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Obra é censurada em exposição

O mais recente prêmio Jabuti foi histórico para as artes gráficas no Pará. Em 2017, na primeira vez em que houve uma categoria específica para os quadrinhos dentro do mais importante prêmio literário nacional, o vencedor, Gidalti Moura Jr, saiu de Belém,

O mais recente prêmio Jabuti foi histórico para as artes gráficas no Pará. Em 2017, na primeira vez em que houve uma categoria específica para os quadrinhos dentro do mais importante prêmio literário nacional, o vencedor, Gidalti Moura Jr, saiu de Belém, e não só isso, com uma graphic novel inspirada no texto de outro paraense, Luizan Pinheiro, e no universo da cidade - “Castanha do Pará”. É com essa chancela que Gidalti – que esta semana segue para a Feira do Livro de Bogotá, na Colômbia, na comitiva do Ministério da Cultura, para divulgar seu trabalho – participa como um dos destaques da programação da “Exposição de Quadrinhos”, aberta no último dia 12 e que segue até o dia 30 no Parque Shopping. Mas onde o público deveria encontrar o desenho dele que ilustra a capa da HQ, ontem surgiu uma tela preta no lugar. O motivo? A organização do evento teria retirado a imagem após uma reclamação de que ela ofenderia a Polícia Militar do Pará.

A aquarela em questão mostra o personagem principal, o Castanha, um menino com a cabeça de um urubu, fugindo de um policial militar em meio às bancas dos feirantes do Ver-o-Peso. O policial aparece com o cassetete em riste.

O publicitário,professor e artista visual Gidalti Jr, que hoje mora em São Paulo, diz que não recebeu nenhum comunicado formal sobre a retirada da obra da exposição, mas que chegou até ele uma foto da tela preta que a substituiu, e comentários de que a ação teria sido motivada por críticas sobre a forma com que o policial foi retratado. Surpreso, Gidalti fez um desabafo nas redes sociais: “A obra é ficcional, tem caráter lúdico e expõe situações rotineiras nas metrópoles brasileiras. Quem a compreendeu como apologia ao crime e/ou a desmoralização da polícia militar, o faz de forma leviana e sem ao menos ler o livro ‘Castanha do Pará’. A retirada da imagem da exposição é uma vitória parcial da ignorância, do medo e de forças antagônicas à liberdade”.

A declaração do Parque Shopping, enviada por email numa sucinta nota de duas linhas, declara que “apenas cedeu o espaço em sistema de comodato para a montagem do evento” e que “reafirma sua missão de incentivar as artes e dar luz ao trabalho de curadores e artistas paraenses”.

No entanto, em nota, a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Pará declara que “comunicou à administração do Parque Shopping a insatisfação da tropa quanto à abordagem da imagem da atividade militar na obra”. Diz a nota ainda que “a decisão de retirada foi do Parque, uma vez que a PM não tem qualquer ingerência sobre a medida”.

Segundo a assessoria, “a Polícia Militar ressalta a defesa da liberdade de expressão e dessa forma não escondeu a própria discordância à tela exposta pelo artista Gildati Moura Jr”.

Obra em questão

Escolha movida pelo medo, diz Gidalti

Para Gidalti Jr., se houve repercussão negativa, ele diz ser calcada na falta de entendimento de seu trabalho. “É um percalço (a retirada da obra), mas nada que abale o nosso trabalho. Eu acho válido o posicionamento da polícia e concordo que eles têm o total direito de se manifestarem contra a ideia da capa. Faz parte do jogo democrático. Mesmo que eles tivessem pedido para retirar a obra, eu acharia válido. Mas o fato da exposição ter optado por tirar a capa, para mim é uma fraqueza”, diz.

O artista reclama, no entanto, da censura a uma obra de cunho artístico e de ficção. “Quando eu coloco a censura, repudio é que existe uma censura velada muito pautada por meio das redes sociais. É gente por trás de um computador que usa de palavras agressivas, ameaças para inibir um conteúdo, dizer o que se deve pensar. O que sou contra é que as instituições se intimidem com as vozes radicais das redes sociais, que acho que são minoria. Não é uma censura categórica, é velada pelo medo e pela ignorância. E sinceramente acho que não é a postura da Polícia Militar. Não acho que a Polícia teria uma opinião tão ingênua sobre uma produção artística. Dentro do contexto da história, o policial é o personagem mais humano”, destaca.

As vozes radicais vêm de lugares como o perfil “Guerreiros do Pará”, no Facebook, onde chegou a ser postada a mensagem: “exposição de ‘artes’ no Parque Shopping na Augusto Montenegro. Eu como policial que trabalha junto com os feirantes do Ver-o-Peso me senti ofendido. Se ninguém do Comando da PM, associações, ou qualquer representante político não processar, eu vou processar. Com tantas coisas acontecendo no Estado no setor da segurança pública, ainda temos isso pra enfrentar”.

“O que tenho a dizer é que a capa do meu livro e mesmo o conteúdo dele não se trata de desmoralizar a polícia e ofender os militares. A reclamação não procede, mas cada um é livre para fazer o que quiser. Manifesto o meu respeito à corporação, mas a interpretação de que a capa é de caráter ofensivo reflete uma mediocridade de interpretação. E mesmo assim, todo mundo que atua na comunicação, mas áreas criativas, tem o direito à crítica. Seja ao Tribunal Superior Federal, ao Senado, à sua empresa jornalística, a quem eu achar pertinente, desde que seja dentro da legalidade. Alguns artistas atuam nessa esfera. No meu caso, acho que houve um imperativo da estupidez e na maldade como algumas pessoas julgaram a imagem, motivadas por extremismo e por algumas pessoas que querem polemizar nas redes sociais”, destaca Gidalti, que passou três anos produzindo “Castanha do Pará”, lançado em 2016, a partir de uma campanha de financiamento coletivo. Ele diz que não tomará nenhuma medida em relação à restrição. “Não convém tomar nenhuma atitude. As pessoas já estão se manifestando de maneira positiva”, completa.

Gidalti Moura Jr. acredita que veto deu amplitude a vozes radicais das redes sociais (Foto: Divulgação)

Artista ganha apoio nas redes sociais

Nas páginas do artista e do shopping no Facebook, muitos se manifestaram a favor do quadrinhista. “Não dá para mensurar a ignorância do tal PM que fez a denúncia e principalmente do shopping por ter acatado!”, disse um internauta. “Que falta de noção censurarem uma obra premiada nacionalmente de um autor local tão talentoso... Vocês ao menos se dignaram a ler (ou ao menos a abrir) o livro?? Que absurdo! Que ridículo!!”, indignou-se outro. “Não há explicação plausível para tal ato, senão o de censura baseada em valores pessoais” e “Gente, é sério que houve censura de uma obra que ganhou um dos principais prêmios literários nacionais?! Que absurdo com o ‘Castanha do Pará’! Não há explicação para isso!” foram outros comentários.

Ao que parece, toda a polêmica não abala o autor, que segue participando de muitos eventos literários. “O livro teve um reconhecimento que é impar, ajuda muito a obra a circular. É um selo (o Prêmio Jabuti) que atrai muitos leitores. Tenho participado de muitas feiras”, diz ele, destacando que já trabalha em uma nova história, sem, no entanto, dar detalhes sobre a obra. “Estou numa fase de muita introspecção produtiva. Não gostaria ainda de falar a respeito.”

(Diário do Pará)

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