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BRT: Belém virou cidade de novela

Quem viu o prefeito Zenaldo Coutinho dentro de um ônibus, como passageiro da viagem de inauguração da primeira etapa do Ônibus de Trânsito Rápido, da sigla em inglês BRT, imaginou que Belém fosse a cidade fictícia de Sucupira, da novela “O Bem Amado”. Nes

Quem viu o prefeito Zenaldo Coutinho dentro de um ônibus, como passageiro da viagem de inauguração da primeira etapa do Ônibus de Trânsito Rápido, da sigla em inglês BRT, imaginou que Belém fosse a cidade fictícia de Sucupira, da novela “O Bem Amado”. Nessa novela, o prefeito Odorico Paraguaçu constrói um cemitério e quer inaugurá-lo como a maior obra de sua gestão. O problema é que o mandato de Odorico vai acabando e ninguém morre em Sucupira. Sem defunto, portanto, o cemitério não pode ser inaugurado.

Fustigado pela oposição, que a todo instante promete instalar uma CPI, o prefeito Odorico Paraguaçu faz de tudo para encontrar um cadáver. Ele importa de cidade vizinha um doente desenganado, mas o doente é curado por um médico de Sucupira. Odorico não desiste e contrata o temido pistoleiro Zeca Diabo. As tramas armadas pelo prefeito para Zeca Diabo matar alguém e ele inaugurar o cemitério, porém, dão sempre errado. O final é surrealista: Odorico acaba morto pelo próprio Zeca Diabo. E o cemitério, finalmente, é inaugurado.

O BRT de Belém, cidade que, algumas vezes, pela graça de certos gestores públicos, se confunde com a Sucupira do novelista Dias Gomes – é estimado em quase R$ 500 milhões e ultrapassa R$ 1 bilhão, se for incluído o trecho entre Marituba e Belém, ainda no papel. Anunciada com muito estardalhaço e marketing como a solução de mobilidade urbana que a cidade reclama, a obra ainda não existe, como o defunto que Odorico procurava para inaugurar o cemitério de Sucupira. Talvez, com mais trabalho e menos pirotecnia, deva existir em 2016, ou seja, daqui a três anos.

MAIS CARO

O projeto embute um custo elevado por cada quilômetro construído e supera o de outros estados onde o BRT é uma realidade. Com 20 quilômetros de extensão e custo de R$ 494 milhões atualizados, o BRT Belém é R$ 200 milhões mais caro do que o de Manaus (AM), de 23 quilômetros de extensão e custo de R$ 290 milhões. O de Brasília, com 43 quilômetros, foi avaliado em R$ 530 milhões. E tem mais: o de Belém deve gastar R$ 25 milhões por cada quilômetro, um dos mais caros do país. Supera até mesmo o BRT do Ação Metrópole, que tem custo de R$ 17,7 milhões por quilômetro.

Pelas canaletas por onde trafegam desde sexta 19 linhas de ônibus comuns, chamadas de expressas, porque não possuem paradas de desembarque e embarque de passageiros ao longo da avenida Almirante Barroso, deveriam trafegar veículos articulados e biarticulados, com capacidade para 105 e 170 passageiros, os verdadeiros ônibus do BRT. Apenas um desses veículos apareceu em Belém, na véspera da eleição para prefeito, em 2012.

Uma encenação política foi patrocinada pelo então prefeito Duciomar Costa, que “inaugurando” o BRT pedia votos para seu candidato, Anivaldo Vale. Descobriu-se que não havia nenhum planejamento, estudo técnico e ambiental, ou audiência pública, além da inexistência de garantia de financiamento. A ideia de Costa era emplacar Vale de qualquer maneira na prefeitura. O orçamento municipal ficou capenga, comprometido em R$ 100 milhões, por um projeto surgido do nada.

Não havia sequer garantia de financiamento da obra. A base aliada do prefeito aprovou tudo às pressas, no escuro. Mas, com índices baixíssimos de popularidade, o prefeito deu um tiro eleitoral no próprio pé. O candidato Vale terminou a eleição em sexto lugar. Costa saiu do poder e sumiu, deixando para o sucessor uma dívida de R$ 56 milhões com a construtora Andrade Gutierrez, apontada como vencedora em uma licitação fraudulenta que provocou indignação e denúncia à justiça dos concorrentes, alijados do páreo.

Modificado

Para que os trabalhos fossem reiniciados, o novo prefeito, Zenaldo Coutinho, teve de abraçar no ninho tucano a bomba deixada pelo ex-aliado. A Caixa Econômica Federal (CEF), temendo pelo pior, devolveu 12 projetos executivos do BRT por insuficiência técnica. O Ministério Público Federal (MPF) fechou o cerco e impôs condições. As canaletas da obra, condenadas e quebradas, porque estavam fora do padrão de segurança, tiveram de ser refeitas. As paradas cobertas, iguais às de Curitiba, onde o projeto é modelo de eficiência, foram consideradas inadequadas para o clima da região e tiveram de ser removidas.

Os três elevados do Entroncamento, enfim concluídos, revelaram outro grave problema: privilegia apenas veículos de quatro ou mais rodas, deixando ao deus-dará ciclistas, motociclistas e pedestres. A população sentiu na pele que lhe venderam gato por lebre. Ou que, até o momento, está sendo enganada. O que era para desafogar o trânsito na Almirante Barroso, nada mais é que uma fonte de estresse permanente para os moradores de toda a região metropolitana, sujeitos a quilométricos engarrafamentos diários.

A liberação das canaletas, para circulação de menos de 10% dos ônibus que trafegavam pelas pistas laterais da Almirante Barroso, não vai resolver o problema. E no resto da cidade, o trânsito continuará caótico. O projeto dos japoneses da Jica, que era mais ambicioso e melhor elaborado, foi modificado. Em resumo: o BRT ainda é uma ficção. Como a Sucupira do prefeito Odorico Paraguaçu.

PORQUE O BRT NÃO EXISTE

1- A obra completa tem 20 km de extensão, partindo de Icoaraci, até o bairro de São Braz

2- O trecho inaugurado pelo prefeito Zenaldo Coutinho tem apenas 6 km de extensão. Vai do Entroncamento a São Brás. Faltam, portanto, mais 14 km, sequer iniciados.

3- A terceira linha do BRT, projeto do governo estadual conhecido por Ação Metrópole, parte do município de Marituba, na rodovia BR-316, até o Entroncamento. Um percurso de 27 km. O projeto não saiu do papel e não tem data para começar.

4- Para funcionar, o BRT precisa de ônibus articulados e biarticulados, com capacidade para 105 e 170 passageiros. O projeto da gestão de Duciomar Costa previa ônibus articulados, com capacidade para 170 passageiros. e biarticulados, para até 270 passageiros. Ninguém explica qual o motivo dessa mudança.

5 – Além das canaletas prontas – que existem somente na Almirante Barroso –, para o tráfego dos ônibus especiais, faltam estações de passageiros e ciclovias. Vale lembrar que havia uma ciclovia na avenida, mas que foi retirada.

6- Mais de 30 linhas de ônibus, chamadas alimentadoras, darão suporte aos passageiros que usarem o BRT. Eles descerão do BRT e tomarão os ônibus que os levarão a seus destinos, pagando apenas uma passagem. A prefeitura não diz como e onde irão funcionar as linhas alimentadoras.

7- O prefeito Zenaldo Coutinho promete que o BRT Belém – de Icoaraci a São Brás, e agora até o Ver-o-Peso, será inaugurado em 2016, daqui a três anos, quando a cidade completará 400 anos. Até lá, Belém deve ter pelo menos 50 mil novos veículos nas ruas.

(Diário do Pará)

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