Ribeirinhos se reúnem para torcer pelo Brasil

O principal enfeite já foi providenciado pela natureza. Envoltos pelo verde natural das árvores, as cores da bandeira brasileira são completadas pelos raios cristalinos do sol e pelo cobertor azul e branco que emana do céu. Insuficientes quando se trata da torcida pelo título esperado desde 2010, as homenagens são complementadas pelos plásticos e papéis milimetricamente enfileirados à beira de cada casa levantada sobre o rio.

No primeiro pedaço de terra disponível depois da margem do rio, a bandeira brasileira é hasteada da maneira possível, ainda que versões menores já tremulem nas proas dos barcos que levam e trazem os moradores pelo Furo do Nazário, na Ilha das Onças, em Belém.

Em cada casa construída como palafita na beira das águas da Baía do Guajará, as famílias ribeirinhas mantêm viva a torcida pela seleção brasileira na Copa do Mundo, que este ano acontece tão perto. “O Brasil tem futebol, tem que jogar muito. Têm seleções que são fortes, mas o Brasil vai começar a aparecer mais agora”, profetiza o autônomo José Luiz, diante da ‘sacada’ enfeitada com a tradicional combinação do verde e amarelo. “O Brasil tem que trazer essa taça!”.

Contrariando a rotina, em dia de jogo da seleção, a organização da casa é alterada para receber a família e os amigos. Da sala, a televisão é acomodada no pátio e é ali mesmo, em meio à tranquilidade da floresta, que o grito de ‘gol’ ecoa forte. Com os parentes reunidos, a festa é garantida a cada vitória do Brasil. “Fica todo mundo aqui no pátio para assistir junto. Compramos os fogos e deixamos preparados para a hora do gol”, revela José, deixando clara a espera por uma goleada do Brasil no campeonato mundial. “Quando o Brasil ganha, a gente comemora até o próximo jogo”.

TORCER EM FAMÍLIA

A poucos metros de casa de José Luiz, já na outra margem do rio, a torcida pela seleção brasileira é estampada não apenas na casa do agente comunitário de saúde Márcio Santos, mas também na vestimenta de todos os membros da família. Com as datas dos jogos da primeira fase definidas previamente, a movimentação diferente nos dias de disputa começa muito cedo. “A gente faz pipoca para a molecada, come camarão com açaí... É um feriado pra gente”, define a dona de casa e esposa de Márcio, Cintia Brito. “Tem que usar a mesma camisa do Brasil em todos os jogos para dar sorte. Nada de comprar mais de uma camisa e usar uma diferente em cada jogo. Tem que ser a mesma”.

Ainda que o número de moradores da casa seja grande - nove - em dia de jogo o local chega a abrigar 20 pessoas da mesma família. Todos vestidos de verde e amarelo, é imprescindível que a torcida esteja unida do início ao fim da partida. “Só a família já enche a casa. Acho que ficam umas vinte pessoas aqui. O Brasil vai se classificar com certeza e cada jogo vai ser uma festa maior”, espera Márcio. “A reunião é em casa mesmo para comemorar. O clima já fica diferente em dia de jogo, dá um frio na barriga.”

BAR DA COPA NA ILHA

Morador da Ilha das Onças e representante da comunidade, Jonathan Tavares também faz questão de manter uma tradição. Sem que, para ele, a torcida possa ser realizada por poucas pessoas, as comemorações da vitória do Brasil nos jogos são realizadas sempre no mesmo lugar, o bar Encanto da Ilha. “Todo mundo se reúne lá. Não sei torcer só. Mora só eu e a minha esposa, então a gente sempre vai para esse bar, para torcer todo mundo junto”, revela. “Torcer com bastante gente é bem melhor. A gente se alegra junto, torce junto”.

Sem deixar de participar do tradicional bolão, a torcida é embalada por música, churrasco e pelos fogos providenciados com antecedência para o momento do gol.

Fã de futebol, Jonathan não nega a superstição realizada a cada jogo do Brasil na copa. “Tem que estar com a camisa do Brasil vestida e com outra camisa amarrada junto com a camisa do Paysandu para dar sorte”, acredita. “O Brasil não tem chance de perder essa Copa. Tem que ser campeão”.

Devidamente pintado de verde e amarelo, o bar chega a reunir 50 ribeirinhos moradores das proximidades para torcer pelo Brasil.

(Diário do Pará)