Arte em família de Ana Camelo

No seio da família, a criação. Ana Camelo, mãe do cantor e compositor Marcelo Camelo e do escritor Thiago Camelo, tem 66 anos e após deixar as atividades profissionais na área de direção financeira, passou a pintar de forma mais frequente. Seus quadros naifs - gênero que abriga os pintores populares, sem formação técnica e acadêmica - têm como trama mulheres e suas relações com o mundo. Além disso, ela passou também a escrever poemas, mas estes ficavam guardados. Até que um dia o irmão dela, Luís Otávio, leu os escritos e pediu para musicar. A carreira tardia tem a potência do amadurecimento e a narrativa do sublime.

Assim surgiu o projeto “Acalanto”, que reúne um livro com as poesias e as músicas gravadas, entre sambas e baiões, e ainda as suas pinturas, e será lançado no próximo dia 14, no Rio de Janeiro. Marcelo assina a produção musical e a família inteira acabou entrando no projeto do disco-livro. Mallu Magalhães, que é casada com Marcelo, é a voz do samba “Atraente”. Elisa Menezes, esposa de Thiago, foi responsável pela editoração; e Thais, esposa de Luís Otávio, também se apresenta como cantora em uma das faixas, “Lamento”.

“Quando meu irmão quis saber se eu o autorizava para musicar, respondi que sim. E assim passamos quase um ano na produção deste projeto familiar, um processo muito prazeroso de encontro e harmonia”, conta. No disco, Ana Camelo interpreta “Acalanto”.

"O Marcelo respeita muito aquele que fez a música, e sempre dizia para mim ‘quero que você esteja feliz e gostando’”, disse Ana Camelo (Foto: Reprodução/Facebook)

“O olhar do meu irmão foi dando corpo para o projeto. Gravamos em estúdio voz e violão, mandamos para o Marcelo em Portugal, ele tem estúdio lá, e ele nos dava palpite. Também fui lá visitar meu filho e discutimos mais o arranjo de determinada música. Esse trabalho durante todo esse período foi de muito capricho e dedicação de toda a família, de forma independente. Não temos gravadora. Foi feito com muito esmero e carinho”, revela Ana Camelo.

A música foi pensada por todos, mas Marcelo assumiu a direção musical e, segundo sua mãe, tornou-se um excelente observador do caminho que as canções deveriam tomar. “O Marcelo respeita muito aquele que fez a música, e sempre dizia para mim ‘quero que você esteja feliz e gostando’. Daí a gente pensava se entrava um lalaiá aqui, outro ali. No CD só tem a gente cantando e produzindo, então foi um clima de muita concordância, não havia discrepância no que um pensava e outro queria, estávamos todos pensando no mesmo rumo”, diz.

Pinturas naifs de Ana ilustram o livro com poesias musicadas do porjeto "Acalanto" (Foto: Divulgação)

Sentimento feminino dá o tom a poemas e imagens

Autodidata, Ana Camelo pinta e escreve o que sente. São sentimentos e histórias ordinárias do dia a dia, da experiência com o outro, da observação de cenas e causos de conhecidos ao seu redor. O universo feminino predomina em sua temática de pintura e eu lírico, mas ela revela que também escreve por vezes como voz masculina, apenas por uma questão estética.

“Gosto de abordar a luta da posição da mulher na sociedade e, quando represento as mulheres, falo de papéis importantes, em qualquer que seja a área da sociedade. E a mulher pode qualquer coisa, existe esse discurso nas telas, nos poemas. É naturalmente com quem tenho mais intimidade, mas alguns poemas estão no masculino. É uma questão de som, ficar mais harmonioso. Nos quadros, gosto de pensar que as mulheres têm muitas histórias para contar”, finaliza.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)