Moradores da ocupação dizem não ter para onde ir

A ação de reintegração de posse continuou ontem à tarde na ocupação Nova Canaã. Cerca de trinta caminhões faziam o transporte da madeira que restou dos imóveis destruídos, além de eletrodomésticos e da mobília restante.

A previsão é de que a ação seja concluída em sete dias. As casas, predominantemente de madeira, eram demolidas uma por uma. “Meu irmão investiu toda a indenização dele aqui,que foi de R$ 14 mil. Como eu trabalho em construção civil, ajudei sem cobrar nada, imagina se ele tivesse feito com outras pessoas?Agora, da mesma forma que ajudei a construir, estou ajudando a destruir”, contou Gegilson Silva.

Gisele da Silva, que morava com o marido e a filha de três meses de idade, contou que não tem para onde ir agora. “Morava com meu pai e, depois que ele faleceu, passei a viver com meu marido e tivemos uma filha. Depois de morar de aluguel, acreditamos nesse lugar como opção de vida. Então, toda a renda dos bicos que ele fazia era para cá”, lamentou.

Ao lembrar dos momentos diferentes da vida do filho: a construção da casa do filho e a desocupação, o pedreiro Miguel Santos da Silva esboça um sorriso. “Confio em Jesus Cristo que é o rei dos reis, não nos homens ditos da lei. É nisso que eu acredito, por isso estou confiante de que meu filho terá uma vida melhor depois disso”.

TRANSPORTE

Por volta das 17h, foi encerrado o serviço de transporte dos bens materiais dos moradores. Isso deixou muitos deles revoltados. José Rodolfo, que morava com uma mulher e uma filha pequena, disse que não sabia o que fazer com os eletrodomésticos que ficaram no meio dos escombros. “Não tem como deixar as minhas coisas aqui, no meio do nada, pois podem levar”, disse.

Silvia Moreira também ficou sem o serviço de transporte. “Estava no sol o dia todo. Estou cansada. Vi derrubarem minha casa e agora estou vigiando para que as minhas coisas não sejam levadas porque não tem mais caminhão para levar as coisas. A gente morava aqui porque precisava. A moradia é um direito do cidadão que não é cumprido. Agora cadê o governador que passou por aqui pedindo voto?”, questionou.

Oficiais de Justiça estiveram ontem no local para observar o cumprimento da ação. Moradores de uma terceira área de um dos terrenos querem entrar com uma ação no Ministério Público para impedir que esta parte seja reintegrada.

“Nós entramos em contato com uma advogada, que nos orientou a não sair daqui porque eles não apresentaram nenhum documento para essa área, ou seja, não foi mostrado nenhum mandado de despejo pra nós. Quando perguntamos aos oficiais de justiça onde estava esse documento, eles só apresentaram das duas outras áreas que já foram desocupadas, mas para essa, não”, argumentou a moradora Natália Martineli.

“Ontem (anteontem) jogaram spray de pimenta no meu filho que só tem dois anos de idade. Isso é covardia e não deveria ter chegado a esse ponto se eles tivessem reunido os moradores para conversar e esclarecer a situação para que desse tempo de as pessoas saírem”, disse Suelem Oliveira.

A ação de reintegração começou na madrugada de ontem, com conflito entre policiais e moradores. Dois ônibus foram incendiados em protesto. Segundo a assessoria da Polícia Militar, 300 homens fazem a segurança do local. As guarnições devem permanecer no local até a total reintegração, que não tem previsão para ser finalizada.

(Diário do Pará)