Há dez dias, água virou item raro na Terra Firme

A aposentada Amélia Pinheiro, de 67 anos, é uma das moradoras da Rua São Cristóvão, no bairro da Terra Firme, em Belém, que precisa apanhar baldes de água em outros locais distantes de sua casa porque o serviço de abastecimento de água não está funcionando no bairro há pelo menos dez dias, segundo os moradores.

O mesmo gesto é repetido centenas de outras vezes no perímetro da Rua São Cristóvão entre as Passagens Nova e Ligação, no mesmo bairro. No último domingo, outra moradora da área Adelina Quaresma, de 71 anos, contou que recorreu à água da chuva para fazer as atividades domésticas. “Como choveu muito no domingo, o jeito foi aparar a água da chuva no balde para lavar a louça, pelo menos é mais limpa do que esta água que está saindo nas torneiras”, comentou.

Os moradores contam que nem da forma habitual, a água surge nas torneiras. Só com o auxílio de uma bomba elétrica, e quando sai, o líquido é sujo e podre. “Aqui é difícil um morador não usar uma bomba. Mas mesmo assim, é raro quando tem água. Quando tem está igual a uma lama e fede bastante, parece enxofre”, ressaltou outra moradora Edna Farias.

Nádia de Jesus Brito mora há 33 anos no local e disse que já estava acostumada a precariedade do serviço, mas agora, com a falta total da água, a situação ficou bem pior na própria casa. “Já estou há mais de uma semana sem lavar roupa, tomar banho deixou de ser uma necessidade para ser uma obrigação, porque a gente toma banho e fica com esse cheiro no corpo, sem contar os problemas de pele...”, contou.

A casa onde Nádia Brito mora abriga outros cinco adultos e ainda quatro crianças e o único local de onde a família retira a água é totalmente impróprio, cercado de águas impuras e da fossa. Apenas uma pequena parte da tubulação fica aparente, facilitando a contaminação por bactérias e fezes de todo tipo de animal. “É desse local que a gente adapta uma bomba para tirar a água, mas não está saindo nada”, disse. Depois de lavar roupas na casa do sogro, a irmã de Nádia percebeu que a água já estava pouca e suja. “É assim que a gente tem água em casa, quando surge”, disse.

Morador da Rua São Cristóvão há 30 anos, Antônio Almeida disse que além da falta d’água, a população padece sem saneamento básico. “A rua é toda esburacada e de piçarra, enquanto que as outras já estão com asfalto. Além dos bueiros destampados e das valas a céu aberto, as pessoas ainda têm que aguentar toda essa situação. Isso é falta de respeito e de compromisso. Agora em época de eleição, os políticos fazem as promessas, mas depois esquecem e nos abandonam completamente”, afirmou.

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(Diário do Pará)