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Claudio Barradas: o padre que se dedicou ao teatro

Cláudio Barradas é teatrólogo, ator e padre, tem uma passagem pelo curso de Filosofia, mas não concorda que o chamem “filósofo”. Apaixonado pelo teatro, foi um dos fundadores da atual Escola de Teatro e Dança da UFPA, mas por quase duas décadas abandonou

Cláudio Barradas é teatrólogo, ator e padre, tem uma passagem pelo curso de Filosofia, mas não concorda que o chamem “filósofo”. Apaixonado pelo teatro, foi um dos fundadores da atual Escola de Teatro e Dança da UFPA, mas por quase duas décadas abandonou os palcos para se dedicar somente ao sacerdócio. Mas nunca deixou de amar o teatro, para onde acabou retornando.

Considerado um ícone dos palcos paraenses, Cláudio Barradas, aos 85 anos, hoje cônego, celebra missas na Igreja das Mercês, no bairro da Campina. Mas no currículo, atuou como jornalista, ator e diretor de radionovela da Rádio Clube na década de 1950. Também foi ator de teleteatro na extinta TV Marajoara.

No início dos anos 1970 trabalhou em quatro filmes dirigidos pelo cineasta paraense Líbero Luxardo: “Um Dia Qualquer”, “Marajó, Barreira do Mar”, “Um Diamante, Cinco Balas” e “Brutos e Inocentes”. Entre as grandes homenagens que recebeu por toda esta trajetória, empresta seu nome ao Teatro Universitário da UFPA, inaugurado em 2009, quando o teatrólogo estava prestes a completar seus 80 anos.

“Digo que eu já fazia cenas na barriga da minha mãe. Acontece que eu nasci em um bairro altamente artístico, naquela época, 1930, ano da Revolução, o bairro do Umarizal. Ali em junho havia pássaros e bois, teatros nitidamente populares do Pará. No carnaval havia aquelas escolas de samba feitas por homem vestidos de mulatas. Então eu vivi a minha infância num mundo de artes”, diz.

Tinha também os chamados “café concerto” e em um deles, o Sousa Bar, localizado “onde o bonde fazia o retorno”, a avó de Cláudio tocava. Ela também prestigiava os teatros de revista da cidade. “E eu acompanhava ela para todo o lado, portanto a minha vida, em criança foi ver espetáculos teatrais”, recorda.

Porém, mais do que isso, Cláudio era “garoto de cinema”, e conta que a avenida Nazaré daquele tempo era a “Cinelândia belenense”. “Eu levava gibi para vender para poder entrar. E garoto também entrava se tivesse de mão dada com adulto”, diz. Sendo assim ele, atrevido, pedia aos adultos desconhecidos que o levassem pela mão. “Daí porque quando eu comecei a escrever peças toda a minha influência era cinematográfica”, justifica.

Barradas relembra ainda o Cine Moderno, dividido em duas partes - a de cadeira para os que pagavam melhor, e o banco para o povo em geral de onde chegava a assistir diversas vezes seus filmes favoritos. “Eu era fanático por uma dupla de cantores Jeanette MacDonald & Nelson Eddy, e eles fizeram um filme chamado ‘Primavera’ que eu vi 23 vezes!”, orgulha-se. Depois, Cláudio entrou para a escola primária, que no meio e no final do ano sempre promovia espetáculos.

“A primeira vez que subi no palco eu só entrava cantando: ‘Os anõezinhos da montanha, tralala-tralala, levam a vida bem contentes, tralala-tralala’. Eu era um dos anões. Até hoje sou muito desajeitado, herdei isso do meu pai, então eu entrei no palco, tropecei no último degrau e entrei de quatro”, recorda, com afeto.

NO SEMINÁRIO EXERCITOU A ATUAÇÃO

Cláudio Barradas entrou para o seminário aos 13 anos e todo mês os padres faziam um espetáculo para angariar dinheiro. Logo na primeira peça, uma opereta, começou cantando. “Naquele período estava-se em guerra e quem construiu [o aeroporto] de Val-de-Cans foram os americanos, porque era um ótimo ponto de partida para África. Esses americanos que estavam aqui iam ver as peças e eu ganhava muitos presentes pelas apresentações. Meu tempo todo no seminário foifazendo peça”, diz.

BArradas em cena com Zê Charone no espetáculo "Abraço". (Foto: Divulgação)

O que o levou ao seminário, foi o fato de ser um aluno muito aplicado e ter chamado a atenção dos irmãos Maristas. “Eles queriam que eu fosse um irmão, eu fui me empolgando e não sei porque decidi ser padre”, admite. Muito romântico, após diversos amores platônicos – como o que teve pela atriz Ingrid Bergman –, gostou de Margarida, uma menina da vizinhança, e esqueceu que queria ser padre.

Mesmo assim, foi levado para o seminário por um parente, de lá ficou sabendo que Margarida engravidou e teve que casar. “Então assim entrei para o seminário. Eu nem queria, mas entrei, gostei do lugar porque gosto do silêncio, de estudar e do tipo de casa. Lá eu vivi oito anos”, conta. Quando saiu foi para ser artista. “Eu ia ser mandado para Roma para estudar na maior Universidade Católica. Se eu tivesse ido para lá, teria saído bispo”.

Libertário por convicção, o ator gostava de criar suas próprias técnicas cênicas. “Eu sou autodidata no teatro e é bom porque, ao invés de você aprender regras que os outros fizeram, você inventa as suas”, justifica. Cláudio considera a antiga Escola Técnica o lugar onde mais gostou de fazer teatro. “Eu sou um libertário, subversivo, eu quero um ator que não tenha que decorar texto. Porque o texto é uma violentação: o outro escreve e você bota na cabeça do ator. Eu sempre quis fazer um teatro de improviso. Nela eu pude fazer isso, o ator sem roupa, sem maquiagem, sem nada, só o corpo. O ator é um mágico que faz o público ver o que não existe”.

Entre seus mestres, “ninguém daqui”, avisa logo. “Eu dou a bunda se aparecer alguém em Belém que saiba mais teatro do que eu”, brinca. E vai além: “Eu acho que quando se ama uma coisa, você quer conhecê-la a fundo. Eu mandei buscar livro em tudo quanto é língua”, diz. E assim, em busca de conhecimento, leu Stanislavski, Brecht, Grotowski, entre muitos outros pensadores do teatro. “Eu ao mesmo tempo ia aprendendo fazendo – que é a melhor forma de aprender. É mais trabalhosa, mas deixa um conhecimento que você nunca esquece”, garante.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)

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