Soprano é revelação e se prepara para temporada

Sublime. Transcendental. Espiritual. Os adjetivos fortes, usados por ela mesma, apenas ensaiam descrever o que a soprano lírica Dhuly Contente experimenta ao cantar. Na última segunda-feira, 12, ela emocionou quem foi prestigiar a missa em celebração ao aniversário de Belém, na Igreja da Sé e, com apenas 22 anos, é considerada uma revelação da música paraense.

A soprano ultrapassou qualquer expectativa que poderia ter, já cantou na Itália e deve ir aos Estados Unidos em março. Uma carreira que desponta forte e na qual não dá para prever onde Dhuly, que mora na Vila da Barca, ainda chegará.Ela é formada no curso técnico em Canto Lírico, pupila de Dione Colares, e graduanda em Licenciatura Plena em Música pela UFPA. Foi uma das 20 selecionadas, entre artistas do mundo todo, para participar do Programa “Ópera Viva”, realizado em Verona, na Itália. Lá, a jovem integrou o elenco de três concertos para o público italiano. A cantora também foi escolhida para o programa de intercâmbio Pará-Missouri, uma parceria entre a Universidade de Missouri e a Fundação Carlos Gomes (FCG).

Atualmente, integra o programa de extensão “Ópera Estúdio”, da FCG, e está na expectativa de mais uma viagem para o exterior. Humilde, ressalta que, se não fosse pela ajuda de várias pessoas, não teria conseguido sair do país. “Não teria feito muito sem a fé que tiveram no meu talento”, reconhece.Nascida e criada na periferia, Dhuly demorou a descobrir e acreditar no próprio talento. “Eu comecei cantando na capela de Nossa Senhora dos Navegantes. Gostava de estar ali, mas pensava que cantar não ia dar em nada”, relembra. No início de sua formação, estudou na oficina de Canto Lírico da Escola de Música da UFPa (EMUFPa) onde, em 2010, fez o curso básico de música. “Foi só a partir dos 14 anos, quando entrei para a oficina, que comecei a trabalhar meu dom. Recebi muitos incentivos e comecei a ver que cantar era o que eu realmente queria fazer”, diz.A lista de trabalhos que Dhuly já realizou é longa.

Apesar da pouca idade, a soprano tem sido cada vez mais reconhecida e valorizada, recebendo papeis de destaque. Ela participou, por exemplo, como solista no recital “As Bodas de Fígaro”, interpretando Susanna, em uma montagem da Fundação Carlos Gomes. Teve também o privilégio de ser solista no concerto de encerramento do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz. Soma-se ainda ao currículo da moça um solo como Marcelinna, da ópera “Fidelio”, com orquestra e coro no encerramento do “36° Civebra - Curso Internacional de Verão de Brasília”. Foi a única solista de fora da capital federal.

Para Dhuly, o espaço que a música tem na sua vida a ajuda, de certa forma, a levar a arte para locais em que canto erudito não chegaria. “Hoje se tem mais facilidade de acesso por conta dos recitais, dos festivais, mas, infelizmente, a música erudita ainda fica restrita à divulgação em um ciclo muito fechado. Aos poucos, na minha família, na minha comunidade, as pessoas vão descobrindo meu trabalho e podem dizer que conhecem uma cantora lírica.

Aí elas percebem que música erudita não é coisa de outro mundo, passam a ver com outros olhos”, pondera. Foi “com outros olhos” que a soprano aprendeu, com técnica e emoção, a cativar plateias. Uma experiência tão transformadora que carece de objetividade na explicação. “Na apresentação, você não é mais você, você é o personagem, mas, ao tempo, continua sendo você. Não tem como explicar. Para mim, é inspiração de Deus. É celestial”, completa Dhuly.

(Diário do Pará)