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Belém vista por trás do balcão

Há aproximadamente seis décadas, o empresário José Joaquim Diogo é testemunha de uma cidade em constante transformação. Da infância no bairro do Reduto, em Belém, ele se lembra da movimentada zona portuária em frente do comércio do pai, vizinho do Igarapé

Há aproximadamente seis décadas, o empresário José Joaquim Diogo é testemunha de uma cidade em constante transformação. Da infância no bairro do Reduto, em Belém, ele se lembra da movimentada zona portuária em frente do comércio do pai, vizinho do Igarapé das Almas, atual avenida Visconde de Souza Franco. Recorda-se das ruas lotadas de operários que trabalhavam naquele então próspero polo industrial. De nomes e endereços que já se perderam no tempo, como a da fábrica de cordas Perseverança; da Vigor, de guaraná; da Boa Fama, de calçados; da Democrata e da Nacional, ambas de cigarros.

Na década de 1970, a partir do saneamento e a canalização do rio, iniciou-se o processo que tornou a via o metro quadrado mais valorizado da capital. Prédios residenciais, shopping center, bares e restaurantes badalados que se instalaram por lá fizeram do ordeiro bairro operário o centro de lazer da cidade.

“O Reduto trocou o dia pela noite”, atesta José Joaquim Diogo, 66, proprietário da Tabaqueira. “O bairro mudou muito. Se tornou mais boêmio, mais caro. O que antes era só casa de operário, agora tem vários arranha-céus de luxo. Mas a qualidade de vida piorou um pouco: muito barulho, muita gente bêbada, prostituição”, diz.

Uma das poucas coisas que não mudou no bairro foi a sua loja. A fábrica de processamento de tabaco foi fundada há 90 anos, em 1927, e permanece no mesmo endereço desde então: na Visconde de Souza Franco – a popular ‘Doca’ -, bem na esquina da rua 28 de Setembro.

O negócio, ele herdou do falecido pai, o imigrante português José Ferreira Diogo, que veio a Belém aos 13 anos para trabalhar com o irmão. Ela é uma das poucas remanescentes do passado industrial do bairro. A única fábrica de cigarros do Estado, segundo seu proprietário.

O fumo é comprado de produtores do município de Bragança, a 220 quilômetros da capital. A matéria-prima chega em rolos de folhas prensadas, que são separados em uma máquina e aquecidos em um forno, para depois secar. São produzidos 2.000 quilos de tabaco por mês.

Mas numa época de aperto do cerco ao tabagismo, o negócio ainda é vantajoso? “As pessoas usam o tabaco não só para fumar, mas para fazer remédio, pra usar como pesticida nas plantas. Tem muita gente de terreiro, que compra pra fazer oferenda”, explica Diogo, que ainda vende na loja material para pesca, rolos de fios de náilon, botas de borracha e velas.

“Minha clientela é mais gente do interior. O caboclo usa o tabaco para espantar os mosquitos durante a pesca, é tiro e queda”, complementa.

A loja anexa à fábrica parece um museu, de uma época distante, em que fumar era um hábito socialmente aceitável. Na parede, uma foto do rei Roberto Carlos ainda jovem, ostentando uma vasta cabeleira e um cachimbo no canto da boca, tirada em uma de suas passagens por Belém nos anos 1980. Em outro retrato, a cantora Fafá de Belém dá umas baforadas em um charuto. Já em um mural no lado de fora, uma homenagem aos fumantes notáveis, como o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara.

“Os tempos mudaram. Nasci e fui criado nesse ramo. Certas coisas ficaram no passado e dificilmente vão mudar. Mas não tenho vergonha do que eu faço, ofereço emprego e renda para muita gente. É um negócio legalizado. Acho que Belém tem espaço pra minha fábrica ainda”, atesta.

OPORTUNIDADES
A partir das 11 horas, as pessoas começam a chegar ao restaurante de Edson Pereira, 49, na travessa Enéas Pinheiro, bairro do Marco. Meio-dia o local já está lotado. A clientela é composta por operários de uma construção próxima, pacientes e médicos do posto de saúde vizinho. O paulista de Ribeirão Preto, que se descobriu cozinheiro em Belém, há três anos mantém o restaurante em casa. “Antes eu trabalhava com lava-jato, por dez anos fiz parte desse negócio. Depois vi que a clientela sentia falta de um lugar pra comer aqui por perto e resolvi arriscar”, conta.

Ele se mudou para o Pará há 17 anos, com a mulher e dois filhos. Primeiro trabalhou com madeira no interior, depois se mudou para a capital, onde trabalhou com venda de carros. “Eu sempre trabalhei com comércio. É o que sei fazer melhor. Agora com o restaurante, estou me sentindo muito realizado, de receber essas pessoas, de ver elas saindo daqui satisfeitas. É como receber um hóspede em casa”, define.

De tudo um pouco: a fórmula libanesa
Fogos de artifícios é a especialidade da “Kahwage Comercial Ltda”, loja que fica na rua Padre Champagnat, na Cidade Velha. Mas fica até difícil enumerar o que não está à venda por lá. Interessado em um boné? Tem. Quer comprar uma pá, quem sabe? Sim, eles vendem. Ou quem sabe um baralho? Consta no estoque. “Antigamente, antes de o governo proibir, vendíamos até remédio pra dor de cabeça, estômago”, relembra Olívia de Nazaré Kahwage, 55, gerente da loja.

A estratégia de vendas foi aprendida com o avô, o imigrante libanês que fez a vida como mascate no interior do Pará. Cinquenta anos depois, o negócio ainda gira em torno desse público, que frequenta o bairro desembarcando pelo rio Guamá.
“Tem muita gente das ilhas próximas, os barqueiros que vêm vender suas mercadorias no Ver-o-Peso. Eles querem comodidade. Como a loja é próxima a diversos portos, eles vêm aqui e querem comprar tudo em um só lugar, de preferência”, conta.

Olívia trabalha há 30 anos com vendas. A vocação está no sangue, como define. Ao todo, são dez irmãos, ela inclusa, que tocam o negócio da família. Começou a acompanhar o pai ao trabalho aos 17 anos. Formou-se engenheira agrônoma, mas nunca exerceu a profissão. Realizou-se mesmo atrás de um balcão. “Eu amo o que faço. Tenho prazer em trabalhar com comércio. Conheço gente nova, faço amigos e passo a maior parte do tempo com a minha família”, afirma.

A clientela, inclusive, é considerada uma extensão da família. “Tenho clientes de 30 anos, que vêm aqui sempre. Agora os netos passaram a comprar com a gente. Aqui a gente senta, conversa, conta da família. Tenho vários clientes tão amigos de frequentar a casa, sabe”, afirma.(Diário do Pará)

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