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Rejeito 'esquecido' ameaça agravar tragédia

O rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro passado, foi apenas o ponto de partida da maior tragédia ambiental do Brasil. Um ano após 40 bilhões de litros de lama terem matado 19 pessoas e se espalhado por 650 km, de Minas Gerais ao litoral do E

O rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro passado, foi apenas o ponto de partida da maior tragédia ambiental do Brasil.

Um ano após 40 bilhões de litros de lama terem matado 19 pessoas e se espalhado por 650 km, de Minas Gerais ao litoral do Espírito Santo, o rejeito de minério não removido pela mineradora Samarco pode agravar o desastre.

O período chuvoso, que já começou, traz o risco de essa a lama voltar a poluir os rios, matar peixes e fauna marinha, cortar o abastecimento de água e prejudicar a população ribeirinha, principalmente ao longo do rio Doce.

Para conter a lama em Bento Rodrigues, povoado de Mariana destruído pela tragédia, a mineradora de propriedade da Vale e da BHP Billiton optou por construir um dique que alaga parte da região, já que, segundo ela, a retirada da lama demandaria tempo e uma engenharia complexa.

Essa obra é contestada pelo Ministério Público Federal e irrita ex-moradores, que pedem respeito a suas memórias. A mineradora responde que "lamenta" a tragédia, mas que se preocupa com as populações rio abaixo.

No entanto, essas comunidades continuam sujeitas a problemas. Em vistoria feita neste mês, o Ibama verificou que "não foi constatado nenhum ponto com remoção do rejeito". Em alguns casos, diz, houve até a incorporação do rejeito ao solo natural".

Em nota, a Samarco disse que está prevista a retirada de 1 bilhão de litros de lama da região de Bento Rodrigues e que a remoção de rejeitos ao longo dos outros pontos dos rios "está sendo pauta de discussão" no comitê interfederativo. A empresa também diz que tem trabalhado no controle de erosão.

Caminho da lama

Entre 6 e 17 de outubro, a reportagem percorreu toda a região impactada, entre Mariana (MG) e Linhares (ES), além da cidade espírito-santense de Anchieta, por onde a Samarco escoava a produção.

No caminho, encontrou atingidos que ainda não conseguiram retomar as suas vidas normalmente. O carro alugado pela reportagem chegou a ser abordado por pessoas que pensavam se tratar de veículo da mineradora e queriam cobrar compensações.

"A gente não precisa ficar balançando vara de pescar para dizer que somos atingidos. Todo mundo aqui é ribeirinho e foi afetado", reclamou Josias Silva, 56, presidente de uma associação comunitária do município de Aimorés (MG).

A Samarco, a Vale e a BHP criaram uma fundação, chamada Renova, que tenta assumir o ônus da recuperação de uma forma que desvincule esse processo dos nomes das empresas que a financiam.

As compensações aos atingidos ficarão por conta da fundação, que diz ainda estar mapeando as pessoas que não receberam cartões de auxílio pelas perdas -um salário mínimo mensal por família, mais 20% para cada dependente e uma cesta básica. Indenizações ainda são discutidas.

Na semana passada, 21 membros das três mineradoras foram denunciados pelo Ministério Público Federal sob acusação de homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar).

Para a força-tarefa de procuradores, as acionistas sabiam de uma série de problemas -como erosões internas- que aconteceram na barragem de Fundão desde a sua inauguração, em 2008, mas priorizaram o lucro da operação em detrimento da segurança. As mineradoras "repudiaram" a denúncia.

Campo de futebol

A lama que vazou da barragem da Samarco deve destruir um campo de futebol na cidade de Rio Doce (MG) em 2017, mas também servirá para construir um outro campo na vizinha Barra Longa. Um ano após a tragédia de Mariana, os rejeitos de minério continuam a impactar o dia a dia das regiões em volta das áreas atingidas pela ruptura.

Em Barra Longa, a 172 km de Belo Horizonte, até o tráfego é controlado pela Samarco. Única cidade que teve a sede devastada pela lama, ela é considerada o "modelo" da reconstrução pós-desastre.

A intensa passagem de veículos pesados chegou a desfazer o asfalto das ruas, que têm sido repavimentadas pela empresa. As novas calçadas da via que beira o rio do Carmo, destruída após a tragédia, são refeitas com blocos de rejeitos de minério.

A poeira que sobe na cidade causou aumento de problemas respiratórios e de pele, segundo a Secretaria de Saúde de Barra Longa.

A Samarco monitora a qualidade do ar e diz que os valores estão abaixo do que prevê o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

No entanto, a doutora em patologia Evangelina Vormittag, da USP, que estuda o impacto na região e teve acesso aos dados, diz que os níveis estão acima do limite estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

"Barra Longa parece ser a cidade com mais dificuldades. Ao contrário de Bento Rodrigues [distrito de Mariana destruído pela lama], os moradores ficaram expostos por muito mais tempo à lama e respiram o pó dela, o tempo todo, há um ano", afirma.

Desde o fim de 2015, o antigo parque local de exposições serviu de depósito irregular de 30 milhões de litros de lama retirados das ruas -o que rendeu uma multa de R$ 1 milhão do Ibama à Samarco.

Esse parque abrigará o novo campo de futebol, que será construído com a "compactação" dos rejeitos.

Já o campo que pode ser soterrado fica a cerca de 60 km dali, no distrito de Santana do Deserto, em Rio Doce. A área, particular, é negociada pela Samarco para servir de depósito de metade dos 10 bilhões de litros de lama que ficaram retidos na usina.

"O campo de futebol até agora é o único espaço de lazer", diz o prefeito, Silvério da Luz (PT), que pede a preservação do espaço ou a construção de um novo.

(Folhapress)

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