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Por que usar ponto final em mensagens de texto é mal visto?

Estamos passando por mudanças na utilização do sinal de ponto final. Há quem diga que ele caiu em desuso, enquanto outros afirmam que ele se tornou uma marca que traduz raiva e irritação nas mensagens de texto. Porém, o que de fato está acontecendo é

Estamos passando por mudanças na utilização do sinal de ponto final. Há quem diga que ele caiu em desuso, enquanto outros afirmam que ele se tornou uma marca que traduz raiva e irritação nas mensagens de texto.


Porém, o que de fato está acontecendo é que a linguagem escrita está se tornando mais flexível e ganhando seu próprio conjunto de normas estilísticas.

A questão do ponto final é apenas um exemplo dessa mudança marcada por novas possibilidades na forma de se comunicar por mensagens escritas. Assim como temos diferentes formas de conversar por linguagem falada dependendo da situação, também apresentamos estilos de escrita alternativos para cada contexto.

Nas entrelinhas dos pontos
Ainda que o ponto final continue sendo um sinal para demarcar o fim de uma sentença, muitos usuários omitem seu uso em mensagens de texto – especialmente se o conteúdo for curto.

Essa opção do usuário por não pontuar suas frases acontece porque as mensagens de texto costumam ser muito dinâmicas, semelhantes aos diálogos da linguagem falada. Quando estamos contando algo ao vivo, costumamos fazer uso de elipses e deixar brechas para que nosso interlocutor participe e acrescente comentários. Assim também fazemos em mensagens de texto. Daí que adicionar um ponto final é o oposto de abrir esse espaço, já que o o sinal significa um fim e quer dizer “É isso. Fim de discussão”.

Para muitos, é justamente esse caráter de impor fim ao diálogo que faz a marcação não ser amigável.

Um grupo de psicólogos dos Estados Unidos decidiu estudar a influência do sinal em conversas virtuais. Como resultado, eles notaram que os participantes da pesquisa percebiam as mensagens digitais marcadas com ponto final como desonestas ou falsas. Porém, quando os mesmos textos eram reescritos manualmente (também com o ponto final), a sensação de infidelidade não existia.

Outro estudo, realizado por linguistas, avaliou que mensagens digitais compostas por muitas sentenças raramente eram marcadas por pontos finais e somente 29% delas tinham uma pontuação ao final de todo o texto. Segundo os pesquisadores, a razão para isso é que o momento em que apertamos “enter” e enviamos a mensagem coincide exatamente com o instante em que deveríamos pontuar as frases.

Mudança de código situacional
Mas por que sentimos que o autor da mensagem que usa pontos finais está sendo desonesto conosco?

A resposta para isso pode ter relação com a “mudança de código situacional”, termo cunhado pelo linguista John J. Gumperz. A mudança de código situacional diz respeito às diferentes formas com as quais nós nos comunicamos dependendo do lugar, do meio e do nosso interlocutor.

Um exemplo comum disso é analisar a forma como uma pessoa se comporta durante uma entrevista de emprego e no bar com os amigos. Normalmente, o locutor vai utilizar uma linguagem mais formal na entrevista do que no ambiente com seus colegas. Caso o linguajar utilizado em ambos os casos seja o mesmo, provavelmente os amigos do bar vão estranhar e achar a situação um tanto quanto bizarra.

O uso do ponto final é um exemplo disso. Quando o sinal aparece em uma mensagem de texto, ele é percebido como uma característica excessivamente formal. Então, quando alguém encerra uma mensagem com um ponto final, é como se o indivíduo estivesse falando formalmente em uma mesa de bar com os amigos. É uma mudança de código situacional que faz aquele ato parecer incorreto, insincero e esquisito.

Também é importante lembrar que, antigamente, a linguagem escrita era quase sempre associada à formalidade porque ela residia em livros e documentos. No entanto, os tempos mudaram. As mídias sociais criaram espaço para que os usuários também trouxessem seu vocabulário casual para a linguagem escrita.

Outra forma de sinceridade
Mais um exemplo sobre a incorporação da fala na linguagem escrita é a repetição de letras. Através de um estudo, uma pesquisadora analisou que estender letras e sinais de marcação confere mais intensidade às mensagens.

Outra linguista decidiu se debruçar sobre o assunto e notou que repetir pontos de exclamação em uma conversa pode transmitir sinceridade, como exemplificado na frase abaixo:

“JACKIE, EU ESTOU ME SENTINDO TÃO TÃO TÃO MAL! Eu pensei que você estivesse atrás de nós no táxi, mas depois eu vi que você não estava!!!!! Eu me sinto tãããããão mal! Pegue outro táxi e eu pagarei para vocêeee”

Note que o texto não é terminado com um ponto final, já que o uso do sinal poderia contradizer o pedido de desculpas. Ao invés disso, o interlocutor repete vogais e abusa de pontos de exclamação.

Em um padrão formal, a mensagem seria escrita da seguinte forma:

“Jackie, eu estou me sentido tão mal. Eu pensei que você estivesse atrás de nós no táxi, mas depois eu vi que você não estava. Eu me sinto tão mal! Pegue outro táxi e eu pagarei para você.”

Esse outro exemplo se parece muito mais com um e-mail enviado a um colega de trabalho do que como um pedido de desculpas sincero e amigável.

Esse tipo de situação tem muito a ver com a intuição, mas os exemplos servem para mostrar como a linguagem formal pode prejudicar a sinceridade de um pedido de desculpas.

Estamos destruindo a escrita formal?
Há tempos existe um debate que visa analisar se nosso hábito de trocar mensagens de texto e utilizar um linguajar da web vai arruinar nossa capacidade de escrita.

No entanto, uma pesquisa mais antiga identificou que nossa capacidade de alternar nossa fala dependendo da situação social pode sinalizar uma competência social, afirmar um sentido de identidade em uma comunidade e também servir como um indicador de alta capacidade intelectual em crianças.

Outro trabalho mostra que utilizar a “linguagem da internet” interfere muito pouco em como o indivíduo vai se sair em testes de pronunciação, de leitura e de vocabulário. Nessa mesma linha, uma pesquisa realizada na Universidade do Estado da Califórnia encontrou um uso pequeno de termos de “internetês” em redações estudantis. Essa descoberta vai de encontro a mais uma pesquisa de psicologia, a qual encontrou uma correlação entre uso do linguajar digital com pontuações mais altas em testes de habilidade e de raciocínio verbal.

Tudo isso mostra que pessoas fluentes na linguagem escrita casual podem facilmente intercalar os códigos da escrita. Alguns educadores até estão começando a adotar lições sobre escrita formal e informal em suas salas de aula como forma de ajudar os alunos a diferenciar o uso que cada uma das situações pede.

Em vez de ignorar ou menosprezar a variação da linguagem escrita, abraçar a mudança — e a habilidade dos falantes e dos escritores em mudarem o código — pode levar a melhores habilidades de comunicação em todos os contextos.

Saber quando um ponto pode indicar desonestidade é só uma delas.

* Lauren Collister é estudante de biblioteconomia na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Este texto foi publicado originalmente em inglês no The Conversation.

Fonte: Revista Galileu

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