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Sai Guevara, entra Almir. O que mudou?

Uma rua principal parcialmente asfaltada e muitas transversais ainda marcadas pela lama. Quando o destino é o atual Conjunto Residencial Almir Gabriel, em Marituba, esse é o cenário avistado. Iniciado a partir de uma invasão comandada pelo Partido dos Tra

Uma rua principal parcialmente asfaltada e muitas transversais ainda marcadas pela lama. Quando o destino é o atual Conjunto Residencial Almir Gabriel, em Marituba, esse é o cenário avistado. Iniciado a partir de uma invasão comandada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) há cerca de 14 anos, o local tomou a condição de bairro quando adotou o nome do ex-governador falecido na manhã da última terça-feira.

Ainda na expectativa de que o cortejo com o corpo de Almir Gabriel passasse pela rodovia BR-316 em frente à entrada do bairro, na manhã de ontem, a movimentação no local pouco fugia do habitual. Sem que a rotina fosse alterada com a proximidade da última homenagem ao homem que dá nome ao bairro, o professor Luis Bernardino se indignava. “Se hoje o movimento fosse coeso como na época da invasão, era para fecharmos todo o comércio para ir ver a passagem do cortejo dele”.

Morador da área desde que comprou um terreno de um invasor, há onze anos, Luis Bernardino é um dos poucos moradores atuais que vivenciaram parte da história do surgimento do bairro. Com os acontecimentos frescos na memória, ele sabe bem o porquê do nome que identifica o seu local de moradia. “Lembra-se o povo. O bairro onde moramos era uma invasão. Foi um movimento muito grande para entrarem aqui e as pessoas foram massacradas e tiradas na marra e o Almir assumiu o compromisso de dar a posse desses terrenos para as pessoas que invadiram”, recorda, sem esquecer da polêmica gerada quanto à mudança do nome. “Fizeram uma briga danada porque o nome aqui era Che Guevara, porque a luta foi coordenada pelo Babá [João Batista, ex-vereador e ex-deputado federal ligado ao PT, à época] e se perpetuou o nome do Almir porque ele comprou o título e entregou a posse pro Armando [Antônio Armando, prefeito de Marituba, na época] e a situação foi se legalizando”.

Da polêmica gerada ainda no início da formação do bairro até hoje, para o professor, são colhidas as consequências. Dos poucos órgãos públicos existentes no bairro, quase nenhum leva o nome do ex-governador. Ainda assim, o único avistado, o da Associação dos Moradores do Residencial Almir Gabriel, ainda divide espaço com outro prédio que ainda mantém o nome antigo, o do Movimento das Mulheres Solidárias do Che Guevara. “Não tem muita coisa com o nome dele porque até hoje tem gente que não concorda. O Che também tem uma história maravilhosa, assim como o Almir. O Che era um cara de luta que, por mérito, também merecia o nome do bairro, mas foi justa a mudança pelo que o Almir fez”.

Com os olhos já marejados pela lembrança do falecimento do ex-governador, o professor Luis Bernardino não deixa que se interrompam os argumentos. “Isso aqui só tinha um transformador e os postes eram de madeira com uma fiação de arame farpado. Isso aqui tem história. Melhorou com a posse que o Almir deu. Somos todos cidadãos de Almir”, enfatiza. “Apesar de tudo isso, ele nunca será esquecido. Pessoas que nasceram para ser luz não se apagam”.

Casa “invadida” é vendida a R$ 75 mil

Morador do local há mais tempo, há exatos 14 anos, o lavrador Otávio Sodré é um dos que invadiram o local quando ainda não servia de moradia para ninguém. Personagem do movimento de invasão, ele compartilha de uma opinião diferente. “Dizem que ele [Almir Gabriel] indenizou essa área, mas eu não vi nada disso. Não mudou nada depois que isso virou bairro com o nome dele. Para nós está no mesmo sistema. Dá uma chuva e entra água na casa da gente toda”, pontua, diante da rua principal cheia de lama. “Queriam o nome do Babá, quando invadimos, mas ele não aceitou. Disse que era pra escolher uma pessoa que lutou pela terra e botou Che Guevara”.

Mesmo que as condições não sejam as mesmas da época da invasão, muito ainda é necessário mudar para que o bairro chegue a condições ideais de moradia. Com asfalto apenas na rua principal, todo o resto é tomado pela lama. Sem que seja avistado qualquer policiamento, os assaltos ainda causam temor em muita gente. Mesmo com todos os problemas, aos olhos de quem vende, o bairro já se valorizou. Enquanto na época da invasão os terrenos eram vendidos por R$500 a R$1.000, hoje, o preço cobrado pelos imóveis já superou, e muito, o inicial.

“É muito complicado morar aqui. O carro do lixo, às vezes, passa mês sem passar, a rua enche de água e é muito perigoso”, aponta a autônoma Ariane Rafaela, ao apontar que o valor cobrado pela casa à venda é de R$75 mil. “Minha avó foi quem invadiu aqui e construiu a casa. Isso já tem mais de doze anos”.

Enquanto os problemas não são resolvidos, o falecimento do ex-governador aguça ainda mais a polêmica não esquecida. Na rua, em frente aos avanços e problemas vivenciados, a população segue com a opinião dividida. “Não foi o Almir Gabriel que liderou a invasão, o nome tinha que ser Che Guevara mesmo”, anunciava um, ao seguir com o carro de mão para o trabalho. “Se a gente está aqui, devemos agradecer a ele [Almir Gabriel]. Todo mundo sabe que se não fosse por ele, teriam tirado a gente daqui à força”, retruca Mauro Júnior, que também participou da invasão.

(Diário do Pará)

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