Ministério Público demora para investigar ligação

Passada uma semana desde que o deputado estadual Edmilson Rodrigues (PSOL) protocolou pedido para que seja investigada a relação entre Izabela Jatene, filha do governador do Estado, Simão Jatene (PSDB), e o subsecretário do Fisco estadual, Nilo Noronha e o Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA) não fez absolutamente nada em relação ao caso, demonstrando mais uma vez que, quando se trata de denúncia que envolva o alto escalão do governo do Estado, o MP silencia e nada faz.

A denúncia foi protocolada no MP depois de revelado o diálogo entre Izabela e Noronha, em uma conversa em que ela pede a ele uma lista com as 300 maiores empresas em atuação no Estado para começar a “buscar esse dinheirinho deles” – na época, a polícia investigava uma quadrilha que havia sequestrado um empresário em Mãe do Rio, da qual o gerente da fazenda de Nilo Noronha fazia parte. Ao ligar para o chefe, acabou fazendo com que o telefone do subsecretário da Sefa também fosse grampeado.

Até ontem, de acordo com informações da assessoria de imprensa do MP-PA, nenhuma promotoria havia sido designada para pegar o caso. Depois que se elegeu, Jatene nomeou Izabela Jatene para coordenar o Pró-Paz. Professora universitária, Izabela mora num prédio de alto padrão, com um apartamento por andar, num dos bairros mais nobres de Belém, o Umarizal, avaliado em R$ 1,5 milhão. A gravação revelada pelo DIÁRIO mostra que Izabela tem livre trânsito junto a autoridades que têm acesso ao sigilo fiscal de grandes empresas no Pará.

Procurado pelo DIÁRIO, Rodrigues lamentou o fato de até o momento nenhum promotor ter sido designado. E como não houve sessão na Assembleia Legislativa, ele não pôde cobrar providências. Ele informou ainda que se reúne hoje com sua assessoria jurídica para estudar possibilidades de recorrer a instâncias superiores caso o Ministério Público continue postergando o início da investigação. “Não quero ser leviano. Sei que há dificuldades burocráticas para essa designação, mas não quero crer que a pressão política ou mesmo o carreirismo, o desejo de promotores de subirem de posição dentro do MP, algo que pode depender das indica ções de um chefe de estado, possam impedir que uma investigação de tamanha importância seja iniciada em tempo hábil. Eu fui um dos que foram contra a PEC 37, que tiraria o poder de investigação do Ministério Público justamente por acreditar na credibilidade dessa instituição”, analisa.

“Vou conversar com minha assessoria jurídica sobre a possibilidade de recorrer ao Conselho Nacional de Justiça ou mesmo ao Conselho Nacional do MP, mas espero que o MP-PA se manifeste ainda essa semana, designando um promotor e dando início às investigações”, afirmou.

SILÊNCIO SOBE GRAVAÇÃO PERMANECE

O requerimento apresentado na tribuna da Assembleia Legislativa no dia 23 e protocolado junto ao MP no mesmo dia foi motivado por denúncia feita pelo DIÁRIO na edição do dia 21 e menciona ainda outra denúncia feita pelo jornal, igualmente grave: a de que o Sistema de Segurança Pública do Estado do Pará teria ‘sumido’ com a gravação original para proteger Izabela - e vale lembrar que a Segup mantém total silêncio sobre o assunto.

Na mesma ocasião, o deputado estadual Carlos Bordalo também apresentou um requerimento sugerindo a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a possível existência de um tráfico de influências nos bastidores da administração estadual. O documento já conta com nove assinaturas - do próprio requerente e ainda dos parlamentares Waldir Ganzer (PT), Bernadete Ten Caten (PT), Nélio Aguiar (DEM), Chico da Pesca (PROS), Chicão (PMDB), Simone Morgado (PMDB), Nilma Lima (PMDB) e Edmilson Rodrigues (PSOL) -, e com mais seis o pedido pode ser protocolizado junto à presidência da AL.

(Diário do Pará)