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Pará segue líder da violência no campo

Dez anos depois do bárbaro assassinato da missionária Dorothy Stang, no município de Anapu, oeste do Pará, o Estado ainda aparece com destaque no mapa dos conflitos pela posse da terra. Há quase três décadas ostenta o título vergonhoso de campeão de morte

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Dez anos depois do bárbaro assassinato da missionária Dorothy Stang, no município de Anapu, oeste do Pará, o Estado ainda aparece com destaque no mapa dos conflitos pela posse da terra. Há quase três décadas ostenta o título vergonhoso de campeão de mortes no campo, e nesta semana voltou às manchetes nacionais após a chacina de uma família de seis colonos na região de Conceição do Araguaia. “Infelizmente as mortes continuam a ocorrer e a impunidade persiste. Muitos casos não são julgados. Falta vontade política para fazer a reforma agrária e para fazer Justiça”, diz o coordenador estadual da Comissão Pastoral (CPT), padre Paulo Joanil da Silva.

Os corpos das vítimas da violência no campo foram encontrados na última terça-feira. Eles viviam em uma área de assentamento, onde estão outras 15 famílias, mas os lotes ainda não estão titulados. “A CPT está prestando apoio às famílias porque o clima é de temor”, diz o coordenador da CPT.

Washington da Silva, de 40 anos, Leidiane Soares, de 30 anos, os três filhos e um sobrinho, com idades de 11, 12, e 14 anos, foram mortos a golpes de facadas e tiros. Os corpos estavam à margem do rio e, desde então, famílias que viviam no assentamento abandonaram a área.

Os crimes da semana passada engrossam uma estatística que há muito envergonha o Pará. Aqui ocorrem quatro de cada dez crimes ligados à questão agrária no país. Levantamento divulgado pela CPT revela que entre 1985 e 2013, foram registrados 645 casos, número cinco vezes maior que o registrado pelo Maranhão, o segundo colocado nesse triste ranking. No estado vizinho foram 138 as mortes no mesmo período.

Entidades de defesa dos direitos humanos são unânimes ao afirmar que após a morte da missionária, houve uma redução da violência em relação aos anos anteriores graças à repercussão do caso. Mesmo assim, os conflitos não foram totalmente pacificados e o Pará continua sendo palco de mortes pela disputa de terras. Hoje, segundo a CPT, há pelo menos 20 pessoas sob ameaças de morte. São trabalhadores rurais e líderes sindicais e religiosos. “E a maioria não registra o boletim e ocorrência das ameaças, então esse número é subestimado”, diz o coordenador da CPT no Pará. Como mostrou o caso Dorothy, as ameaças não são simples blefes e podem se tornar verdadeiras sentenças de morte.

A Ouvidoria Agrária Nacional contabiliza o registro de 167 casos de assassinatos de 2005 - ano da morte da missionária - até 2013. Nem todos ganharam repercussão nacional, mas todos mancham igualmente com sangue o histórico do Pará nas áreas da segurança e da defesa dos direitos humanos.

Em 2013, por exemplo, segundo a CPT, 8.836 famílias foram afetadas diretamente pela violência no campo no Pará - de casas destruídas (477) e roças queimadas (264) a vítimas de atentados promovidos por pistoleiros (2.904). Em 2011, a violência no campo no Estado voltou a ganhar as manchetes nacionais e internacionais com a execução do casal de ambientalistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Eles eram líderes em uma comunidade extrativistas e foram mortos a tiros em uma tocaia no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, a 50 quilômetros de Nova Ipixuna, no Pará.

DEZ ANOS DEPOIS

Missionária da Congregação Notre Dame, Dortothy Stang era professora e se tornou uma das grandes lideranças de defesa do desenvolvimento sustentável na região de Anapu, município próximo a Altamira, no oeste do Estado. Em duas décadas de atuação na região, fez inimigos e recebeu centenas de ameaças de morte. “As ameaças eram frequentes, mas jamais imaginávamos que seriam capazes de cumpri-las. Ela era uma mulher, religiosa, professora. Todos sabiam que um crime contra ela teria grande repercussão, mas nem isso os impediu”, diz o procurador da República Felício Pontes Junior, que, durante a atuação na região, acabou se tornando amigo da missionária.

Apesar do luto nas manifestações pelos dez anos da morte de Dorothy, o procurador diz que há um clima de otimismo entre os pequenos produtores da região. Alvo da cobiça de grileiros e palco do assassinato da freira, o Plano de Desenvolvimento Social (PDS) Esperança abriga hoje mais de 261 que vivem do plantio consorciado com a extração de madeira manejada.

“Nossa preocupação era que a morte da irmã não fosse em vão e hoje temos a certeza de que não foi. A vida dessas famílias melhorou. Elas estão mostrando que a agricultura com preservação é muito mais rentável que a agropecuária e a exploração madeireira desenfreadas”, diz Felício Pontes, alertando, contudo, que a região ainda necessita de atenção constante das autoridades. As terras em Anapu continuam sendo alvo de disputas, tanto que há necessidade de vigilância constante e guaritas nas estradas.

(Diário do Pará)

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