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PARÁ

Com a saída de Netão do Remo, mais um profissional paraense não consegue emplacar aqui

O que é bom vem lá de fora? No domingo passado, em comum acordo, a presidência do Clube do Remo e o até então treinador João Nasser Neto, optaram por uma mudança na comissão técnica azulina na tentativa que a equipe retomasse os bons desempenhos em campo

O que é bom vem lá de fora?

No domingo passado, em comum acordo, a presidência do Clube do Remo e o até então treinador João Nasser Neto, optaram por uma mudança na comissão técnica azulina na tentativa que a equipe retomasse os bons desempenhos em campo – decisão tomada antes da vitória expressiva do time, por 3 a 0, sobre o São Raimundo, em Belém. Netão saiu do comando no futebol profissional para assumir a função de coordenador-técnico e, ao que tudo indica, voltar a trabalhar diretamente com a base azulina.

Apesar de quase 20 anos de casa e ter rodado por todas as áreas do futebol, de campo ou salão, e, especialmente ter obtido bons resultados como a permanência do Leão na Série C em 2018, após uma iminente queda à Quarta Divisão do Nacional, João Neto caiu, no geral, por dois resultados negativos: a eliminação precoce da Copa do Brasil e derrota no primeiro Re-Pa deste ano. No entanto, um fato que tem se arrastado há anos provavelmente teve mais peso para a alteração: a sua origem local.

Há tempos, os treinadores paraenses, ou os que possuem identidade forte com o estado, sofrem com o desprestígio, em especial nos titãs da capital. Netão por exemplo, foi cobrado pela baixa qualidade apresentada pela sua equipe. Embora sua parcela de culpa exista, do atual elenco azulino somente quatro jogadores foram indicados pelo ex-técnico (Djalma, Vacaria, Tiago Félix e Samuel) para fazer parte do grupo. No próprio Remo, no entanto, treinadores com rendimentos ainda piores tiveram mais tempo de serviço. Os exemplos variam de Leston Júnior a Ney da Matta, que emplacaram pouca quantidade de vitórias e igual desempenho ruim em campo.

Do outro lado da avenida Almirante Barroso, a situação não é diferente com o Paysandu. Quando um treinador é contratado visando um trabalho a longo prazo, sempre existem dois pesos e duas medidas. Nas oportunidades em que contaram com técnicos da terra, a paciência foi menor. Como no caso da demissão de Lecheva, que subiu o time à Série B, em 2012, e foi campeão paraense em 2013, caindo logo no começo da Série B; ou quando Rogerinho Gameleira assumia como interino, tinha bons resultados, mas nunca era efetivado no cargo. Em vez disso, fez apostas em técnicos como Sidney Moraes ou Guilherme Alves, que não deixaram um pingo de saudade, com trabalhos medíocres.

DIGA LÁ, TORCEDOR...

Para o torcedor do Remo, Gabriel Almeida, administrador, as críticas e cobranças são válidas na medida em que as coisas vão ocorrendo, seja qual for o local de nascença do profissional. “A pressão é normal, sempre existiu e vai ser assim. A culpa não é da torcida nesses casos. (É da) Diretoria e do próprio técnico também. Se não está indo bem, tem que trocar, não importa se é daqui ou não”, disse. “Tem a cobrança a mais, mas a falta de experiência dos treinadores daqui provoca isso também”, completou Marcos Carvalho, estudante de jornalismo, torcedor do Paysandu.

Cobrança em dobro é um dos entraves

Em média, os treinadores de fora costumam ter o dobro de oportunidades para assumirem os grandes do Estado. Além disso, a paciência e o apoio por parte da própria torcida ajuda no fato dos “forasteiros” possuírem mais longevidade à beira dos gramados. A exemplo do Clube do Remo, com Netão, que contava até janeiro com o suporte de 90% do Fenômeno Azul, mas, em menos de um mês, o profissional viu sua situação ir do céu ao inferno.

João Neto chegou a comentar sobre o peso da torcida em momentos de adversidades. “Eles (torcedores) têm memória curta, esqueceram que ano passado a gente assumiu em uma situação mais grave e que demos a volta por cima. É muito passageiro. Ninguém gosta de perder, mas em todo começo de trabalho, um grupo novo passa por isso”, comentou. O treinador João Caio, mais conhecido como Cacaio, campeão paraense e que subiu com o Remo para à Série C, em 2015, mas não teve a oportunidade de seguir no comando azulino, seguiu no mesmo embalo quanto à pressão exagerada. “A gente já precisa agradar diretoria, que aposta quando não está nada bem. Fazemos o trabalho certinho e mesmo com o resultado fica aquela pulguinha atrás da orelha. A gente não entende muito isso, mas faz parte”, contou Cacaio.

É uma questão de oportunidade e valorização

De acordo com Sinomar Naves, tricampeão paraense e que já dirigiu o Paysandu na elite do Brasileiro, em 2005, além de outras passagens pela Série C e D, os técnico daqui não deixam a desejar em comparação com profissionais de outros lugares. “Nós temos exemplos e não só a nível regional, mas como nacional. O Dutra foi campeão com a Tuna, o Lúcio Santarém com o São Raimundo. Quem subiu com o Remo foi o Cacaio. O que falta é oportunidade, e se os grandes daqui não dão, como que os de fora vão dar? Posso dizer que temos tanta qualidade quanto os outros”, ponderou.

Hoje, muitos treinadores conciliam ou até mesmo abdicam alguma oportunidade de trabalho para conquistar a licenciatura da CBF recomendada à categoria. Apesar do título, contudo, existem coisas que vão além de um certificado. “Com todo o respeito, mas é um curso de uma semana. Em duas, o nosso treinador cai. A experiência é mais importante. O nosso futebol é muito distante e isso prejudica também para a nossa valorização no mercado”, disse Sinomar Naves.

Como o calendário local é restrito, fazendo com que a oportunidade nos dois grandes seja escassa, a migração para outros polos se torna difícil, independente do currículo conquistado. Um dos poucos que ainda usufrui de um retorno é Fran Costa, conhecido como “Rei do Acesso”, por incríveis dez subidas da Segundinha à elite do Paraense, com direito a três títulos, sendo o mais recente na temporada passada com o Tapajós.

Prestes a iniciar os trabalhos no Tocantinópolis para o Estadual, Fran Costa destacou que para um treinador local ter sucesso o que conta é, exclusivamente, o seu desempenho, uma vez que não existe apoio. “Fica até difícil de entender. Eu sempre trabalhei nos times emergentes, com dificuldades estruturais, financeiras, mas consegui fazer um trabalho positivo. Uma série de fatores atrapalha a ida aos grandes, porque a profissão está encharcada. É empresário que traz treinador e jogador e ainda paga a diretoria. Como dar oportunidade para gente?”, questionou o treinador, que soma ainda títulos estaduais com o Trem-AP, em 2011, e com o Penarol-AM, em 20009 e 2010. “Ainda acho possível fazer um trabalho neles (Remo e Paysandu), uma hora sempre aparece a chance”, completou.

O Dutra foi campeão com a Tuna, o Lúcio Santarém com o São Raimundo. Quem subiu com o Remo foi o Cacaio. O que falta é oportunidade, e se os grandes daqui não dão, como que os de fora vão dar? Sinomar Naves, técnico.

Foto: MQ/Arquivo

Fran Costa tem vários bons trabalhos em times emergentes, mas não consegue chegar à dupla Re-Pa. Ele bota parte da culpa em empresários. Foto: Daniel Costa/Arquivo

(Matheus Miranda/Diário do Pará)

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