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Pará tem cenário de quadrinhos de se orgulhar quadrinhos

O contato inicial com os quadrinhos é ainda na primeira infância, quando estamos aprendendo a ler e vem o encantamento pelas primeiras palavras, ainda aliado muito a uma necessidade de associação visual. Assim é com a maioria das pessoas nessa fase da vid

O contato inicial com os quadrinhos é ainda na primeira infância, quando estamos aprendendo a ler e vem o encantamento pelas primeiras palavras, ainda aliado muito a uma necessidade de associação visual. Assim é com a maioria das pessoas nessa fase da vida e assim foi também com Elton Galdino, fanzineiro há sete anos, pesquisador e professor de quadrinhos há 15 anos no Curro Velho. “O quadrinho é mágico já nesse momento, porque trabalha tanto texto quanto imagem, né? E digamos que o meu aprendizado no desenho coincidiu com meu aprendizado da leitura”, diz.


Conhecidas como HQs, as histórias em quadrinhos são um modelo de leitura que mistura elementos textuais e visuais, criando a sensação de sequenciamento das cenas. A primeira história nesse formato de que se tem notícias no mundo foi criada pelo artista americano Richard Outcault, em 1895, publicada em jornais de Nova York com uma tirinha, chamada “The Yellow Kid”. Por aqui “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”, de autoria do cartunista Ângelo Agostini, foi publicada em 30 de janeiro de 1869, por isso no dia de hoje é comemorado o Dia Nacional dos Quadrinhos no Brasil, uma trajetória que completa 150 anos.

Em Belém não só existe uma galera muito fã dessa arte, mas também uma produção local neste cenário, onde a paixão pelos gibis virou profissão. Como é o caso de Elton Galdino, citado no início desta reportagem.

Galdino trabalha como ilustrador e diretor de arte e criou em novembro do ano passado o perfil no Instagram @tripas_tristes, onde conta histórias reais. “Não sou muito dos super-heróis, embora eu não deixe de gostar do tema por uma questão nostálgica. Atualmente trabalho muito mais com questões ligadas ao cotidiano urbano, personagens e situações baseadas em coisas vivenciadas por mim ou pessoas próximas, mas que sejam comum a muitas pessoas”, detalha.

Suas histórias têm tom mais leve e são voltadas para o público majoritariamente jovem. “O conteúdo é visualizado na maioria das vezes pelo celular. Então, não dá para fazer algo com muito texto ou muitos quadros. Ficaria chato e desinteressante para quem vê”, explica.

NACIONAL

Um dos desenhos de Alexandre Coelho para a “Luluzinha Teen”. Acima, autorretrato de Elton Galdino. (Ilustrações: Divulgação)

Outro que mergulhou no universo dos quadrinhos ainda na infância é Alexandre Coelho, quadrinista formado em Artes pela Universidade Federal do Pará. “Eu desenho desde criança e comecei a ler quadrinhos que meus tios largavam pela casa, tipo Marvel, etc. Nessa época, fazia gibis bobinhos em blocos de nota para vender aos meus colegas da rua. A paixão e a vontade de fazer HQs me acompanhou a vida toda, sempre praticando e me reunindo em grupos de amigos desenhistas. Fui instrutor em oficinas da Fundação Curro Velho bem novo. No fim da adolescência, comecei a fazer trabalhos para agências de publicidade, tipo cartilhas em quadrinhos”, cita.

Com tanta experiência e algumas artes publicadas on-line vieram trabalhos que ele considera mais expressivos. Atualmente, dedica-se à produção de uma HQ para a Argo Comics, editora independente norte-americana. O nome é “Sumo Boy”, ainda não lançada, mas o quadrinista já está produzindo a terceira edição. “Consegui este contrato no início de 2018, buscando trabalhos, até que um amigo me apresentou ao editor. Após um teste, fui aprovado e comecei a produzir a primeira edição”, diz.

Ele não pode mostrar o trabalho ainda, mas já adianta que se trata de um garoto que possui a densidade de seu corpo muito elevada: ele pesa 1 tonelada e tem superforça e resistência. “Sua origem é baseada em lendas do folclore japonês e ele usa o sumô como arte marcial, pois foi desta maneira que aprendeu a controlar sua densidade. É criação do meu editor, Dan Sehn. Ele também é roteirista”, adianta.

Alexandre trabalha como quadrinista há cerca de 20 anos e faz parte do coletivo “Açaí Pesado”, que tem como objetivo facilitar a captação de recursos para uma publicação. Ele também já desenhou a HQ “Luluzinha Teen”, da Ediouro.

Viver do próprio traço ainda é desafio

O personagem “Mágico Se” também dá nome a estúdio de quadrinhos criado por coletivo de criadores locais. (Ilustração: Divulgação)

Ainda engatinhando no mercado de quadrinhos - atua há apenas 8 meses -, mas cheio de talento, Ítalo Miranda, 24 anos, roteirista, editor e empreendedor, montou com alguns amigos o projeto “Mágico Se”, estúdio de quadrinhos de Belém que trabalha com a publicação apenas para internet e já contabiliza 10 mil seguidores. “Atualmente produzimos com foco mais no Instagram. Mas pensamos, sim, em expandir e criar uma editora com foco nas revistas digitais. Ainda estamos no caminho, mas posso dizer que esse será um grande passo para o nosso futuro”, diz Ítalo, que trabalha com roteiro e produção audiovisual há três anos.

O “Mágico Se” tem quatro fundadores, cada um com uma função dentro do processo de produção. Ítalo Miranda, que assina Ito, é roteirista e editor; Alan Furtado e Matheus Souza fazem os desenhos; e Helô Rodrigues é colorista e diagramadora. Hoje, eles contam com um parceiro que se juntou ao grupo, Ad Gomes, outro artista que produz histórias na editora virtual.

O grupo já produziu uma primeira revista, a “Mágico Se número 1”, com histórias maiores e exclusivas que não estão no Instagram. A impressão foi paga com o próprio dinheiro do grupo, com quatro histórias diferentes, cada uma sobre um dos quatro primeiros personagens da editora: Mágico Se; Jorge, o Astronauta Perdido; Solitária Morte; e Ju Desguiada.

Ele descreve a história do “Mágico Se” como sendo de uma linha mais lúdica ao falar sobre adoção, um assunto que ainda é tabu. Já a do Astronauta fala sobre desejos e traição, quando o personagem tenta voltar para a Terra e sempre acontece algo. A história da Solitária Morte é sobre amores canibais, enquanto a da Ju Desguiada fala sobre violência, periferia e minorias.

“Já nos perguntaram bastante se somos de São Paulo ou do Rio de Janeiro. É engraçado, mas ao mesmo tempo ofensivo. Existem tantos artistas incríveis aqui no Pará, mas que não estão na mídia. E a grande dificuldade de produzir aqui é justamente a valorização da arte dos quadrinhos, porém a internet nos possibilita produzir e alcançar o público que se interessa pelas histórias que fazemos, aqui e fora”, pontua Ítalo.

DESAFIOS

Falta investimento, mas sobra criatividade no mercado dos quadrinistas paraenses, com tantos grupos e talentos produzindo por aqui. Mas viver dessa arte continua um desafio. “Ainda não posso dizer que vivo disso. Sou professor de Artes e concilio os dois trabalhos, mas o objetivo é trabalhar com quadrinhos 100% do tempo”, admite Alexandre.

“Para ser quadrinista no Pará, ou tu trabalhas para editoras de fora, ou tu vives de áreas afins, como a ilustração, publicidade ou design. Temos um cenário muito indefinido por aqui, que passa também por uma questão política. Não temos, por exemplo, um edital específico ou ao menos com regras que abranjam as especificidades dos quadrinhos. O quadrinho é uma área não levada muito a sério pelo setor dito intelectual por aqui e eu acho que é muito mais por falta de conhecimento da parte de lá do que de qualidade da parte daqui”, desabafa Elton Galdino.

Mesmo assim, ele acredita que a possibilidade de viver de quadrinhos é real, dependendo do tipo, já que alguns são mais comerciais e de fácil retorno financeiro por conta do seu apelo junto ao público, enquanto que os mais alternativos têm um público específico. “A nível nacional, o cenário editorial como um todo anda bem complicado, com editoras e livrarias fechando. Por outro lado, tu vês empresas famosas por distribuição de conteúdo on-line se firmando por aqui. O financiamento coletivo não só é uma realidade como é a forma mais certeira de vender teu quadrinho e alcançar pessoas que querem o teu material, sem intermediadores. E por último temos a internet, que democratizou a informação de uma forma nunca antes feita na história da humanidade. Nesses sentidos, eu só tenho boas expectativas por achar que o poder está cada vez mais na mão de quem produz”, analisa.

Engajamento feminino é tema de bate-papo

Temas como depressão e ansiedade são fonte de inspiração para o trabalho de Ty Silva. (Ilustração: Divulgação)

O universo dos quadrinhos ainda é muito masculino e facilmente associado a “coisa de meninos”, barreira que começa desde a infância. Mas quadrinhos são, sim, leitura de meninas e podem ser feitos por meninas. No mercado nacional há nomes reconhecidos como Gabi Lovelove6 e Luli Penna, e a iraniana Marjane Satrapi é festejada internacionalmente. Por aqui temos Ty Silva, ilustradora, que se iniciou neste universo como quadrinista no ano passado após participar de um laboratório.

“Lá a gente produziu o ‘Simplesmente Eneida’, baseado na obra da escritora Eneida de Moraes. Depois disso me juntei ao Coletivo Puruma, que foi criado após esse laboratório e decidimos continuar a produção de quadrinhos além de ilustrações. Lançamos agora, na Semana Nacional dos Quadrinhos, o fanzine ‘#DRX’, que foi uma iniciativa do Coletivo Açaí Pesado. Em breve vamos estar no novo número do Açaí Pesado também”, avisa.

Ty lê quadrinhos desde a infância, estuda a linguagem desde a graduação e gosta de abordar temáticas sobre o fantástico, além de questões políticas e falar também sobre depressão/ansiedade. “Ser mulher nesse universo é bem complicado. Apesar de termos ganhado muito mais força, ainda existe muito preconceito. Felizmente a gente tem conseguido se unir e ter mais visibilidade. A internet ajuda muito nesse sentido. Eu conto com o Coletivo Purumã também, que tem outra mulher, que é a Tico de Melo, e os homens que estão no grupo são muito companheiros e sempre estão impulsionando e ajudando a gente”, comemora.

O engajamento feminino nos quadrinhos é, inclusive, assunto de bate-papo na Fundação Cultural do Pará hoje, às 18h30, dentro da programação da “5ª Semana do Quadrinho Nacional”. “Tem muita gente talentosa e sem visibilidade. Um dos motivos do bate-papo sobre engajamento feminino é exatamente o de impulsionar mais mulheres a produzir e não ter medo de expor seus trabalhos”, adianta Ty, uma das convidadas.

Conheça mais

5ª Semana do
Quadrinho Nacional
Quando: Até sexta-feira, 1° de fevereiro, das 15h às 21h
Onde: Biblioteca Pública Arthur Vianna (Fundação Cultural do Pará/Centur – Av. Gentil Bittencourt, 650)
Quanto: Entrada franca
Informações: (91) 3202-4332

PROGRAMAÇÃO

- Hoje
Bate-papo “Engajamento Feminino nos Quadrinhos”, com Ty Silva, Helô Rodrigues e Mandy Barros. Às 18h30, no auditório.
Workshop “Roteiro para Quadrinhos”, com Ítalo Miranda. Das 15h às 17h, no auditório.

- Quinta-feira, 31 de janeiro
Palestra “Representação e Representatividade Negra nas HQs e Ilustração”. Às 18h30, no auditório.
Workshop “Desenho e Arte-final”, com Ty Silva. Das 15h às 17h, no auditório.

- Sexta-feira, 1° de fevereiro
Palestra “Web Quadrinhos Nacionais”, com Alan Furtado. Às 18h30, no auditório.
Workshop “Colorização em Aquarela”, com Lívia Guimarães e Helô Rodrigues. Das 15h às 17h, no auditório.

OBS: A programação tem ainda exposição no hall e feira de quadrinhos

(Aline Rodrigues/Diário do Pará)

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