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Neurocirurgião que estará na Flip choca com relato

Após 15 horas de cirurgia para retirar um tumor gigante na base do crânio de um paciente, o neurocirurgião sente que entrará no ranking dos melhores médicos do país. Está confiante. A operação vai bem, ele para a cada duas horas para comer e fumar um ciga

Após 15 horas de cirurgia para retirar um tumor gigante na base do crânio de um paciente, o neurocirurgião sente que entrará no ranking dos melhores médicos do país. Está confiante. A operação vai bem, ele para a cada duas horas para comer e fumar um cigarro. Música, de Bach até Abba, ressoa na sala de cirurgia.

Resta um último pedaço do tumor. É arriscado tirá-lo e o correto seria parar, mas os peixes grandes da cirurgia sempre mostram em suas palestras imagens pós-operatórias sem resíduos, então este médico resolve ir em frente. O movimento provoca um esguicho estreito de sangue. O dano é irreversível.

O paciente era um professor de quase 60 anos que nunca mais acordou. O médico é o inglês Henry Marsh, 66, que relata com uma crueza espantosa erros como este cometidos por ele durante sua carreira no livro "Seu Causar Mal" (nVersos), que será lançado na Flip, em Paraty. Marsh participa nesta quinta (30) de mesa com a neurocientista carioca Suzana Herculano-Houzel.

A obra, explica Marsh em entrevista por e-mail, é baseada em um diário que manteve desde os 13 anos de idade.

O médico simpático que hoje é referência em sua área no Reino Unido (e que se diz envergonhado de sua nacionalidade, após a decisão pela saída da União Europeia), conta como estudou filosofia, política e economia antes de optar pela medicina -e pela neurocirurgia quando se apaixonou pela elegância das operações. Ele também é o personagem principal de dois documentários sobre sua carreira, "Your Life in their Hands" (2004) e "The English Surgeon" (2008).

"O livro, em si, não é uma confissão nem um pedido de desculpas, ao contrário do que muitos críticos sugeriram. É simplesmente uma tentativa de fazer um relato honesto do meu trabalho", diz.

E assim ele escreve sobre como cirurgiões só melhoram no trabalho quando praticam bastante, e isso significa cometer muitos erros e "deixar para trás uma trilha de pacientes sequelados".

Mas há mais casos bem-sucedidos na obra do que fracassos. O dia de Marsh começa com o percurso de bicicleta de casa ao hospital e a revisão dos pacientes do dia com seus alunos. As discussões são intercaladas com reclamações sobre as burocracias do sistema de saúde inglês.

Há, também, reflexões bem-escritas e comoventes sobre a morte e a relação entre o médico e seus pacientes.

"O maior mistério do cérebro é como a matéria produz a consciência", diz Marsh. No livro, a ação rotineira de abrir um cérebro acompanha a reflexão: "A consciência e o pensamento residem nos impulsos eletroquímicos que unem esses bilhões de células?"
Foi esse mistério que moveu o escritor best-seller norueguês Karl Ove Knausgård, que também estará na Flip este ano, a escrever um e-mail para Marsh após ler seu livro, em 2015, pedindo para acompanhar cirurgias. Marsh, que trabalhou por muitos anos na Ucrânia e em outros países, convidou o escritor para assisti-lo trabalhar na Albânia.

O encontro entre as duas figuras que falam francamente sobre morte e sobre a vida dos outros (os pacientes e familiares de pacientes só entraram em contato com Marsh de forma amigável após a publicação do livro, garante ele) resultou num poderoso ensaio escrito por Knausgård para a revista do "New York Times".

Knausgård, que conta ter chorado assistindo a uma das cirurgias, observa um traço da personalidade de Marsh, uma estratégia sempre repetida por ele: "quanto mais ele se expõe, mais as pessoas gostam dele". A reportagem pergunta se era isso que Marsh esperava atingir com um livro tão honesto. "Sim", responde.

(Folhapress)

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