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Moradores amargam longa espera por moradias

Na cama já castigada pelas inúmeras mudanças de endereço, Benedita Cardoso Progênito não dorme mais. Ainda que o sono a visite em cada uma das noites que sucedem a saída da casa própria, a incerteza pelo dia seguinte lhe deixa ligada até o amanhecer do di

Na cama já castigada pelas inúmeras mudanças de endereço, Benedita Cardoso Progênito não dorme mais. Ainda que o sono a visite em cada uma das noites que sucedem a saída da casa própria, a incerteza pelo dia seguinte lhe deixa ligada até o amanhecer do dia. A qualquer momento, é possível que a verdadeira dona da casa onde mora lhe venha retirar por mais uma vez. “Já são seis anos de aluguel e fico andando. Já mudei cinco vezes. Quando a gente acaba ajeitando a casa, pedem ela de volta”.

Tendo a vida construída com o sacrifício do trabalho em uma fábrica de beneficiamento de castanhas, os dias da aposentada de 77 anos nem sempre foram de dúvida. Sob as palafitas montadas à beira do rio, o endereço conquistado a passos lentos era certo na localidade famosa pelo nome de Vila da Barca. Não se nega, as condições de infraestrutura não eram as ideais, mas no barraco construído a prestações ao longo de 30 anos, a ordem final era da chefe da família. “Deram três dias pra gente sair que iam ajeitar tudo e dar uma casa pra gente”, recorda-se do momento em que a Prefeitura Municipal de Belém (PMB) retirou cerca de 230 famílias das casas para que desse continuidade à segunda fase do chamado programa ‘Palafita Zero’. “Disseram que um ano no máximo a gente tava na nossa casa. Já tem seis anos que a gente saiu de lá e as obras da segunda etapa tão até paradas. Eu acho que eu vou morrer e não vou ver minha casa”.

Planejado para acontecer gradativamente, a promessa era de que a vida dos que ali moravam melhorassem significativamente. Retirados das palafitas, o projeto Vila da Barca previa a pavimentação das vias de toda a área localizada no bairro do Telégrafo, construção de uma estação de tratamento de esgoto e de moradias populares. Mudança promovida, os moradores recebem auxílio aluguel para que tenham onde morar até que as casas populares sejam finalizadas.

Direito que não deixou de causar transtornos a quem saiu da casa própria. “O auxílio aluguel que a gente recebe é R$450, mas aqui o aluguel já tá R$500, fora a luz. Eu ainda tenho que integrar do meu ‘salarinho’”, considera Benedita Progênito. “O guarda-roupa e a cama vão se destruindo em mudança. O nosso quase nada foi tudo embora”.

Segunda etapa não saiu do papel

Integrada sobre tudo o que diz respeito ao projeto que interfere na rotina de todos no local, uma das coordenadoras da Associação de Moradores da Vila da Barca (AMVB), Sandra Contente, explica que da primeira etapa prevista pelo projeto, 130 casas já foram entregues, ficando ainda 78 por entregar. Mais complicada, a segunda etapa segue parada desde que a justiça investiga a aplicação dos recursos disponíveis para a execução das obras. Com isso, da segunda etapa, as 230 famílias retiradas de casa há aproximadamente seis anos não tem perspectiva de quando receberão a moradia prometida.

“As 230 casas da segunda etapa nem começaram a ser construídas. Esse projeto só veio trazer piora pra gente”, opina, ao alertar para o surgimento de novos problemas. “Retiraram todo mundo de suas casas e deixaram aí. Agora já tem gente construindo novas casas no mesmo local que foi desocupado. É gente de fora que tá vindo e isso vai gerar uma nova confusão aí pra retirar eles depois”.

Incluída na terceira etapa do projeto, Sandra teme pelos que ainda integram a fase anterior, muitos deles já idosos. “A terceira etapa é pra 458 casas que a Prefeitura diz que já tem recurso pra fazer e que já até saiu no Diário Oficial da União”, transmite. “Se correr tudo certinho mesmo, o pessoal da terceira fase vai mudar pras casas antes do pessoal da segunda fase porque tá toda parada na justiça com problema de verba. Agora imagina como vai ser? Como vão ficar essas pessoas da segunda etapa?”.

Franzina, a aposentada Raimunda Lobato espera como pode pela solução do impasse em que se transformou o projeto. Sem entender muito bem os trâmites que envolvem a promessa da troca de antiga casa na palafita por uma nova, a única certeza que ela tem é a de quer continuar com os pezinhos descalços fincados na Vila da Barca. “Tô esperando. Não dá nem pra ajeitar essas casas que a gente tá porque quando já tudo ajeitadinho eles vem e jogam nós pra outro lugar”, refere-se às casas alugadas. “Eu sei que eu gosto daqui. Não quero sair daqui não. Tô acostumada, aqui tudo é perto”.

Sem condições físicas de visitar o espaço onde ficava a casa própria, ela apenas imagina que algo ainda esteja de pé no local. Raimunda também integra a segunda fase do projeto é não sabe quando terá a situação definida. “Ficava lá na beira do rio mesmo. Eu fui juntando, juntando e consegui comprar essa casa. Ninguém acredita mas foi por 50 mil réis”, lembra. “Aí foram me ajudando a construir direito. Fiz o telhado, botei a madeira e quando ficou bem construída disseram que tinha que sair. Não é nada já são seis anos fora da minha casa”.

PREFEITURA

A reportagem entrou em contato via e-mail com a Coordenadoria de Comunicação Social (Comus), mas nenhuma resposta foi enviada até o fechamento desta edição. No entanto, em matéria enviada no dia 19 de agosto, a Comus afirma que o secretário municipal de Habitação, João Cláudio Klautau Guimarães, esteve reunido com representantes da AMVB naquela data. “Klautau informou que o edital de licitação para contratação da empresa que executará 78 unidades da segunda etapa do projeto foi publicado no último dia 12 [de agosto]” e que pelo menos 30 unidades devem ser entregues até o final deste ano, de acordo com a matéria.

(Diário do Pará)

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