Moradores convivem com a falta de saneamento

Despejado pelo encanamento direto das casas na rua, os rastros de esgoto a céu aberto acompanham do início ao fim as curvas da passagem Oliveira, no bairro do 40 Horas. Pequena parte do segundo maior município do Pará, o local é o reflexo da condição alarmante do saneamento que se repete ainda por muitas ruas e bairros. Em quatro anos, Ananindeua evoluiu 0,0% em tratamento de esgoto, como aponta o estudo publicado pelo Instituto Trata Brasil.

Moradora da passagem Oliveira há dois anos, a dona de casa Kátia Castro não acredita que falte recursos para a realização do serviço que é de responsabilidade do governo do Estado através da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa). “Dinheiro para ajeitar isso, tem. Não é possível que não tenha”, acredita. “O que sai da casa é jogado na rua mesmo, não tem jeito”.

Com todos os dejetos oriundos das casas sendo despejados na rua, a situação só piora quando chove. Sem asfalto ou qualquer serviço de drenagem, a rua alaga e oferece ainda mais riscos à saúde dos moradores. “Isso tinha que ser solucionado. Mais para baixo alaga e toda essa água de esgoto vai para dentro das casas. A gente sabe que isso traz doença”, preocupa-se. “É um absurdo que a gente tenha que viver assim”.

Com a casa de alvenaria em construção, a cozinheira Jane Oliveira bem que gostaria de atrelar a caixa de esgoto da residência à tubulação que deveria existir na rua. O serviço que é um dos mais básicos para a moradia digna, porém existe apenas em sonho.

DRAMA

“Vai tudo pra rua mesmo porque não tem tubulação nenhuma aí. Fica rato o tempo todo correndo aí e a gente não sabe nem o que faz com as crianças. Simplesmente não tem esgoto”, reclama, ao lembrar que o problema não se restringe apenas às condições de esgotamento sanitário. “Água aqui falta o tempo todo. Toda semana tem que faltar água”.

Realidade confirmada pela moradora, a precariedade do abastecimento de água tratada também é evidenciada pelo estudo baseado nos indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Com uma média geral de atendimento de água de 92,22% nos cem maiores municípios brasileiros, Ananindeua amarga a média de apenas 27,20%. É a cidade pior colocada no ranking nacional das grandes cidades.

Dependente da renda oriunda do pequeno restaurante montado na entrada da casa construída na Estrada do 40 Horas, a autônoma Raimunda Rodrigues garante que os problemas são os mesmos nas vias asfaltadas. Moradora do local há 20 anos, a senhora sobrevive diante do mau cheiro vindo do valão há bastante tempo. “Não tem esgoto e a água também é horrível”,
lamenta.

Completamente parada entre o asfalto e a calçada da casa de alvenaria construída com capricho, a água do esgoto exposto se acumula e já forma uma crosta de limo. Não é preciso muito para constatar os riscos oferecidos pela ausência de saneamento. “Estamos entregues aqui correndo risco de pegar doença. Isso é um absurdo!”, indigna-se.

Em nota, a Cosanpa informou “que os dados são referentes a 2012 e não refletem a atual situação do estado” e que, “com os investimentos de R$ 1 bi e R$ 150 mi que estão sendo feitos, a expectativa é de melhoras significativas até o fim de
2015”.

(Diário do Pará)