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Artista faz performance sobre conflitos agrários

Ele já amarrou diversas galinhas ao corpo, utilizando as aves para filosofar sobre questões existenciais. Sempre “na beira da crueldade sagaz que permeia a sensibilidade selvagem, num processo de desestabilização do próprio cotidiano através de composiçõe

Ele já amarrou diversas galinhas ao corpo, utilizando as aves para filosofar sobre questões existenciais. Sempre “na beira da crueldade sagaz que permeia a sensibilidade selvagem, num processo de desestabilização do próprio cotidiano através de composições (ou decomposições)”, como autodefine seus trabalhos, agora o performer Victor de La Rocque apresentará sua nova obra de 11 a 14 de junho na Defibrillator Gallery, uma galeria de arte referência em performance nos Estados Unidos, durante o evento “Rapid Pulse 2015”, em Chicago. Ele apresentará a performance “The Amazônia is Not Here: 645 Bullets”, na qual chama a atenção para questões políticas relacionadas ao corpo e aos conflitos agrários no interior do Pará envolvendo índios, fazendeiros e pessoas de diferentes regiões do Brasil que estão à procura de terras, seja para sua subsistência ou para domínio econômico.

Para o desenvolvimento desta temática, Victor fez uma pesquisa junto à Pastoral da Terra, buscando dados sobre as mortes causadas por conflitos agrários (ele descobriu que de 1985 a 2013, 645 pessoas morreram no Pará por este motivo). “Em todo o processo tenho me perguntado por que preciso estar longe para falar desse lugar que faz parte de mim? Não seria também contraditório, apenas agora, que me vejo distante geograficamente, querer falar dos conflitos que o interior do meu estado sempre sofreu e de fato nunca participei ativamente pensando e discutindo tais questões com o meu trabalho? Isso é uma coisa forte que está batendo em mim”, admite o artista.

Victor mora atualmente no Rio Grande do Sul e faz ponte aérea com a capital federal para concluir seu mestrado na Universidade de Brasília (UNB). Ele afirma que, com o trabalho, quer compartilhar a experiência de olhar para as necessidades e desejos do outro. “Talvez seja aí que se localize o sentido político deste trabalho, a performance que ocorrerá em Chicago é apenas uma das etapas”, anuncia.

Do Brasil, participarão apenas Victor, que é paraense, e Bernardo Stumpf, do Rio de Janeiro. Porém, a mostra compõe um panorama mundial do que se tem produzido em performance arte no mundo, com artistas da China, Paquistão, Nigéria, Irã, Inglaterra e outros. Durante a performance, Victor estará com uma proteção mínima em seu corpo e o público poderá, por 20 dólares, atirar nele com uma arma de paintball contendo tinta vermelha. Serão disponibilizadas exatamente 645 balas, referência ao número de mortes apontadas em sua pesquisa. “Eu me machucarei, serei agredido com balas, e com isso um dinheiro será arrecadado, expondo claramente essa relação perversa do capital, mesmo que eu esteja totalmente inserido e saiba jogar muito bem as cartas desse jogo”, descreve.

A segunda etapa do processo será usar o dinheiro arrecadado para ajudar nas necessidades das pessoas que sofrem na pele tais prejuízos de violência agrária no interior no estado do Pará. “Nesta etapa, meu desejo não é apenas enviar esse dinheiro, pois daí não me interessaria. Assim a desculpa estaria formada para novamente me proteger no lugar de conforto. Nesta segunda etapa da performance, desejo, sim, estar presente, mesmo que por um período curto, participando ativamente do processo junto com a comunidade a qual o trabalho oferecer apoio”, garante.

O artista entrou em contato, durante sua pesquisa, com os índios Kayapó e os Tembé e soube que estes precisavam de recursos para se equipar para defender com maior eficácia suas áreas, que deveriam ser protegidas pela Funai, mas vivem sofrendo ameaças de invasão por parte de garimpeiros e madeireiros.

A terceira etapa da performance, diz Victor, é bem mais ampla. “Não dependerá de mim, mas de como a vida transcorrerá o futuro das coisas a partir de uma pequena e ínfima proposição lançada”, projeta.

O paraense considera-se um artista multimídia que em suas obras enfatiza “a necessidade do desconfortável” como um instrumento para um diálogo entre o que deseja expor e o público. Assim, seus trabalhos também passam por filmes, fotografia, performance, artigos, receitas, arte de instalação, web arte e pequenos fragmentos. Seu trabalho tem sido apresentado em exposições e residência artística no Brasil, além de países como França, Suécia e México.

“Acredito que estar nesse evento em Chicago será um momento incrível, principalmente pela troca com os outros artistas. Além da performance, ocorrerão encontros entre eu e o público para falar do meu trabalho. Eu já dei uma olhada no de outros artistas que vão participar e logo senti uma afinidade maior com aqueles que são oriundos de países emergentes. Acho que isso é natural, pelas realidades e temáticas que nos são comuns”, acrescenta Victor.

(Diário do Pará)

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