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Tracers reinventam trilhas por Belém

Você está caminhando pela cidade. Mas imagine que para ir de um ponto a outro você precisará saltar 20 degraus de uma escada de uma única vez, rolar até um muro, escalá-lo e saltar dele para uma coluna de cimento. Essa pode não ser a maneira mais conve

Você está caminhando pela cidade. Mas imagine que para ir de um ponto a outro você precisará saltar 20 degraus de uma escada de uma única vez, rolar até um muro, escalá-lo e saltar dele para uma coluna de cimento. Essa pode não ser a maneira mais convencional de se chegar a algum lugar, mas já se transformou para muita gente uma opção de exercício. A superação de obstáculos, através de movimentos ensaiados e, por muitas vezes, perigosos, é a essência do parkour, atividade física criada a partir de técnicas de treinamento militar. O que se pretende com essa prática é ir de um ponto a outro da forma mais rápida e eficiente possível, mesmo que para isso seja preciso ultrapassar barreiras físicas, saltar distâncias incomuns e realizar movimentos difíceis de imaginar.

Adaptando o parkour para os desafios de uma cidade grande, os tracers, como são chamadas as pessoas que praticam essa atividade, veem em qualquer espaço a possibilidade de praticar saltos. “Com o parkour você reinventa a utilidade de um lugar que já tem uma definição prévia. Espaços como a praça da República foram construídos para o lazer. Porém, para o parkour eles viram lugar de treinamento”, explica William Favacho, consultor de vendas e tracer há cinco anos.

Nesse sentido, a criatividade dos tracers precisa ser exercitada para que espaços considerados comuns passem a ser palco dos movimentos do parkour. Anderson Dias, estudante e tracer há cinco anos, defende uma filosofia em que predomina o controle. “Não deixe a cidade te dominar, domine a cidade”, diz. Ele afirma também que nessa modalidade o que impera não é a competição, e sim a superação pessoal. “Treinamos juntos, mas cada um tem seu próprio desafio”, afirma.

Favacho e Dias costumam treinar parkour com um grupo de amigos aos finais de semana em espaços como a praça da República, o Largo do Redondo e até mesmo em um prédio abandonado. Para William Favacho, o parkour possibilita que práticas cotidianas sejam feitas de forma diferente. “Quando somos crianças, aprendemos a subir uma escada e entendemos que aquela é a maneira certa de se subir uma escada. Mas desconhecemos que há muitas outras maneiras de se fazer a mesma coisa e até de forma mais eficiente. Porém essa eficiência não significa apenas agilidade e rapidez. Se para realizar um salto eu tiver que agredir meu corpo não terei eficiência”, afirma.

Essa preocupação em preservar o próprio corpo é constante entre os tracers. Favacho garante que praticar a atividade não é pular aleatoriamente. Cada movimento praticado por eles exige treinamento não apenas técnico, mas também preparação física “Não é qualquer um que faz. Tem que ter treinamento rígido, em cima de repetições. É preciso entender como fazer e não fazer por fazer”, filosofa.
São os treinamentos físicos que possibilitam que os praticantes da atividade tenham conhecimento do próprio corpo. Cada salto ou movimento novo é analisado por cada tracer e só é colocado em prática a partir da certeza de que se está apto a fazer o que se tem em mente. “É perigoso, mas temos limites”, diz Anderson Dias. Ainda assim, os treinamentos não garantem que os movimentos sejam sempre os mesmos. “Cada salto é como uma assinatura. Não dá pra fazer igual”, garante William Favacho.

Mal entendidos pela outra Belém?

O parkour existe há 6 anos em Belém. Segundo os tracers, a atividade ainda sofre muito preconceito. Para eles, esse é um dos principais problemas encontrados por quem pratica o parkour. “As pessoas não têm a cabeça muito aberta para novas práticas. Esporte não é só futebol”, reclama William Favacho.
Segundo Erik Maia, consultor de vendas e tracer há 3 anos, é comum que os praticantes sejam confundidos com bandidos, mesmo que o comportamento deles não dê nenhum indício disso. “Já passamos por uma situação em que vieram nos perguntar se éramos ladrões. A gente se sente discriminado”, afirma Maia. “Geralmente pensam que é molecagem e não é isso. Já tivemos advogados e até médicos que treinaram com a gente”, garante Favacho.

PRESERVAR ESPAÇOS

As reclamações quanto à utilização de espaços públicos também são comuns. Segundo eles, muita gente veicula a prática do parkour à depredação do patrimônio público. “Não destruímos o patrimônio. Antigamente, quando vínhamos treinar aqui na Praça, nós limpávamos todo o espaço antes de começar. Preservar [o espaço] é garantir que a gente continue treinando, porque se derrubarmos algum muro, por exemplo, perderemos um lugar de treino”, explica Favacho.

O desconhecimento do que é o parkour é, segundo eles, um dos principais motivos para que haja esse preconceito. Nesse sentido, os tracers acreditam que seria importante que houvesse um evento que divulgasse a atividade. “Falta apoio. Não temos espaço e nem lugar pra isso”, afirma Erik Maia.
A falta desse espaço físico é o principal motivo apontado por eles para que até hoje esse evento não tenha sido realizado. “O espaço que temos hoje pra treinar é só mesmo o espaço público”, afirma Gilberto Mescouto, estudante e tracer há 4 anos.

Anderson Dias acredita que uma possível solução para o problema seria seguir o exemplo de outros estados. “Queria que o governo visse a modalidade com mais clareza. Em outros estados o parkour tem apoio total. Em Manaus, por exemplo, eles têm até praças específicas para treinamento”.
A prática do parkour não tem nenhuma ligação com a marginalidade. Ao contrário, todos os integrantes do grupo que William, Anderson, Erik e Gilberto fazem parte, trabalham ou estudam.
Cada um deles começou a praticar o parkour por motivos pessoais e individuais, mas todos têm em comum o gosto pela atividade.
“Para fazer parkour tem que gostar muito. Às vezes eu me pergunto por que estou fazendo isso e a resposta é simples: porque eu realmente gosto, sinto prazer em fazer”, afirma William Favacho. “Costumo dizer que o parkour é um refúgio do dia a dia rotineiro de trabalho, de estudos”, resume Erik Maia. (Diário do Pará)

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