Com humor, grupo critica concurso da prefeitura

Nas comemorações pelos 400 anos de Belém, a serem festejados em 2016, a prefeitura de Belém lançou um concurso para escolher uma marca comemorativa ao aniversário da capital paraense.

Conforme o edital, a seleção era aberta para qualquer pessoa. Bastava só “gostar de criação gráfica e conseguir expressar o amor pela cidade, dando ênfase às nossas características culturais”, como explicou Márcia Ledo, diretora do Núcleo de Publicidade da prefeitura, no lançamento do concurso.

Isso bastou para motivar a criação do grupo “Belém – 400 Logos”, que em apenas três dias já conquistou mais de 1.200 membros no Facebook. “Se esse concurso está zoando com a profissão dos designers, vamos zoar o concurso", diverte-se o publicitário Raffael Regis, criador do espaço virtual. Veja imagens na galeria.

A designer Fernanda Martins classificou o edital que vai escolher a marca comemorativa como “ingênuo”. De acordo com ela, vários critérios não foram respeitados no concurso, segundo as regras internacionais para prêmios e concursos da Associação dos Designers Gráficos.

“O edital diz, por exemplo, que a criação de uma identidade é subjetiva, e não oferece informações suficientes para que uma identidade adequada seja desenvolvida com o os objetivos de comunicação ou mesmo os tipos de suportes que serão utilizados”.

O ex-prefeito Duciomar Costa foi lembrado nos trabalhos "zoeira" dos 400 anos de Belém (Foto: reprodução/Facebook)

O fato de o concurso ser aberto ao público, também é motivo de crítica entre os profissionais. “A marca comemorativa dos 400 anos da cidade de Belém poderá ser confeccionada por qualquer pessoa. Isso desqualifica o profissional do design, é uma postura errada. Não se convida assistentes de enfermagem para um concurso de engenharia. Não deveria acontecer isso num concurso de design”, ressalta. “É como fazer um concurso para uma ponte ou prédio e abrir a todos os cidadãos brasileiros. É uma profissão técnica especializada”, acrescenta a Fernanda.

Outra crítica do grupo é em relação à mecânica da seleção. “O concurso convida várias pessoas a trabalharem gratuitamente a fim de conseguir uma premiação, uma quantia em dinheiro. Isso é errado. Esse tipo de trabalho deve ser feito com contratação e análise de portfólio. É um trabalho artístico, e deveria ser levado mais a sério”.

A votação pela internet também não foi bem vista pelos profissionais. “Isso nunca vai significar que a marca vencedora será a melhor, apenas a que levará mais votos. votação pela internet é influência e não busca pela qualidade”, diz Raffael. Para Fernanda, é “meio BBB. Quem tiver mais amigos ganha”.

Ela lembra que no aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro foi realizado um concurso em que participaram designers selecionados por portfólio, que receberam para criar.

A Doca e Hélio Gueiros também foram lembrados (Foto: reprodução/Facebook)

A ZOEIRA

Até a noite desta quinta-feira (2), mais de 140 trabalhos haviam sido recebidos no grupo. A maioria brincava com elementos e personagens típicos da cidade. De Fafá de Belém ao delegado e deputado Eder Mauro. Do BRT ao Ver-o-Peso, estão todos lá.

“As publicações são muito engraçadas e as defesas mais ainda. Então se torna uma página de conteúdo divertido que tem muito a ver com a forma que enxergamos Pará, pois acredito que o paraense seja naturalmente otimista”, diz Raffael.

Os trabalhos deverão ser expostos como um manifesto bem humorado. “Estamos pensando agora em abrir uma conta no Instagram para aumentar nosso público”, antecipa o publicitário.

Hoje, a prefeitura anunciou a suspensão da votação popular das marcas. Será já uma consequência do grupo? “Não, de forma alguma. Nós não somos organizados a esse ponto. No momento somos apenas um grupo de pessoas nos divertindo com piadas visuais e muito simbolismo paraense”.

Os atributos de Fafá na marca dos 400 anos de Belém (Foto: reprodução/Facebook)

(Antonio Santos/DOL)