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Brasil pode conciliar Copa do Mundo com as escolas

A bola rola nos gramados brasileiros. É ano de Copa do Mundo sediada no país e algumas escolas já encerraram o calendário letivo na primeira quinzena de junho para poder adequar a agenda ao clima que mobiliza todo o Brasil frente ao campeonato de s

A bola rola nos gramados brasileiros. É ano de Copa do Mundo sediada no país e algumas escolas já encerraram o calendário letivo na primeira quinzena de junho para poder adequar a agenda ao clima que mobiliza todo o Brasil frente ao campeonato de seleções de futebol. Outras escolas, porém, ainda mantêm turmas até pelo menos esta próxima semana, com atividades intercaladas às suspensões de aulas pelos jogos. O Conselho Nacional de Educação deu às escolas autonomia para reorganizar seu ano letivo, embora se exigisse que as propostas de novo calendário fossem levadas à aprovação dos conselhos municipais de educação.

Mas, afinal, como fica o calendário das escolas e os rendimentos dos alunos com as paradas nas aulas em um ano tão atípico? Quais são as propostas pedagógicas para se aproveitar o evento esportivo a favor de mais conhecimento para os alunos? A Copa faz o rendimento do ano de 2014 ser pior que o de um ano normal? Como conquistar a atenção dos alunos para a sala de aula em um ano tão festivo?

O curioso é que, mesmo com o calendário atípico, a Copa do Mundo pode ser aproveitada muito positivamentre em sala de aula. É o que defende a pedagoga Edna Abreu Barreto, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutora em educação pela Universidade Federal Fluminense, ela lembra: a lei exige cumprimento de 200 dias letivos, com Copa ou não, e o segredo é integrar o frisson pelo campeonato a todos os assuntos possíveis relacionados às disciplinas em sala de aula. Confira entrevista cedida às repórteres Carolina Menezes e Wal Sarges:

P: De que forma o clima da Copa do Mundo pode ser aproveitado positivamente dentro da sala de aula?

R: Um evento desse porte que mobiliza não somente o local onde acontece, mas o país e o mundo inteiro, pode ser aproveitado de diversas maneiras na sala de aula, interdisciplinarmente falando. Podemos fazer uma abordagem histórica; podemos utilizar em geografia e dar foco para as cidades e regiões onde os jogos estão acontecendo, os países envolvidos; em ciências, podemos aproveitar informações sobre como foram construídos os estádios, como se pensou no gramado. Quer dizer, estamos pensando em coisas práticas que cabem dentro de um planejamento escolar, que deveria anteceder o evento em si para que entrasse para o calendário escolar de maneira positiva. As escolas podem pensar junto com o seu corpo de professores o que cada disciplina poderia abordar, de acordo com as habilidades cobradas de cada série, conforme a idade dos alunos. Na educação infantil, a gente pode brincar com as crianças de acordo com os jogos. No ensino fundamental, pode-se pensar no conteúdo a partir da Geografia, História, Ciências, Matemática. No Ensino Médio, o conteúdo pode ser aproveitado de forma mais profunda. Então, é possível aproveitar este tema, sim, desde que seja feito um planejamento prévio.

P: Em dias de jogos do Brasil, as aulas são suspensas. Algumas escolas até encerraram o semestre mais cedo. Como fica o rendimento dos alunos diante destas situações? A Copa atrapalha o calendário escolar?

R: Sobre isso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) fala que todo calendário escolar deve cumprir 200 dias de aula. Não tem Copa ou feriado que possa impedir que sejam cumpridos estes 200 dias letivos. Nas cidades subsedes dos jogos, existe a aplicação da Lei Geral da Copa [Lei nº 12663/12]. O Artigo 64 cita que as escolas deveriam suspender as aulas durante o mês da Copa – que é o mês das férias. Isto gerou uma certa confusão, um certo impasse. Foi questionado ao Conselho Nacional de Educação que se manifestasse em relação a este Artigo 64. E o conselho ressaltou que as escolas têm autonomia, mas recomendou que nas capitais onde houvesse jogos existisse uma adequação. Há escolas que terminaram as aulas dia 12 de junho e vão retornar dia 12 de julho, como sendo o mês de férias mesmo para garantir os 200 dias letivos. Ninguém pode deixar de cumprir isso.

P: Algumas escolas não pararam. Suspendem as aulas somente em dias de jogos do Brasil. Nesse caso, como é que se faz para prender a atenção dos alunos, já que estamos neste período tão festivo?

R: Eu acho que, se existiu uma proposta de incorporar o tema ao conteúdo das disciplinas, deve até ter se tornado fácil. Crianças só falam disso, elas assistem aos jogos. Eu tenho duas crianças, uma de 8 anos de idade e um de 5. Elas gritam “Neymar, Neymar”! Ou seja, conhecem os jogadores. Acho que é fácil vincular isso ao trabalho em sala de aula. Qual é a estratégia fundamental? É você fazer com que qualquer conteúdo abordado faça sentido aos alunos, principalmente as crianças. Fazer uma vinculação do conteúdo ao cotidiano é a maneira mais fácil de fazer o aluno aprender. Não somente a Copa, mas qualquer assunto do dia a dia deve ser vinculado à prática de ensino na sala de aula.

P: As escolas, em Belém, estão preparadas para fazer esta contextualização com a Copa?

R: Olha, não dá para comemorar os dados de aprendizagem no Estado. Não são dados muito animadores. Isto inclui uma série de fatores que não somente planejamento pedagógico, como também deve ser levada em consideração a falta de infraestrutura para as práticas de ensino, a relação da escola com a comunidade, as condições em que vivem as famílias e a formação continuada para os professores. Que dá para mudar essa realidade, dá, mas é preciso mudar algumas políticas que garantam novas práticas pedagógicas e também outro pontos. O que poderia ser pensado: em melhorias estruturais de toda essa rede [de ensino]. Nós temos dados de corrupção envolvendo desvio de verbas da educação, de professores que denunciam a falta de política de formação continuada. Sem isso não tem como você garantir projetos pedagógicos inovadores. Para mudar essa realidade, é preciso fazer mudanças na política e que elas sejam mais significativas.

P: O que seriam exatamente estas políticas de formação continuada?

R: Seriam as secretarias de educação pensarem em políticas de formação para que o planejamento escolar e pedagógico fosse feito de maneira adequada para que as avaliações de aprendizado dessem um resultado positivo, ou que os projetos pedagógicos das escolas fossem sistematicamente feitos e refeitos. É uma política de formação para os profissionais de educação que passam pelo menos quatro anos na faculdade e seguem para uma rede de ensino e encontram uma realidade em que as práticas de ensino, ou as condições das escolas, não atendem às condições normativas. É continuar aquilo que a universidade faz, mas é continuar de acordo com a realidade em que a escola possa reverter as mazelas daquela comunidade.

P: Existe algum percentual de quantos professores qualificados existem no Brasil para atender a demanda de alunos?


R: Desde 1996, a LDB obriga todos os professores a terem nível superior. Não tenho em mãos dados relativos ao Pará, mas temos uma grande demanda de professores que atuam sem o nível superior. Ainda falta uma política de formação continuada que acompanhe as mudanças. Por exemplo, tem professor que conhece menos informática que os alunos e isso não é bom, pois ele precisa conhecer também estas ferramentas.

P: A senhora falou sobre os dados não muito animadores do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], e Copa do Mundo está sendo realizada aqui em ano de eleição... Isso não sublima essa lembrança de que se tem muita coisa para fazer?

R: No meu ponto de vista, não é um mês que vai fazer diferença para se resolver alguns problemas. Em se tratando de educação, temos problemas históricos, desde 1930, quando o Estado começa a atuar definitivamente nessa área. Numa escola para a maioria, a gente começa a ter problemas de qualidade. Uma escola para pouca gente é fácil de administrar. A gente ouve muito os nossos pais falarem que determinados grupos escolares eram muito bons, mas é porque eram para poucos alunos. Hoje, a gente lida com escolas de massa, escolas para a maioria, escolas que trabalham com demandas para o mercado de trabalho e para melhorar as condições de vida das pessoas. Daí isso passou a ser problema para muitas pessoas, porque isto passou a fazer parte dos mesmos problemas que a sociedade enfrenta quando se fala em saúde, saneamento. Então, a pobreza por si só é um elemento a dificultar a aprendizagem, a dificultar o ensino. Então, é só durante um mês de Copa do Mundo para as aulas ficarem suspensas. Mas isso não é só em um mês que devemos pensar na educação brasileira e nos seus problemas, que já são de anos e envolvem corrupção, pobreza das famílias, articulação das escolas com as comunidades. Um mês de Copa ofusca um pouco os problemas, mas os problemas da Educação não se restringem ao mês da Copa.

(Diário do Pará)

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