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'Mães solo': batalha na criação dos filhos que foram renegados pelos parceiros

Dedicação à maternidade, jornada dupla, renúncias, rotina, reuniões da escola, ajudar na lição de casa, colocar para dormir, dar conta das atividades domésticas, uma labuta diária! Criar filhos não é uma tarefa fácil. Imagine, então, fazer tudo sozinha? E

Dedicação à maternidade, jornada dupla, renúncias, rotina, reuniões da escola, ajudar na lição de casa, colocar para dormir, dar conta das atividades domésticas, uma labuta diária! Criar filhos não é uma tarefa fácil. Imagine, então, fazer tudo sozinha? Essa é a realidade de muitas mães brasileiras.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2005 a 2015, a quantidade de mulheres chefes de famílias aumentou de 586 mil para 970 mil, no Pará, ou seja, um aumento de 6,5% ao ano.

“Mãe solo ou mãe solteira”?

A psicóloga clínica/psicoterapeuta, Flávia Vieira, destaca que há diferença entre mãe solo e mãe solteira.

“Mãe solo é uma mãe que cria, cuida e educa seu filho, sendo ela a única responsável por essas atribuições. Ela faz tudo sem o apoio do pai da criança. Mãe solo é diferente de mãe solteira, pois mãe não se define por um estado civil (mãe solteira, mãe casada ou mãe divorciada, por exemplo). Inclusive, muitas mães, consideram-se solo, mesmo estando casadas, pois os pais são ausentes, não participam da rotina e educação dos filhos e se limitam a cuidar dos filhos esporadicamente aos fins de semana. Mãe solo, é aquela que a partir do momento em que optou em ter um filho, sabia que estaria sozinha na criação, como por exemplo, quem faz inseminação artificial (produção independente)”, explica.

Psicóloga Flávia Vieira explica quando uma mãe deve buscar ajuda profisisonal. (Foto: Arquivo Pessoal)

Além de lidar com padrões estabelecidos de modelos familiares (pai-mãe-filho), rotina, julgamentos, preconceito, a psicóloga destaca que é preciso primeiro desromantizar a maternidade e a ideia de que as mães tem que dar conta de tudo.

“A maternidade romântica precisa ser descontruída. Ter um filho é uma experiência única e transformadora na vida da mulher, que desperta inúmeros pensamentos e sentimentos, que a faz repensar até mesmo sobre o sentido de sua vida, e cada pessoa vivencia esta experiência de maneira singular. Ser mãe é um desejo de muitas mulheres, já outras não possuem este sonho, que também precisa ser respeitado”, diz Flávia.

RELAÇÃO HARMÔNICA

Menos julgamentos e mais empatia. Para a psicóloga clínicae e psicoterapeuta essas são as palavras da vez, principalmente vindas da família e dos amigos.

“Algumas mães sentem-se sobrecarregadas devido as responsabilidades que não são compartilhadas, como trabalhar fora de casa, responsabilidades domésticas, cuidar dos filhos, tarefas escolares, cuidados com saúde, apoio emocional de validação dos sentimentos que são fundamentais para o desenvolvimento infantil. A família e amigos assumem um papel fundamental e podem ajudar promovendo uma relação harmônica com a mãe e a criança de respeito, acolhimento e empatia”, ressalta.

A especialista explica ainda, que uma rede de apoio de familiares, amigos e até grupos nas redes sociais podem proteger as mulheres da pressão e da solidão.

“Muitas mães solo sentem-se pressionadas por ter que dar conta de tudo e isso alimenta o sentimento de culpa, mas quando as mulheres compreendem que são fortes e ainda sim, não conseguirão dar conta de tudo, diminui o peso de ideia de mulher-heroína e faz dela um ser humano de carne, osso, sentimentos e pensamentos, que tem limitações. Ser mãe solo, não precisa ser solitário, tão pouco perfeita, mas será a melhor que pode ser. Uma rede de apoio com outras mães, por exemplo, pode fazer a diferença, pois pode ser um espaço de acolhimento, aceitação, troca de experiências”, recomenda.

LUTA CONTRA O MACHISCMO E O PRECONCEITO

Andressa Malato, mãe do Luiz Guilherme, de 1 ano e 11 meses, foi criada em uma família de tradições patriarcais, onde a bisavó teve um casamento “arranjado” e a avó e sua mãe precisaram casar porque haviam engravidado.

“Elas foram obrigadas a casar em prol da família tradicional brasileira, como se fosse inaceitável criar uma criança sozinha. Compreendo minha experiência sendo mãe solo para desmistificar além de tudo, esses padrões impostos”, ressalta.

Andressa sentiu o abandono desde a gestação. “Houve um tempo de sofrimento por estar sozinha, mas no decorrer dos meses compreendi minha missão de vida e nunca me senti vítima, pelo contrário, sempre houve um sentimento de força interior, coragem para quebrar estigmas”, relata.

Trabalhando como professora de uma escola pública, na educação infantil, Andressa encontrou em sua mãe, o apoio para enfrentar as dificuldades diárias.

“Enquanto trabalho, durante a manhã, meu filho fica em casa com minha mãe e uma babá. Na maior parte do tempo somos nós duas, eu e minha mãe, arcando com todas as demandas do Gui. Ela é a minha rede de apoio, incansável! Sou bem grata por ter sangue de mulheres guerreiras, sempre dispostas a enfrentar o mundo pelos filhos”, diz.

Andressa com o filho Luiz Guilherme, de 1 ano e 11 meses. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para se fortalecer a cada dia e lutar para pôr fim ao preconceito da sociedade com as mães sozinhas, Andressa se uniu a outras mulheres, mesmo que em grupo virtual.

“Sempre tive oportunidade de estar junto de outras mulheres mães solos e através desse contato aprendi muito sobre mim, sobre minha força, sobre ser capaz de enfrentar tudo, sobre os cuidados necessários com uma criança. Sonoridade e empatia é o que definem esses grupos, mesmo que virtual. Conheci mulheres que me ajudaram muito nesse processo de empoderamento. Sou muito grata!”, destaca.

Para Andressa, o machismo e o preconceito ainda são grandes barreiras que as mães sozinhas enfrentam no dia a dia. “O machismo oprime a mãe solo, não só por sair dos padrões corretos de família, mas também por mostrar a aptidão da mulher em exercer esse papel fundamental na vida de outro ser humano. É árduo, triste, muitas vezes somos desmerecidas, menosprezadas, porém, eu tento compreender para sobreviver que o preconceito é uma limitação de amor dos outros e não minha. Busco me munir, correndo atrás de colocar meus sonhos em prática mesmo com todas as diversidades. Me sinto fortalecida com cada nova conquista, tanto minha quanto do meu filho. Faço questão de deixar claro que sou capaz de enfrentar as diversidades com um sorriso no rosto, sem remorsos, culpas. Normalmente é uma afronta”, comenta ela aos risos.

Andressa garante que a união é o elemento que fortalece a luta das mães solo. “Estamos juntas! Somos mulheres deusas, geradoras de vidas. Temos o poder de amar incondicionalmente nossos filhos e essa é a maior dádiva. Estejam firmes, não se deixem abalar por nada. Continuem nadando, se firmando”, recomenda.

Thaiane com o filho Miguel, de 5 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Também nesta luta diária está Thaiane Cardoso, mãe do Miguel, de 5 anos, que diante de uma realidade que não estava preparada, se sentiu abandonada pela própria família.

“Me senti abandonada desde o primeiro momento, foi mais doloroso, pois era tudo novo, uma realidade que não estava preparada ainda. Ser mãe solo é cansativo, é uma luta solitária, onde você pode estar rodeada de muita gente, mas sempre vai estar sozinha”, diz Thaiane.

Com a ausência paterna, exaustão e intensa rotina, Thaiane precisou de ajuda psicológica no início da gravidez para lidar com o turbilhão de emoções. “A maternidade para uma mãe solo é muito sobrecarregada, pois você não tem para onde correr, problemas da escola são com você, problemas de casa são com você, tudo é com você. Chega a ser estressante essa sobrecarga toda”.

Um dos momentos mais marcantes na vida de Thaiane foi quando o filho pediu mingau e, por questões financeiras, ela não teve como dar.

“Isso ficou marcado na minha trajetória de mãe solo. O meu filho me pedir mingau e eu não ter para dar. Confesso que foi o dia que eu me senti mais impotente possível. Chorando naquele momento e ver ele enxugando minhas lágrimas foi demais para mim, mas esse momento me fortaleceu, pois me virei em 20 para nunca mais ver meu pequeno passar por aquilo, pois foi doído demais aquela cena para mim”, relembra ela, que hoje tem um trabalho extra para acrescentar na renda de casa. “É cansativo, mas ver o sorrisinho dele me fortalece para continuar seguindo em frente”, garante.

APOIO ONDE MENOS SE ESPERA

Histórias de hostilidade, abandono e preconceito são parte da realidade de muitas mães sozinhas de todas as idades, condição social e credo. Nas redes sociais, mulheres se unem para proteger da solidão.

Um dos grupos mais conhecidos no Facebook é o “Desabafos de uma Mãe Solo”, que conta com quase 4 mil mães em carreira solo, que contam casos, trocam experiências, se fortalecem. Também nas redes sociais, youtubers dão dicas, compartilham suas rotinas e dificuldades diárias sobre maternidade.

Veja alguns vídeos:

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Reportagem: Andressa Ferreira/DOL

Coordenação: Enderson Oliveira/DOL

Multimídia: Gabriel Caldas/DOL

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