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Carimbó perde o ritmo em Marapanim

Em setembro do ano passado, o carimbó viveu um dia de glória. Um dia inteiro de festa para comemorar a conquista de um sonho esperado há muitos anos: tornar a manifestação tradicional paraense patrimônio imaterial brasileiro. A festa durou um dia inteiro

Em setembro do ano passado, o carimbó viveu um dia de glória. Um dia inteiro de festa para comemorar a conquista de um sonho esperado há muitos anos: tornar a manifestação tradicional paraense patrimônio imaterial brasileiro. A festa durou um dia inteiro e mobilizou grupos de diversas partes do estado, mas o encanto parece ter durado pouco. Três meses depois, o tradicional Festival do Carimbó de Marapanim passou por três adiamentos – o mais recente, anunciado esta semana – e não tem data para acontecer. O motivo é dificuldade de recursos para a realização do evento.

O Festival foi um dos projetos aprovados para captar patrocínios pela Lei Semear, o programa estadual de incentivo à cultura. Mas mesmo com toda a tradição que envolve o carimbó, a cidade de Marapanim (berço de referências da nossa cultura, como Mestre Lucindo) e o próprio festival, que já teve oito edições, conseguir apoio não tem sido fácil. “Somos incentivados através da Lei Semear e temos que ir em busca de patrocínio. A data do festival é novembro, mas é difícil conseguir quem apoie. Depois de muito andar, eu consegui um patrocínio em novembro, e por isso o festival atrasou”, explica o responsável pela organização do festival, Ranilson Trindade, representante da Associação Marapaniense de Agentes Multiplicadores de Turismo.

Ranilson não cita, mas parte do impasse em realizar o festival se deveria ao atraso no repasse do patrocínio pela telefônica Tim. A empresa informou ao DIÁRIO por nota à redação que o repasse de recursos está “dentro do prazo alinhado com os organizadores”, mas não esclarece qual seria este prazo.

Para Ranilson, apesar de ter conseguido recurso privado para a realização do festival, o carimbó merecia ser tratado de maneira diferente no Pará. “Eu consegui apoio, mas geralmente os grupos, principalmente no interior, não têm conseguido. Festivais com menos público, como é o caso do ‘Zimbarimbó’, de Marapanim, não aconteceram no ano passado por falta de incentivo”, diz.

O organizador do Festival do Carimbó de Marapanim ainda espera que haja mais envolvimento do poder público para garantir a realização do evento, pela importância que ele representa para a cultura do estado e também para o turismo em Marapanim, e sonha com um fundo de cultura que possa atender aos grupos.

“O ideal seria os governos federal e estadual criarem um fundo cultural, e eles mesmo destinarem o recurso, sem precisar que nós corrêssemos atrás de patrocinador, porque conseguir é muito difícil. Esse é o nono festival é a terceira vez que é adiado por causa da dificuldade de conseguir recursos. Marapanim é a cidade mais tradicional do carimbó, terra de muitos mestres, deveríamos ter um fundo especial para cultura, mas isso não existe. A prefeitura só cede o espaço. Antes a gente até conseguia apoio, mas agora não. Tenho esperança de que haja essa mudança, pois só assim os projetos serão melhor desenvolvidos e amparados”, argumenta Ranilson.

Ele acredita que a Lei Semear ajuda a buscar patrocinadores para os eventos culturais, mas acha que o procedimento ainda é muito burocrático. “A Lei Semear interioriza a cultura, isso é muito bom. Foi com ela que consegui esse patrocínio, mas o lado negativo ainda é a forma de captação, que não nos ajuda”, lamenta.

A Fundação Cultural do Estado do Pará, que gerencia o programa Semear, explica em nota que, pelo edital do programa, à medida em que empresas assumem o patrocínio de um projeto, estão comprometidas juridicamente a repassar os recursos aos produtores, e que a Fundação acompanha a execução financeira desses projetos e a prestação de contas. Segundo a gerência do Programa Semear, a informação prestada pela empresa Tim, patrocinadora do Festival de Carimbó de Marapanim, é que o repasse de recursos será efetuado até o final deste mês.

Ranilson diz que, mesmo com patrocínio, o evento ainda não tem data para acontecer. As músicas e artistas finalistas já foram selecionados, mas o público terá que aguardar. “Deve acontecer de abril em diante, após as chuvas e o carnaval. Mas o adiamento não deve comprometer o festival”, garante.

Artistas defendem criação de fundo de patrocínio

Um encontro importante na agenda cultural do estado, o Festival do Carimbó de Marapanim deveria ter iniciado no último dia 16 de janeiro. Este ano, o evento planeja uma homenagem à memória de Mestre Osvaldo, mais conhecido como Mestre Macaco, que influenciou, com suas composições, várias gerações na Ilha de Mosqueiro a manterem a tradição do carimbó.

A festa estava pronta, e o concurso de músicas lançado em duas categorias - carimbó livre e carimbó de raiz -, com artistas que se inscreveram já selecionados. Além da música, o festival tem mostra de comidas típicas e mostra de dança com grupos de carimbó de raiz.

Um dos artistas selecionados é a cantora e compositora Renata Del Pinho, que lamentou o adiamento do festival e torce para que ele realmente aconteça. “Eu fiquei triste porque o festival de Marapanim não é só um festival, é um movimento de preservação do nosso patrimônio, que é o carimbó. A gente lamenta não só por adiar a disputa por um prêmio, mas porque tem coisas mais importantes que a gente perde. A cultura perde”, diz a cantora.

Ela, assim como Ranilson, acha que a cultura popular precisa ser melhor incentivada. “Esses incentivos precisam ser revistos. Não pode apenas uma parcela da cultura ser privilegiada em detrimento de outras. A sobrevivência da nossa cultura depende disso, e acho que a criação de um fundo seria de fundamental importância. Os incentivos deveriam ser distribuídos igualitariamente”, acredita Renata.

Em nota enviada à redação, o Ministério da Cultura esclarece que utiliza formatos diferentes de fomento cultural. Além da captação de recursos mediante incentivos fiscais (renúncia fiscal – mecenato), ao qual os organizadores do festival de Marapanim se referem, também patrocina projetos com recursos do Fundo Nacional de Cultura, através de editais (concursos públicos). Um deles, diz a nota do MinC, o Prêmio de Culturas Populares, é lançado anualmente, e permite a inscrição de projetos como o festival, que podem pleitear recursos sem depender do patrocínio de empresas.

(Diário do Pará)

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