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Debate sobre por que beijar ainda suscita o ódio

“A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, dizia Oscar Wilde, pensador e poeta britânico, mas, quando se trata de uma das expressões de amor mais universais, essa máxima não vale muito. Apesar de o beijo ser aceito de maneira unânime com

“A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, dizia Oscar Wilde, pensador e poeta britânico, mas, quando se trata de uma das expressões de amor mais universais, essa máxima não vale muito. Apesar de o beijo ser aceito de maneira unânime como uma demonstração de amor entre duas pessoas, quando ele chega nas telas da televisão brasileira entre duas mulheres - as atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, que interpretam um casal homossexual na novela “Babilônia”, da TV Globo -, muda de status para muita gente.

A cena de um beijo entre as atrizes que foi ao ar logo no início da novela gerou burburinho e polêmica nas redes sociais. O assunto caiu na boca do povo e todo mundo tratou de opinar sobre a cena de amor. Até a bancada evangélica na Câmara dos Deputados apresentou um documento de repúdio à novela e propôs boicote à atração.

Muita água rolou na teledramaturgia brasileira até chegar a esta cena. Em janeiro do ano passado, quando os personagens de Matheus Solano e Thiago Fragoso selaram o destino de Félix e Niko em “Amor à Vida” com um breve beijo, aclamado por muitos como o primeiro beijo gay da TV (as resenhas quase sempre esquecem o beijo de Luciana Vendramini e Giselle Tigre em ‘Amor e Revolução’, exibida pelo SBT em 2011), abrindo espaço para o beijo e o casamento de Marina (Tainá Müller) e Clara (Giovanna Antonelli) meses depois, em “Em Família”, e para a troca de carinho entre os personagens de José Mayer e Klebber Toledo em “Império”, várias tentativas de selar o amor de casais homossexuais das novelas com um beijo já tinham malogrado.

Eron Cordeiro e Bruno Gagliasso gravaram sete vezes o beijo que nunca foi ao ar em “América” (2005). Julinho (André Arteche) e Thales (Armando Babaioff) também não tiveram direito a beijo em “Ti-ti-ti” (2011). Em “Mulheres Apaixonadas”, houve até uma tentativa de dar às personagens de Alinne Moraes e Paula Picarelli a chance de demonstrar seu amor: as duas deram um selinho em uma peça da escola em que representavam Romeu e Julieta. Os atores André Gonçalves e Lui Mendes não tiveram essa chance para seus personagens Sandrinho e Jeferson, em “A Próxima Vítima”. Hoje, Dia do Beijo, o VOCÊ resgata o assunto e pergunta por que o beijo entre duas pessoas é tabu ou gera polêmica, na arte e na vida real.

A engenheira de produção e professora universitária Ana Carla Pereira foi enfática em afirmar: beijo é, sim, demonstração de amor, mas, quando isso foi retratado entre um casal homossexual em uma novela, ficou diferente. “O assunto é mesmo complicado, mas não achei nada demais. Só que sociedade ainda tem muita dificuldade de aceitar casais homossexuais e, quando passaram a presenciar, viam apenas relacionamentos de jovens. Mostrar as senhoras na televisão foi mais uma quebra de paradigmas, pois, além da idade, são duas mulheres bem-sucedidas”, polemiza a professora.

Para a administradora Adriana Carvalho, o que gerou tanta discussão foram os posicionamentos religiosos, muitas vezes radicais, sobre a história retratada na novela. “Eu acho que o que causou polêmica foram as igrejas. Para algumas religiões, quem vê essa novela está colocando o mal dentro de casa. Foram as palavras de uma senhora que foi à minha casa e disse que eu não podia assistir à novela. Para mim, qualquer forma de amor é válida, mas ainda é chocante para sociedade, machista e preconceituosa, ver isso em uma televisão aberta!”, opina.

O psicólogo e fotógrafo Alexandre Nogueira acredita que a polêmica está no fato de vivemos em uma sociedade baseada em princípios judaico-cristãos, onde a homossexualidade é vista como comportamento contrário aos valores dessas religiões, mas acredita que é papel da arte provocar essas discussões. “A arte sempre foi, é e será um instrumento para evolução social. Penso que a arte que não atinge as pessoas não vale de muita coisa. Ela deve servir, principalmente, para repensarmos nossas atitudes e valores. O que está nos atrasando? O que nos faz parar de crescer? A arte sempre deve questionar a sociedade em que está, além de ser um registro histórico e cultural daquele povo”, pontua.

O músico Bruno Rabelo, da banda Cais Virado, acredita que o beijo é uma das formas mais carinhosas de demonstrar o amor por alguém. “Sempre beijo meu pai no rosto, e ele também, e claro, beijo minha mãe. O beijo na boca é, no caso de um relacionamento amoroso propriamente dito, algo fundamental. Nada melhor que um beijo, que nos dá a sensação de que a pessoa com quem estamos é especial e única”.Mas ele admite que o preconceito que a sociedade brasileira demonstrou diante de uma expressão de amor e carinho foi radical. “Foi hipocrisia dos setores conservadores da sociedade brasileira ao imputar ao beijo gay algo completamente infundado: que o ato encorajaria pessoas a se tornarem gays, o que é completamente absurdo, um pensamento reacionário típico da Idade Média. Eu penso que o autor tenta, com o beijo gay, simbolizar a tolerância ao amor entre pessoas do mesmo sexo, e ainda que os gays querem e devem ser aceitos plenamente, assim como os heterossexuais, e poder demonstrar o seu amor sem serem reprimidos. Sou a favor do beijo gay onde for, na ficção ou na vida real. Abaixo a hipocrisia!”, protesta o músico.

(Diário do Pará)

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