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Droga extraída de raiz vira polêmica

“Em 46 anos atuando e desenvolvendo trabalhos na área da saúde mental, eu nunca vi algo tão extraordinário. Estou estupefato. É a planta dos deuses”.  É assim que o psiquiatra, mestre em psicologia social, José Paulo de Oliveira Filho descreve a ibogaína

“Em 46 anos atuando e desenvolvendo trabalhos na área da saúde mental, eu nunca vi algo tão extraordinário. Estou estupefato. É a planta dos deuses”.

É assim que o psiquiatra, mestre em psicologia social, José Paulo de Oliveira Filho descreve a ibogaína. Capaz de provocar uma viagem ao inconsciente por dias seguidos, ela é estudada em universidades de países como Estados Unidos, Canadá e Holanda.

A substância, no Brasil, é utilizada em caráter experimental no Instituto Brasileiro de Terapias Alternativas (IBTA), em São Paulo. O tratamento à base da ibogaína promete algo tão revolucionário quanto polêmico: a cura para dependências químicas. A medicina, no entanto, não reconhece a eficácia da substância, que ainda é considerada ilegal em diversos países.A ibogaína é o princípio ativo da iboga, uma raiz natural das florestas tropicais da África Central que, durante séculos, foi usada por curandeiros locais. O uso da substância, mesmo com pesquisa permitida, é proibido nos Estados Unidos, além de países como Dinamarca, Suécia e Suíça.

De vício em álcool ou crack, passando pelo tabagismo, a ibogaína, associada à psicoterapia, seria capaz de curar até mesmo casos de depressão profunda, transtornos de bipolaridade e do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Antes de se submeterem ao tratamento, porém, pacientes e familiares devem assinar um termo de compromisso assumindo riscos.Este ano, José Paulo de Oliveira, que pesquisa a substância há cerca de oito meses, foi responsável por levar dez pacientes de Belém para realizar o tratamento à base da ibogaína no IBTA. A grande maioria deles dependentes químicos. “Os resultados foram fantásticos. Depois dos cinco dias de tratamento, eles não apresentaram mais nenhum sintoma da dependência química. Sem efeitos colaterais e sem a fissura de voltar ao vício. Eles tinham voltado ao seu estado original”, explica o psiquiatra.

CURA

D.F, 59 anos, conta que seu filho, G.H, 31, chegou a roubar panelas e o enxoval da casa para sustentar o vício em crack. “Ele não chegou a roubar ninguém na rua, mas ficou no estado mais crítico que você pode imaginar. Já passou por internações em quatro clínicas de reabilitação. Ficava bem no tempo que tava lá dentro, mas ele sempre recaia”, conta.

Em março, D.F assinou o termo de responsabilidade, exigido pelo IBTA, e colocou a vida de seu filho nas mãos dos médicos que realizam o tratamento controlado com a ibogaína. A família investiu R$ 7 mil no serviço oferecido pelo IBTA. Após uma breve recaída, controlada com uma dose extra, D.F conta satisfeita que G.H está bem, trabalhando e “limpo”. “Eu aconselho a todas as mães que estejam passando pelo mesmo que pesquisem, se informem e busquem todas as soluções possíveis. Em uma situação de emergência, tudo é válido para evitar uma tragédia”, opina.

José Paulo de Oliveira explica que a ibogaína, além de acesso a memórias inconscientes, estimula a produção da proteína BDNF, responsável por regenerar e restabelecer conexões neurais prejudicadas pela dependência química. Durante o tratamento, os pacientes ingerem pílulas e passam os dias acordados. A experiência seria similar a que passamos no estado R.E.M, a fase do sono em que os sonhos mais vívidos acontecem, porém de forma lúcida e prolongada. “O trauma emocional ligado a determinado evento é desfeito e tudo que sobra é a memória”, explica José Paulo. Segundo o médico, a substância não provoca dependência química.

CONTESTAÇÃO

L.T, 24 anos, tem uma família privilegiada financeiramente, já estudou no exterior e frequentou centros de recuperação que cobravam valores equivalentes a R$ 5 mil.

Por conta da dependência do crack, L.T chegou a morar nas ruas, frequentando “cracolândias” em São Paulo, capital. Ele conta que conhece pacientes que se submeteram ao tratamento com base na ibogaína e, por pouco, não tentou se livrar da dependência química através da substância. “Tem famílias de pacientes vendendo carro e até casa para pagar o tratamento. Quando surge algo que aparenta ser tão milagroso, as pessoas fazem de tudo para buscar uma solução para o problema. Na verdade, é uma forma de negar a doença e reconhecer que não há cura para dependência química”, opina.

Apesar da consciência de que precisará controlar a doença para o resto da vida, a última vez que L.T usou crack foi há cinco meses. Hoje, internado no Centro Nova Vida, o rapaz diz que o tratamento baseado na terapia em grupo e na valorização pessoal é a melhor opção.
“O custo do tratamento com ibogaína chega até a R$ 30 mil. Eu sei de casos de pacientes que passaram pelo programa e sofreram com os efeitos colaterais. Todos recaíram”, comenta. L.T.

Para o rapaz, o fato de o tratamento exigir um termo de responsabilidade isentando os médicos de eventuais contratempos é de se estranhar. “Como é um produto natural, nem deveria ter necessidade disso”, pondera.

Psiquiatra diz que se curou do tabagismo com a droga

Para o psiquiatra, a tendência natural é de que a medicina, em um futuro breve, reconheça a eficácia da ibogaína e o custo do tratamento barateie. “Existe um grande lobby formado por indústrias farmacêuticas que não se interessam pela fabricação em larga escala de medicamentos à base de ibogaína. Quebrar um paradigma é sempre muito difícil”, observa. Para José Paulo, o ideal é que os pacientes submetidos ao tratamento experimental continuem fazendo acompanhamento psicológico e realizem dosagens de manutenção.

As primeiras pesquisas tendo como foco a ibogaína datam da década de 60. Segundo José Paulo de Oliveira, desde que chegou ao ocidente, cerca de 40 pessoas que ingeriram a substância morreram. “A maioria das mortes ocorreram em clínicas de fundo de quintal e com usuários que associaram a ibogaína a outras drogas. Se tu não receber orientação e fizer uso indiscriminado, até um antibiótico pode te matar”, pondera.

Consciente dos riscos de suas declarações, o psiquiatra conta que ele mesmo se submeteu ao tratamento feito com ibogaína, no final de maio, e diz que agora está curado do tabagismo. Apesar de a experiência do tratamento ser pessoal e única, José Paulo descreve os efeitos da substância como a vida passando em espécies de tela de LCD. “Eu sei que vai ter muita gente me criticando. Mas alguma coisa precisa ser feita para acabar com essa pandemia. As pessoas precisam tomar conhecimento de tudo isso. A causa é maior que o medo”, completa.

Centro Nova Vida faz ressalvas sobre ibogaína

Luis Veiga, diretor do Centro de Recuperação Nova Vida, é cauteloso ao apontar os benefícios da ibogaína. “A terapia ainda é muito controversa. Três pessoas morreram intoxicadas durante o tratamento com a droga. Duas na Holanda e uma na Suíça. As autoridades americanas estão ressabiadas e é por isso que a droga não é liberada nem lá nem em muitos outros países. O uso dessa substância provocou confusões e paradas cardíacas em alguns pacientes”, explica.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não faz restrições legais à ibogaína. No entanto, seu uso como medicamento não está regulamentado. Referência em prevenção e tratamento da dependência química, o Nova Vida há 20 anos realiza trabalho voluntário com base nas normas da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract), com sede em Campinas, São Paulo. “Nosso tratamento dura quatro meses e tem como base a psicologia cognitiva-comportamental para, principalmente, o paciente perceber que ele é a causa e a solução para seu problema”, comenta Luis Veiga.

Ele ressalta ainda que a utilidade da ibogaína não tem qualquer comprovação científica e que há riscos de o paciente “substituir uma droga por outra”.Segundo o diretor do Centro, o vício em drogas é uma enfermidade com muitas especificidades. “A dependência química é uma doença crônica e incurável. É a única doença que pode realmente fazer o médico dar um diagnóstico errado porque é uma doença da negação. O paciente tem que se conscientizar que vai precisar lidar com o problema para o resto da vida”, esclarece.

CRACK

Em 2012, o governo federal lançou o programa “Crack, vencer é possível”. Divididos entre os Ministérios da Saúde, Justiça e Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a União prevê R$ 4 bilhões em investimentos progressivos para combater o que considera uma epidemia até 2014.

Veiga é enfático ao defender que o modelo de cobertura atual oferecida pela saúde pública aos milhares de dependentes químicos precisa ser revisto. “No Brasil, se nada for feito, nós estamos perdidos. Nenhum curso superior oferece capacitação específica aos profissionais da área da saúde. Os projetos montados têm começo, meio, mas não tem fim. Não adianta nada gastar milhões e milhões e não ir à ferida, que é o grande traficante. A polícia prende pequenos traficantes enquanto os grandes estão sorrindo dentro de gabinetes. Usuários são detidos para dar uma justificativa à sociedade e nada é resolvido”, observa.

DOAÇÕES

Com uma equipe multidisciplinar, em grande parte formada por ex-dependentes químicos, o Centro Nova Vida já despertou interesse internacional por conta da experiência e eficácia do programa que oferece.Hoje, com a parceria que matinha com a antiga gestão municipal de Ananindeua suspensa, o Nova Vida sobrevive apenas através de doações e da arrecadação proveniente dos cursos de capacitação que oferece.

(Diário do Pará)

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