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"O brasileiro espera que o governo resolva tudo"

Os brasileiros têm uma imagem extremamente negativa sobre os políticos, mas seguem afirmando que os governos devem resolver todos os problemas do País. Esse paradoxo do pensamento nacional é o alvo principal do livro “Pare de acreditar no Governo”, public

Os brasileiros têm uma imagem extremamente negativa sobre os políticos, mas seguem afirmando que os governos devem resolver todos os problemas do País. Esse paradoxo do pensamento nacional é o alvo principal do livro “Pare de acreditar no Governo”, publicado pelo cientista político Bruno Garschagen, que esteve em Belém na semana passada. “Ao mesmo tempo em que não se confia nos políticos, há a ideia de que o Estado é formado por anjos!”, brinca ele, que concedeu entrevista exclusiva ao DIÁRIO.

Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa e Universidade de Oxford, professor de Teoria Política, tradutor, podcaster do Instituto Ludwig von Mises Brasil e membro do conselho editorial da Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia, Garschagen frequentemente cita alguns exemplos do que define como uma “excêntrica” forma de se pensar a política no Brasil.

Confira a entrevista:

P: O brasileiro reclama do Governo como se não fosse parte desse processo..

R: Meu livro é uma tentativa de explicar esse paradoxo: por que o brasileiro não confia nos políticos, mas ao mesmo tempo, ama o Estado, espera e pede que ele resolva tudo, todos os principais problemas sociais, políticos e econômicos? Faço uma narrativa da nossa história política, que começa com a chegada dos portugueses e pega todos os governos que passaram pelo Brasil, até a reeleição da atual presidente da República. As intervenções do Governo ao longo da história são baseadas em uma cultura política intervencionista que veio de Portugal e que depois cria uma mentalidade estatista. É a nossa preocupação excessiva com o Governo que não nos deixa sair dessa armadilha. Ao mesmo tempo em que não se confia nos políticos, há a ideia de que o Estado é formado por anjos! Esse é o paradoxo. É como se vivêssemos em dois planos de realidade. Faço um chamamento ao leitor para essa responsabilidade individual, para não esperar que o outro faça, nesse caso, o Governo. Se você conversa com qualquer pessoa, nem a informação mínima do que pode ser feito em alternativa ao Governo resolver existe. O debate público sempre foi pautado dessa forma. Um exemplo é o jornalismo: os comentaristas de Economia pouco falam de Economia. Falam do Governo. É sempre uma crítica política. E para o cidadão comum que não se interessa pelo tema, que vê TV, lê jornais, essa é a única narrativa que existe. Mas, nos últimos anos esse debate público está mudando. As redes sociais têm cumprido um papel fundamental nisso.

P: Grande parte do público se volta sempre ao Poder Executivo ao mesmo tempo em que parece se fechar para o Poder Legislativo...

R: São dois pontos muito interessantes aí. Um é que esses políticos que estão no poder hoje são frutos de uma mentalidade intervencionista...

P: E que não estão no poder há pouco tempo...

R: E na próxima eleição continuarão tendo a mesma mentalidade, porque são frutos dessa cultura. No fundo, não adianta mudar os políticos que estão lá se vamos eleger outros com a mesma cabeça. O que precisa é uma mudança cultural na sociedade. O outro problema é o foco excessivo na questão do direito, mas não na responsabilidade e na fiscalização. O direito de votar está na legislação. Contudo o voto é muito mais fruto de uma cultura política de participação, porque é importante votar, do que o sentido do dever. O direito ao voto tem que partir de uma vontade de participar positivamente do processo político. Se esse comportamento não for fundamentado em uma ideia de dever e responsabilidade, a ideia de direito se perde. E o debate público é muito orientado nesse sentido. Ninguém fala de responsabilidade. E a preocupação deve não ser só diante da conduta individual, mas da influência em relação aos demais. É impossível construir uma comunidade saudável e próspera sem isso. Veja os programas sociais que são necessários em muitos lugares, como cidades do interior onde não há empresas, empregos e geração de renda. É muito cruel ter comunidades presas nisso: é o Governo ou é o Governo! Não tem outra cultura. O Governo Federal tem um poder desmedido no Brasil e o Congresso se comportou por muito tempo como referendador de decisões do Executivo. E o eleitor fica sem ter como se referenciar. Com a atual presidência da Câmara Federal, com o Eduardo Cunha (PMDB-RJ), as pessoas começaram a prestar atenção no que está havendo. Isso é bom para a sociedade. Essa noção de que o Congresso possui uma importância e tem que ter uma participação ativa na política. E o que o Governo faz? Consegue programas sociais, entretanto ao mesmo tempo atrapalha a iniciativa privada com carga tributária, burocracia. O Governo não produz nada. Ele pega em tributos as riquezas que a sociedade produz. E quanto menos a sociedade produz quando é atrapalhada pelo Governo, menos dinheiro o Governo vai ter para ajudar as pessoas. É um círculo vicioso. Todo mundo no poder hoje tem a mentalidade que o Estado é o motor do desenvolvimento social, político e econômico. É a armadilha do qual ainda não nos livramos.

P: Sobre as manifestações de 2013 e as de 2015, contra o Governo Federal: as pessoas só se manifestam quando a bomba estoura?

R: Dentro de uma cultura onde não há participação política, é natural que manifestações só ocorram em períodos mais críticos. Resolver não vai. Vão tomar medidas paliativas. As manifestações de 2013 tinham um caráter interessante: começaram com uma pauta específica, a redução do preço da passagem. E foram em cima do Executivo Estadual, para que a situação fosse resolvida de cima para baixo. numa decisão autoritária. Isso é um problema sério. A briga era por transporte de qualidade e mais barato. Em nenhum momento sobre o modelo de concessão de monopólio. Não tem concorrência e nem economia de mercado. E só se consegue produto de qualidade com menor preço se houver várias empresas concorrendo pelo consumidor. Voltamos para a história da dupla realidade. A sociedade brasileira estava tão chateada que foi às ruas para tentar participar e contribuir de forma legítima para um momento histórico. Ótimo. Isso tem que ser feito, mas não só em momentos de crise. As manifestações de 2015 eram uma outra agenda, por menor intervenção do Governo. Estamos vivendo um período de transição importante no país , que é a percepção dessa armadilha, e a sociedade sabendo que pode pedir para que o Governo não atrapalhe. A médio e longo prazo teremos muitos bons frutos desse trabalho de agora.

P: As redes sociais ajudaram o cidadão a tomar mais essas questões para si como sua...

R: Não vejo o ativismo de Facebook como algo ruim. É um grande portal de comunicação da sociedade brasileira: estão lá todas as classes sociais e todas as idades, formações escolares. Essa coisa de compartilhar denúncias de corrupção, o que acontece no Governo, bom, agora as pessoas têm acesso a isso! Sabem o que está acontecendo! E quando você tem bom conteúdo sendo compartilhado, as pessoas prestam atenção. Nossa participação política começa a acontecer graças às redes sociais. Agora não é mais possível alegar que não se sabe o que está acontecendo.

(Diário do Pará)

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