'Tangerine' discute papéis de gênero, filme de Sean Baker será exibido só hoje no Sesc

Assim que sai da prisão, a prostituta transexual Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) descobre, através de sua melhor amiga (Mya Taylor), que o namorado Chester (James Ransone) está saindo com outra pessoa, uma mulher cisgênero. Sin-Dee decide encontrar os dois e puni-los pela traição. Esse é o enredo do filme "Tangerine", de Sean Baker, que será exibido hoje, às 18h, no Centro Cultural Sesc Boulevard, dentro da programação da Mostra Corpos Elétricos.

Até fevereiro, toda quarta-feira, a mostra exibe filmes que abordam questões de gênero, dificuldades e preconceitos cotidianos.

"A discussão de gênero é hoje uma das mais importantes e que precisamos enfrentar de maneira afirmativa. Fomentar discussões acerca dessa temática permite que coloquemos em evidência o preconceito que habita cada um de nós e também envolve garantir o respeito à diversidade e ao direito dos corpos se expressarem livremente em busca de sua identidade. Dessa forma, abrimos o novo ano com questões que trabalham diretamente com as dificuldades e preconceitos cotidianos", diz Ana Carolina Abreu, técnica em Cinema do Sesc Boulevard.

Lançado em 2016, "Tangerine" foi totalmente filmado com um telefone Iphone 5S, usando um aplicativo que permitia ao diretor melhor ajuste de foco e também adaptação ao formato widescreen. O filme tem como protagonistas duas atrizes transgênero, Mya Taylor e Kitana Kiki Rodriguez, em uma interpretação que chamou a atenção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, para a necessidade de ajustar a forma como atores e atrizes trans eram indicados – passando a ser indicados nas categorias do sexo com o qual se identificam.

O filme exibido na abertura da mostra, no dia 16, foi "Corpo Elétrico", de Marcelo Caetano, um drama brasileiro que mostra Elias, um assistente numa confecção de roupas no centro de São Paulo que mantém pouco contato com a família na Paraíba e passa seus dias entre os tecidos do trabalho e encontros com homens. Mas no final do ano bate as reflexões sobre possibilidades de futuro, reconexões com o passado e muitas horas extras, que acabam por aproximá-lo dos colegas da fábrica e consequentemente inseri-lo em novos círculos de amizade e cenários.

Na próxima quarta, 30, a programação segue com a exibição do filme "Uma Mulher Fantástica", do chileno Sebastián Lelio, que mostra o dilema de Marina, uma garçonete transexual que passa boa parte dos seus dias buscando seu sustento. Seu verdadeiro sonho é ser uma cantora de sucesso e, para isso, canta durante a noite em diversos clubes de sua cidade. O problema é que, após a inesperada morte de seu namorado e maior companheiro, sua vida dá uma guinada total.

"Um filme totalmente necessário, que agrega à mostra. Na situação atual do Brasil, é emergencial discutir esse tema e ocupar a tela do Sesc Boulevard, construindo referências e possibilidades de olhares e percepções sobre o corpo. O corpo que não é tradicional na sociedade, que muitas vezes é negado. Por exemplo, no filme 'Uma Mulher Fantástica' o corpo feminino está presente. Existe a transexualidade, um corpo potente, transformado, que atravessa muitas questões psicológicas e físicas", teoriza a técnica.

(Aline Rodrigues/Diário do Pará)