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Assim Jatene e Zenaldo tratam a saúde

Fixado de forma improvisada na grade que cerra a entrada da Unidade Municipal de Saúde da Tavares Bastos, a informação anunciada pela folha de caderno escrita à mão é como um golpe certeiro que elimina qualquer expectativa. Silenciando logo na chegada

Fixado de forma improvisada na grade que cerra a entrada da Unidade Municipal de Saúde da Tavares Bastos, a informação anunciada pela folha de caderno escrita à mão é como um golpe certeiro que elimina qualquer expectativa. Silenciando logo na chegada quem saiu de casa ainda de madrugada, não é preciso muito cálculo para perceber que a quantidade de gente que já aguarda por uma chance de se consultar é muito maior que o número de vagas disponibilizadas. “Só teremos 15 fichas para clínico geral”.

Cenário revisitado a cada dia ao longo de todo o ano, a presença de dezenas de pessoas na entrada do posto de atendimento médico ainda por volta das 5h não é novidade para quem depende do serviço público de saúde na gestão de Zenaldo. Tão comum quanto a necessidade de fazer do chão a dormida é a constatação de que, por mais cedo que se saia de casa, a certeza de conseguir uma consulta médica é ditada exclusivamente pela sorte.

“Já é a segunda semana que eu tento marcar com o clínico geral. A gente vem às 3h para cá para conseguir marcar uma consulta e muitas vezes quando chega aqui já não consegue mais. Tem que vir mais cedo”, reclama já sem esperanças a dona de casa Márcia da Silva. “Toda vez é isso. Só distribuem 15 fichas, sendo que só aqui já tem o dobro de gente esperando. Já que eu já tô aqui, só o que eu posso fazer é arriscar e esperar”.

Para que estivesse no local na madrugada de ontem, Márcia da Silva teve que enfrentar muito mais do que a escuridão. Moradora do bairro da Marambaia, a saída de casa por volta das 2h30 não recebe qualquer auxílio na locomoção senão os próprios pés. “Eu tenho que vir andando dali de dentro porque não tem como pegar ônibus nesse horário. Tem senhoras que já foram assaltadas ali quando estavam vindo para cá. A gente corre perigo”.

O perigo enfrentado constantemente pela também dona de casa Odilene Lima é o de ficar sem o medicamento necessário. Pela segunda vez na unidade de saúde em apenas dois dias, todo o esforço praticado pela mulher doente se destina à necessidade básica de dar continuidade ao tratamento de saúde. “Eu tomo medicamento controlado e ontem eu vim para cá às 2h30, esperei e disseram que eu tinha que voltar hoje de novo”, explica, desconhecendo qualquer explicação para a não entrega do remédio no dia anterior. “Tenho uma criança de cinco anos em casa que não tenho com quem deixar para vir para cá de madrugada. Só falta um comprimido para acabar o meu remédio e eu não consigo pegar mais. O tempo todo é isso aqui assim”.

Já denunciado em outras épocas do ano pelo DIÁRIO, o sofrimento de quem precisa dormir no chão na esperança de conseguir uma ficha também não é novidade para a operadora de caixa Maria do Livramento. Com os exames do pai de 60 anos em mãos há alguns meses, a mulher segue sem conseguir mostrá-los ao médico. “Ontem eu vim às 8h30 e disseram que não deu para encaixar. Disseram que só tem vaga para fevereiro”, indignava-se. “Eu vou ter que dar um jeito porque não tem condições de ele esperar até janeiro, por isso vim hoje de madrugada para arriscar. É muito difícil o que a gente tem que enfrentar”, desabafou.

Na Pedreira: “Pobre só vive de teimoso mesmo”

Realidade não apenas na unidade administrada pelo município de Belém, a calçada em frente à Unidade Básica de Saúde da Pedreira é a prova de que o descaso também se estende pela administração do governo Jatene. Com um mal estar ainda desconhecido, a doméstica Sandra Maria, 57 anos, apoiava o corpo em um caixote de madeira desde a meia-noite de ontem, na entrada do posto de saúde, na tentativa de conseguir uma ficha. “Eu queria pegar uma senha pra clínico geral, mas não consigo. Eu tô sentindo uns formigamentos nos braços, nas pernas e eu tinha que falar primeiro com o clínico para ver se ele me encaminha para um cardiologista”, diz. “Uma vez eu vim às 5h e não consegui ficha, então vim mais cedo. Fazer o que, né? Tem muito tempo mesmo que isso é assim”.

Espantada pelo rápido apagão que se estendeu por um quarteirão inteiro da avenida Pedro Miranda enquanto aguardava na entrada da unidade de saúde, a dona de casa Aldenora da Silva, 56 anos, já nem recorda mais quantas vezes precisou repetir o mesmo ritual para ter acesso à saúde. “Eu tô tentando entregar o resultado de um exame e toda vez é isso. Para marcar a consulta, tem que vir nesse horário, para entregar o exame também...”, pontua. “Aqui só abre às 6h, mas eu já vim aqui às 6h e não consegui. Então, o jeito é vir de madrugada, mesmo com essa insegurança. Pobre só vive de teimoso mesmo, porque, se dependesse desse atendimento...”.

Diante da quantidade ainda maior de pessoas aguardando a abertura dos portões do Centro de Saúde Escola do Marco, unidade localizada na antiga avenida 25 de Setembro e que é administrada pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), a técnica de enfermagem Fabíola Fernandes já não esboça qualquer sinal de surpresa. Acostumada a acompanhar os pacientes que cuida durante as consultas médicas, ela não precisa pensar muito para lembrar que são muitos os locais que apresentam a mesma situação. “A gente já está acostumada até. Isso não é só aqui no Marco. Tem no Satélite, no Hospital das Clínicas... é geral”, garante. “Não importa se está de madrugada, é sempre assim essa fila, grande”.

Preocupada em retirar a tia cadeirante do carro para que consiga atendimento na unidade de saúde, a auxiliar administrativa Kelly Soares observa o que também é percebido em muitos postos de saúde. Durante as filas formadas na madrugada, as prioridades ficam esquecidas. “Deveria ser muito diferente isso aqui. Ontem eu vim pra pegar uma informação sobre uma consulta para ela e explicar que para a gente é complicado ficar se locomovendo com ela e ninguém dar nem atenção”, reclama. “É difícil. Nem prioridade a gente vê respeitarem”.

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(Diário do Pará)

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