Na época das chuvas, viajar pelas estradas do Pará se torna uma enorme aventura. São quilômetros seguidos de poças d’água, pontes precárias, buracos de todos os tamanhos e assoreamentos. Asfalto é apenas um sonho para quem trafega nas rodovias estaduais e federais dentro do território paraense. A 17ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, produzida pela Confederação Nacional do Transporte, mostrou que as condições de tráfego no Pará são as piores do Brasil. Alguns desses trechos, como a PA-150 ou a BR-222, de Dom Eliseu a Marabá, estão quase intrafegáveis.
Em nenhum outro estado brasileiro a situação das estradas é tão crítica quanto no Pará, onde 71,8% da malha viária avaliada este ano pela CNT foi considerada péssima ou ruim. Em boa parte da PA-150, uma das principais vias públicas do estado, não há acostamento e as placas de sinalização estão em situação precária. Nestas condições, as viagens acabam ficando mais longas e caras. Na BR-155, que vai de Redenção a Marabá, fazendo a ligação da região centro-oeste com o sul do Pará, a pista, a sinalização, até o traçado, tudo é considerado péssimo. A pior classificada de um ranking de 109 rodovias avaliadas é a Belém (PA) – Guaraí (TO), formada pelas seguintes rodovias: BR-222, PA-150, PA-151, PA-252, PA-287, PA-447, PA-475, PA-483, TO-336.
O prefeito de Dom Eliseu, Joaquim Ferreira Neto, não se cansa de pedir pela recuperação da única rodovia que liga seu município a Marabá, ao restante do Estado e ao país. “É um absurdo permitir que uma rodovia nestas condições continue causando tantas mortes, tantos acidentes como presenciamos todos os dias”, diz Joaquim. Em todas as visitas que faz a Brasília, em busca de melhorias para o município, o prefeito coloca a precariedade da BR-222 na pauta de reuniões. Ainda não conseguiu sair com uma resposta positiva.
A CNT avaliou 2.614 quilômetros de estradas no Pará, sendo 1.957 quilômetros de rodovias federais e 657 estaduais. O Pará possui uma malha rodoviária com 10.895 quilômetros. Nas estradas estaduais, 92,4% estão em estado péssimo, ruim ou regular. Do total avaliado, somente 137 quilômetros foram classificados como em boas condições. Nenhum trecho é ótimo.
Apesar desta situação continuada, não há, nem por parte do governo federal e nem do Estado, qualquer projeto de investimento a médio e longo prazo para melhorar as rodovias que cortam um dos estados mais ricos do Brasil, que produz energia para abastecer o restante do país e que tem minério em abundância.
Sem resposta
O DIÁRIO procurou as assessorias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Secretaria de Estado de Transportes do Pará (Setran/PA) para saber quais são os projetos para recuperação das estradas do Pará. Não houve resposta de nenhuma das duas estruturas governamentais, que são responsáveis pela infraestrutura rodoviária do país e do Pará, respectivamente.
O deputado federal Asdrubal Bentes (PMDB) é um dos representantes do Pará que vêm cobrando melhorias nas condições de trafegabilidade no Estado. No final de julho, esteve em reunião com o general Jorge Fraxes, diretor-geral do DNit, para intermediar uma solução para o bloqueio do trecho da Transamazônica, na divisa dos Estados do Pará e Tocantins. Os manifestantes pediam o asfaltamento do trecho da rodovia federal que atravessa o Pará, sem pavimentação, contrastando com o estado vizinho, Tocantins, que tem sua malha viária asfaltada.
Na ocasião, Asdrubal Bentes conseguiu o compromisso do diretor-geral do DNit, que prometeu concluir em 40 dias o processo de licitação para asfaltamento e melhoria do trecho da BR-230, próximo à ponte do rio Araguaia, que ficou interditado durante seis dias, após tenso protestos de caminhoneiros e moradores da região.
De acordo com Bentes, a população da região sofre com a poeira, os buracos e a lama gerados pelo intenso tráfego de caminhões. “Este trecho da Transamazônica supre demandas dos municípios do sul e sudeste do Pará, por onde trafegam caminhoneiros que transportam diversos produtos. Infelizmente, parece que a melhoria de tráfego nesta região não é prioridade do governo federal. Já avisei que, enquanto esta licitação não for feita, vamos manter vigilância. O diálogo foi aberto e, a partir de agora, esta é uma prioridade de meu mandato”, concluiu Asdrubal Bentes.
Dentre as estradas brasileiras que sempre se destacam pelo mau estado de conservação e pela dificuldade de trafegabilidade está uma das mais antigas rodovias do Brasil: a BR-163, que está em construção há mais de quatro décadas. A rodovia integra o Centro Norte do Brasil ao Centro Oeste e Sul do Brasil, asfaltada do Sul para o norte até Guarantã do Norte, em Mato Grosso. No Pará são 1.152 quilômetros de estrada até Santarém, revezando entre longos trechos de estradas de chão e alguns trechos asfaltados.
Moradores de rodovias vivem de promessas antigas
Diante do anúncio da pavimentação da rodovia pelo governo federal em 2003, no primeiro ano do primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os movimentos sociais da região se mobilizaram e vêm pressionando as autoridades para que o asfalto prometido chegue junto com a implementação de um plano de desenvolvimento sustentável elaborado para a região.
O Orçamento Geral da União (OGU) previu, para 2013, o investimento de R$ 717 milhões para as obras de pavimentação das rodovias federais no Estado do Pará, avançando na criação de novos corredores logísticos no País. As principais rodovias beneficiadas seriam exatamente a BR-230 (Transamazônica) e a BR-163 (Santarém-Cuiabá), consideradas pelo governo como rotas estratégicas.
A rodovia Transamazônica deveria ter recebido investimentos de R$ 180 milhões, para a conclusão do asfaltamento até a cidade de Altamira, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e para a pavimentação de trechos entre as cidades de Altamira e Rurópolis, ambas no oeste do Pará. As obras andam a passos lentos.
Já a Santarém-Cuiabá deveria ter recebido este ano investimento bem maior: R$ 387 milhões. Os recursos teriam que estar sendo aplicados na pavimentação da divisa entre Pará e Mato Grosso até a cidade de Santarém, criando um corredor logístico que pode mudar a geografia do escoamento de grãos do Centro Oeste, especialmente do Estado do Mato Grosso. Com este investimento, a rodovia praticamente ficará toda pavimentada, restando poucos trechos sem asfalto para 2014. O DNit não informou quanto de fato foi investido na rodovia.
A pavimentação da BR-163 é estratégica para o Pará e para o Brasil. O governo federal tem incentivado a criação de um grande centro logístico em Santarém e Itaituba, que está recebendo a construção de mais de 12 portos graneleiros. Em janeiro de 2014, o porto da empresa Bunge começa a funcionar em Miritutuba, distrito de Itaituba, e deve ser seguido por mais oito terminais. Em Santarém, a Cargill planeja ampliar suas instalações e novas empresas já planejam a instalação de seus terminais portuários. Mas, pelo “andar da carruagem”, estes projetos devem ficar para 2015, caso o novo presidente da República, que será eleito no ano que vem, estabeleça as rodovias em território paraense como prioridade.
(Diário do Pará)
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