Programa de Jatene confessa crime

É incrível, mas verdadeiro: o programa eleitoral do governador Simão Jatene admitiu, ontem, em rede estadual de televisão, que dois postos de gasolina pertencentes ao advogado Alberto Lima da Silva Jatene, que é filho do governador, são credenciados junto à empresa Equatorial, que administra o cartão de crédito usado para abastecimento, de nome Petrocard, que fornece combustíveis ao governo do Estado. Ou seja: o programa admitiu que os postos de gasolina do filho do governador abastecem, sim, a frota de carros do governo estadual. O fato, que foi denunciado pelo DIÁRIO e pode configurar improbidade administrativa, já está sendo investigado pelo Ministério Público, que agora pode contar até com a confissão do crime: basta requisitar cópia do programa eleitoral de Jatene, exibido na noite de ontem.

No entanto, ainda mais inacreditável é que o programa eleitoral de Jatene tentou negar que o filho do governador seja dono de três postos de gasolina em Belém. Segundo o programa, “Beto Jatene”, como é mais conhecido, teria apenas arrendado esses três postos, inclusive os dois credenciados junto à rede de cartões Petrocard.

O problema é que essa afirmação não se sustenta, já que o DIÁRIO tem em mãos as certidões da Junta Comercial do Pará (Jucepa) que mostram claramente a transferência das quotas desses três postos de gasolina para Beto Jatene e seus sócios, o que significa que ele é, sim, um dos donos dessas empresas. Mas, como o programa de Jatene exibiu rapidamente documentos que comprovariam o aluguel, é o caso de se perguntar: será que, além de improbidade administrativa (desvio de dinheiro público), será preciso investigar um possível crime de falsidade ideológica?

O primeiro posto adquirido por Beto Jatene foi o Verdão (CNPJ: 03.143.587/0001-86), na avenida Dr. Freitas, 1546, no bairro da Pedreira. Segundo a documentação da Jucepa, o Verdão foi comprado em junho de 2006, ainda no primeiro governo de Simão Jatene. A transferência de capital para Alberto e mais três sócios teria ficado em apenas R$ 25 mil, apesar de a receita líquida do Verdão ter alcançado, naquele mesmo ano, mais de R$ 7,9 milhões - diz o balanço patrimonial da empresa. Em abril de 2012, após várias alterações contratuais e já no segundo Governo Jatene, o Verdão passou a pertencer a apenas dois sócios: Beto Jatene e Eduardo Simões Araújo, um rapaz que tem o mesmíssimo nome de um assessor especial do governo do Estado. O capital social ficou assim dividido: R$ 16.668,00 para Eduardo Araújo; e R$ 8.332,00 para Beto Jatene. E isso apesar de o Verdão faturar por ano, segundo o Serasa, R$ 8,9 milhões.

O segundo posto foi o Umarizal (CNPJ: 14.082.648/0001-69), em março de 2007, três meses depois que o governador Simão Jatene deixou o governo. O posto fica em área nobre, na rua Jerônimo Pimentel, 651, no bairro do Umarizal, o metro quadrado mais caro de Belém. Mesmo assim, a transferência de quotas teria ficado em apenas R$ 80 mil, para três compradores: Eduardo Simões Araújo, que ficou com R$ 26.400,00; Beto Jatene, que levou R$ 26.800,00; e Ricardo Augusto Garcia de Souza, também com R$ 26.800,00. Detalhe: Ricardo é marido de Izabela Jatene de Souza, a outra filha do governador. Segundo o Serasa, o faturamento do Umarizal é de R$ 8,9 milhões anuais.

O terceiro posto foi o Girassol (CNPJ: 01.087.686/0001-62), na rodovia Augusto Montenegro, 1800, comprado em março de 2011, logo no começo do segundo Governo Jatene. A transferência de quotas para três sócios teria ficado em apenas R$ 50 mil, apesar de ele possuir um faturamento estimado em R$ 3,8 milhões anuais. Em 16 de novembro de 2012, segundo a Jucepa, o Girassol passou a pertencer apenas a Beto Jatene (com R$ 16.665,00 das quotas) e Eduardo Simões Araújo (R$ 33.335,00), já que o terceiro sócio, Nélio Pontes Murta Filho, deixou a sociedade.

Veja os documentos da Jucepa que comprovam a transferência das quotas desses postos de gasolina para Beto Jatene e seus sócios. E veja, também, certidões recentes da Jucepa mostrando que os postos continuavam a pertencer a eles, pelo menos até o mês passado.

FAMÍLIA PRÓSPERA

Desde o ano 2000 (pelo menos), Beto Jatene foi apenas assessor em órgãos públicos estaduais. Apesar de ser advogado (registro 11793), buscas nos sites do Tribunal de Justiça do Estado e do Tribunal Regional da Federal da 1ª Região não retornam qualquer processo em que tenha atuado. O pai dele, o governador Simão Jatene, cansou de dizer, em campanhas eleitorais, que teve até de tocar em bares para pagar os estudos. Além disso, Jatene sempre foi apenas funcionário público. Mesmo assim, além de sócio de três postos de gasolina, Beto foi, ou ainda é, sócio de pelo menos duas casas noturnas: os badalados bares Ventura. E só o apartamento que comprou, no 22º andar do luxuoso edifício Neon, vale
R$ 1,5 milhão.

O Neon fica na Dom Romualdo de Seixas, 1424, na esquina com a Antônio Barreto, no bairro do Umarizal. Cada apartamento lá (um por andar) tem 225 metros quadrados, sala para dois ambientes, sacadas, quatro suítes, três vagas de garagem, vista privilegiada da baía, dependências completas de empregada. O edifício tem piscina, gás central, sauna, sala de ginástica, salão de festas, entre outros equipamentos. No Neon também compraram apartamentos a irmã de Beto, a funcionária pública Izabela Jatene, e a mãe deles, a ex-mulher do governador, Heliana Lima da Silva Jatene, também funcionária pública.

(Diário do Pará)