Estudantes acusam delegado por constrangimento

Duas estudantes procuraram o DIÁRIO, na tarde de ontem, para fazer uma denúncia. Elas contam que, após um desentendimento com uma colega de turma, o pai dessa colega, que é delegado de Polícia Civil, chegou ao estabelecimento de ensino e as teria constrangido publicamente. Elas registraram o caso na Divisão de Crimes Funcionais (Decrif), da Corregedoria da Polícia Civil.

Brenda Queiroz Pereira e Rina Conceição Cotta Cohen cursam o oitavo semestre de Direito em uma faculdade particular, no bairro de Batista Campos, em Belém. Na última quarta-feira (26), Brenda conta que Jéssica Gomes Alcântara, sua colega de turma, mandou mensagem instantânea por celular dizendo que tinha “pena dos pais que não lhes deram a devida educação”. “Ela disse isso para mim e para a Rina. E eu falei: ‘Tenho pena do seu pai, que não lhe deu vergonha na cara’. Jéssica então escreveu: ‘Primeiro procure saber quem é meu pai para poder falar alguma coisa”.

No dia seguinte (27), Brenda afirma que Jéssica interrompeu uma aula de Direito Administrativo, na faculdade, que tratava sobre servidores públicos, e comentou que “há políticos que roubam e não prestam as devidas contas para a sociedade”. “Nisso, ela olhou para mim e deu um sorrido irônico. Todos sabem que meu pai é político, e disse isso para me atingir. Me senti constrangida dentro da sala de aula”, informou a estudante, que é filha do vereador Ed Wellington de Almeida Pereira, do PMDB de Ananindeua.

Assim que a aula terminou, diz ainda Brenda, ela chamou Jéssica para uma conversa. Segundo ela, Jéssica disse que ia ao banheiro. Brenda e Rina foram atrás. “Eu disse: ‘Faça o que quiser comigo, mas não se meta na minha vida e não mexa com ninguém da minha família, principalmente com meu pai’, e saí do banheiro”. Há, segundo Brenda, uma testemunha que pode confirmar a sua versão. A estudante conta ainda que Jéssica começou a dizer que teria levado, de Rina, dois socos nos estômago e um empurrão de Brenda, que nega a acusação.

VIATURAS

Para atender a filha, o delegado Aldo Botelho, conforme afirma Brenda, levou à faculdade três viaturas policiais. “O delegado chegou dizendo que estava ali não como pai, mas como delegado, e que eu e Rina teríamos de acompanhá-lo”. Ocorre, que Aldo Botelho é delegado da Seccional da Cremação e a faculdade onde o caso aconteceu fica no Jurunas, portanto, fora da sua área de atuação. Rina conta que o delegado disse que Jéssica a estava acusando de lesão corporal e também de xingá-la de prostituta. Dentro do carro de Brenda, ela foi acompanhada por um homem que se identificou como investigador Monteiro. Ed Wellington de Almeida Pereira, também conhecido como Braga, vereador e pai de Brenda Pereira, disse que lamenta a situação e que o que aconteceu é fruto de perseguição. “Defendo a causa do PMDB e sou perseguido politicamente por isso. Mas confio que toda essa história será devidamente apurada e esclarecida”, informou o vereador.

O delegado Aldo Botelho foi procurado pela reportagem e informou que não submeteu Brenda e Rina a constrangimentos. Ele conta que elas foram levadas à presença dele, em uma sala de diretoria da faculdade, e que foram convidadas a acompanhá-lo. “Cheguei ao local não com três viaturas, mas com duas: uma da Polícia Civil e outra da Polícia Militar”, admitiu o delegado. “As universitárias foram conduzidas à presença do delegado Ivan Pinto, na Delegacia da Cremação, onde foi lavrado o Termo Circunstanciado de Ocorrência por lesão corporal, injúria e difamação”, confirmou Botelho.

(Diário do Pará)