Argentino Sergio Candelario Sosa trocou Buenos Aires por Belém em busca de um sonho

Durante as duas últimas semanas, Sergio Candelario Sosa trocou o clima temperado dos setembros em Buenos Ares, na Argentina, pelos quase 40 graus das manhãs em Belém nos treinos do elenco do Tiradentes, em Outeiro. A adaptação não tem sido das mais fáceis. Além da temperatura, há uma forma diferente de jogar, a barreira da língua, a adaptação a um novo país, mas tudo cai por terra por causa de um sonho de criança, o de ter uma boa carreira como jogador de futebol.

Aos 24 anos, natural de San Martín, na Grande Buenos Aires, o atacante saiu de um time pequeno, o Independiente Rivadavia – não confundir com o homônimo de Avellaneda, sete vezes campeão da Libertadores – e com passagens com outros que disputam lugares ao sol entre a segunda e a terceira divisões locais, atrás de uma chance melhor.

A busca por uma chance que o leve a clubes de maior expressão é a sua missão. “O Brasil é um grande centro do futebol mundial e todos olham quem joga aqui. Para mim, é uma oportunidade de mostrar meu potencial e, quem sabe, um dia chegar à Europa, que é o sonho de quase todos os jogadores hoje em dia”, conta Sergio, ainda sem arranhar quase nenhuma palavra em português.

O obstáculo do idioma aos poucos vem sendo ultrapassado, inclusive com o aprendizado dos termos e expressões utilizadas pelos boleiros brasileiros. Mas do que isso, a adaptação principal foi quanto à forma de jogar. “Na Argentina, nós nos acostumamos a jogar no 4-4-2, com os atacantes com muita liberdade para flutuar pelos lados. Aqui geralmente os times têm dois homens abertos e um mais centralizado. Não sou de jogar fixo, gosto de me movimentar. Aos poucos tenho me adaptado a essa forma de jogar”, conta.

Argentino quer chamar a atenção da dupla Re-Pa

O ano de 2018 marcou a temporada com o menor número de estrangeiros no Campeonato Brasileiro desde 2012. Este ano, foram 49 atletas gringos no início do Brasileirão, número que aumentou com as contratações. Na temporada anterior, o Brasileirão começou com 68 estrangeiros vestindo camisas de equipes brasileiras.

Desde que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aumentou o limite de estrangeiros de três para cinco atletas relacionados por jogo, a quantidade de jogadores de outros países nos 20 times da Série A nunca havia ficado abaixo de 60.

Mesmo com essa diminuição, Sergio vê o país como uma pautar a carreira. “Ele veio ao Brasil para assinar com um clube do nordeste, mas a contratação não saiu e ficou a oportunidade de jogar a Segundinha aqui para manter a forma e poder se destacar”, explica Brenno Leal, que vem atuando como empresário do jogador.

O Atlético Clube Tiradentes está no grupo A3 do Campeonato Paraense da segunda divisão, juntamente com as equipes de Sport Belém, Vila Rica e Desportiva (Foto: Divulgação)

“Preciso jogar para que as pessoas vejam meu potencial. Conheço a força de Paysandu e Remo aqui e se conseguir chegar a algum desses clubes vai ser uma chance muito boa. São clubes de massa e que têm uma visibilidade enorme”, diz Sergio.

Papão e Leão têm tido uma tradição recente que segue uma linha nacional, o de buscar atletas estrangeiros para seus elencos (ver quadro). “Jogar por um clube de massa é sempre muito bom. Todo jogador gosta disso e já vi que a torcida daqui é muito forte”, afirma o atacante.

Hermano já marcou um gol em amistoso

O técnico Fábio Coelho fez elogios ao estilo de jogo do atleta argentino (Foto: Divulgação)

A interação de Sergio com os demais companheiros passa pelos caminhos normais de um ‘forasteiro’ em um clube acostumado a ter penas jogadores locais. Depois de um estranhamento inicial, veio um bom relacionamento, as brincadeiras e os acertos.

Para o treinador Fábio Coelho, a presença de um estrangeiro no elenco tem sido benéfica a todos. “O acaso o trouxe aqui, mas foi muito bem-vindo”, conta. “Ele tem a base e o lastro de uma formação no futebol argentino, que me agrada muito. Aos poucos, ele foi se encaixando no time, mesmo ainda estando longe da melhor forma física”, completa.

Fábio revela que a relação de Sergio com os companheiros só tem feito melhorar nos últimos dias, com ele totalmente adaptado e acolhido pelo elenco. “Isso é muito bom. O futebol facilita essa interação. A língua atrapalha um pouco com os companheiros, ainda. Comigo é mais fácil. Minha esposa é professora de espanhol e consigo me comunicar bem com ele”, afirma.

ADAPTAÇÃO

Uma amostra desse entrosamento ocorreu no último dia (2), quando ele marcou o gol da vitória do Tiradentes por 1 a 0 no amistoso contra o Pinheirense, realizado no estádio do Souza. O Tigre está na chave A3 da Segundinha, ao lado de Desportiva, Sport Belém e Vila Rica.

A adaptação a Belém conta com a providencial ajuda da família do empresário do jogador. O mineiro Brenno Leal mora há dez anos em Belém e, como pastor evangélico, já esteve por um ano em Buenos Aires, onde conheceu a família de Sergio, também muito ligado à igreja. “Não sou empresário, estou empresário por causa da amizade entre as famílias e por acreditar no Sergio. Tenho certeza que ele terá uma excelente carreira”, garante.

“Tem sido mais fácil estar aqui por causa dessa relação de amizade. Eles e o trabalho me ajudam com a saudade, em especial da minha família. Tão logo esteja estabelecido vou poder trazer minha esposa (Alejandra) e minha filha (Victoria)”, projeta o atacante hermano.

(Tylon Maués/Diário do Pará)