvalho. Raimundo Jinkngs era o editor responsável. Eu era diretor, cuidava da infraestrutura e também fazia reportagens, além de trabalhar na Caixa Econômica Federal. Na verdade, todo mundo fazia um pouco de tudo. O jornal começou a incomodar e passou a ser espionado. Para despistar, cada edição era feita na casa de um companheiro. A gráfica que rodava o jornal era a Salesiana, que tinha como gerente o atual senador Paulo Rocha. Na quinta edição do “Resistência”, a Polícia Federal cercou a gráfica e apreendeu 4.500 exemplares. O Paulo também foi detido. Em seguida, eu, Fontelles, Maklouf e Sérgio Bastos fomos chamados a depor. Fontelles, Ecilda Veiga e Maklouf foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, já que a edição trazia depoimentos de Paulo, de Ecilda, de Humberto e de Isa, que revelavam como foram torturados dentro das dependências do Exército.

P: E então o jornal parou de circular...?

R: Sim, parou de rodar a partir dessa edição, a número cinco. Decidimos, então, que teríamos de formar um capital de giro para continuar. Fizemos algumas edições especiais e projetos para outras instituições. E conseguimos o apoio financeiro de uma entidade cristã que nos ajudou a rodar o jornal. Compramos algumas máquinas usadas do jornalista Carlos Roque e implantamos a nossa gráfica. Criamos uma empresa para tocar o jornal, já que a SDDH é uma entidade sem fins lucrativos. O “Resistência” voltou em 1979 e se tornou quinzenal. Juntamos uma boa equipe de profissionais.

P: E a censura?

R: Chegávamos a publicar fotos e reportagens censuradas em outros jornais, que o pessoal das outras redações nos mandava. Em 1982 a Polícia Federal invadiu nossa gráfica, para apreender a edição dedicada ao Movimento de Libertação dos Presos do Araguaia (MLPA). Fui levado para a sede da PF e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Depois disso, o jornal continuou funcionando até 1983. Com a anistia, a rearticulação dos partidos que estavam na clandestinidade e das entidades de trabalhadores, aliada à unidade criada em torno da SDDH, foi ganhando força.

P: Como foi o papel da imprensa nessa época?

R: Nessa primeira metade da década de 1980, a mídia também começava a perder um pouco do medo da Ditadura. Mas o “Resistência” cumpriu bem o seu papel. Hoje, o jornal possui uma edição on line no (http:// jornalresistenciaonline. blogspot. com. br/). Em 1980, fui demitido da Caixa sem justa causa, por causa da minha militância política no DCE da UFPA e voltei a trabalhar em jornal, já que minha carreira tinha começado no “Bandeira 3”.

P: Mas a SDDH continuou mantendo as bandeiras de luta do “Resistência”.

R: Sim. No início da década de 1980, passamos a lutar pela anistia geral e irrestrita dos presos pela ditadura e da construção de uma Constituinte para elaborar uma Constituição democrática e cidadã, além das lutas históricas pelos trabalhadores do campo e da cidade, que se mantêm até hoje. O País foi se redemocratizando e outras bandeiras de luta surgiram. A SDDH continua a desempenhar um papel fundamental, sobretudo no que se refere aos conflitos agroambientais, que é algo muito forte aqui no Pará.

P: Qual o grande desafio, hoje, dos Direitos Humanos?

R: Avalio que o grande desafio na área de Direitos Humanos, não apenas aqui no Pará, mas em todo o Brasil, é a violência que ocorre dentro dos presídios. Os casos proliferam pelo País. Do outro lado, temos o narcotráfico e a corrupção policial que promovem chacinas de dezenas de pessoas nas cidades. Em Belém, tivemos uma grande chacina, no final do ano passado, e que até agora não foi solucionada pela polícia, que, por outro lado, não consegue apurar esses crimes. A situação é ainda pior nas grandes regiões, como a Amazônia, em razão da sua extensão. Hoje, a sociedade integra programas importantes em parceria com o Poder Público, como o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte.

(Luiz Flávio / Diário do pará)

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