plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 26°
cotação atual R$


home
_

Envolvimento dos pais pode ser mais eficiente para conectar crianças pequenas à leitura

Nem só de palavras escritas é feita experiência da leitura. Pode estar no som delas, do tom com que elas são ditas, naquele momento suspenso no tempo em que o livro é um mediador para troca de afeto, conhecimento, acolhimento. Por tudo isso, a leitura não

Nem só de palavras escritas é feita experiência da leitura. Pode estar no som delas, do tom com que elas são ditas, naquele momento suspenso no tempo em que o livro é um mediador para troca de afeto, conhecimento, acolhimento. Por tudo isso, a leitura não exige idade mínima para receber novos praticantes.

“Não concordo muito com essas classificações de idade para os livros. Quando você compartilha com um bebê o momento da leitura, se a experiência for significativa para eles, vale a pena”, garante Lara Meana, especialista em literatura infanto-juvenil, escritora e dona da livraria “El Bosque da la Maga Colibri”, em Gijon, norte da Espanha, que falou sobre o assunto no seminário internacional “Arte, Palavra e Leitura na Primeira Infância”, iniciativa do Instituto Emília e da Comunidade Educativa Cedac, realizada em parceria com o Sesc São Paulo e Fundação Itaú Social, com apoio do Instituto C&A e da Associação Cultural Espanhola (ACE), na última semana, em São Paulo.

“O livro é um espaço de encontro, que permite uma comunicação direta, sem precisar dar nada a mais. Essa poesia interna, o ritmo que colocamos para compartilhar algo com o bebê já é o suficiente”, completa Lara, referindo-se a livros comuns, sem todos os recursos de ilustrações grandiosas ou recursos sensoriais que os pais procuram na hora de pensar em livros para seus bebês - estes são ótimos, basta entregar nas mãos dos bebês e eles podem ficar fascinados, mas pode ser ainda melhor fazer deste um momento de troca, com mediação dos pais.

Patrícia Diaz é diretora de desenvolvimento educacional da Comunidade Educativa Cedac, instituição de abrangência nacional que realiza projetos para a formação de professores mediadores de leitura, e conta sua própria experiência. Para compensar o dia fora de casa, longe da filha adolescente, passou a ler para ela antes de dormir. E como um momento de afeto, entrega, deixava a filha escolher os livros. “Quando ela percebeu isso, que aquele era um momento em que eu marcava minha presença como mãe, ela começou a escolher cada vez livros maiores, para que aquele tempo durasse mais”, lembra.

Por isso Patrícia alerta para as armadilhas de associar a leitura a uma ferramenta para um fim, como fazem, por vezes, a escola e os pais. “É muito comum com as crianças pequenas, principalmente, que a leitura ocupe lugar de ensinamento de um comportamento, uma moral, uma atitude que se espera da criança. Isso tira a oportunidade de mostrar a leitura pelo prazer de ler”, destaca Patrícia. Isso não quer dizer que pais e professores não deveriam conversar sobre o livro, refletir junto com a criança. “O diálogo sobre as obras nos ajuda a nos formar como leitores”, completa a especialista.

Além do afeto, no momento da leitura também há uma transmissão de cultura, como destaca a psicanalista Patrícia Pereira-Leite, fundadora e coordenadora de projetos do A Cor da Letra – Centro de Estudos em Leitura, com sede em São Paulo. “Cada criança que nasce é um encontro entre as culturas do pai e da mãe. Então ler histórias para crianças, especialmente bebês, eu percebi como um espaço de negociação de culturas, de acolhê-las e prepará-las para esse caldeirão de culturas que elas encontram ao chegar no mundo”, afirma.

Mais poesia para os ouvidos das crianças

Quando falamos em literatura, a poesia acaba não tendo o mesmo destaque junto ao público que gêneros como o romance e a fantasia. Mas quando se trata dos bebês e crianças pequenas, “o encontro com a poesia é uma das formas mais intensas de entrar em contato com a literatura, pois tem um relação mais profunda com seu tipo de linguagem, aquele que vai na sonoridade, no ritmo, no prazer da leitura mais do que no sentido das palavras em um dicionário”, coloca a argentina Maria Emilia López, especialista em educação e leitura na primeira infância.

O lugar da arte, que é essa ruptura com o habitual, é amorfo e sem representações, abstrato, e por isso, onde há infinitas possibilidades de significado, e a mente dos bebês e crianças pequenas funcionam desse jeito, mais abertas para as percepções.

“É nesse ponto que as crianças e artistas têm formas muito parecidas de se relacionar com o mundo. As crianças são especialistas em leitura de poesia, um gênero que elas preferem e que ensinam a nós, adultos letrados, que o mundo pode ser olhado de forma mais aberta, abstrata. As crianças confiam plenamente na matriz do poema”, completa Maria Emília.

Essa conexão que se estabelece entre as crianças e a poesia é muito próxima do que ocorre com outros formatos de troca de linguagem/cultura com elas, como as cantigas de ninar e o brincar. “Acho que o bebê, antes de aprender semântica, escuta as tonalidades. Percebe instintivamente que tem um ritmo, seja na música, na poesia, no jeito de contar uma história e apresentar personagens. Ele entra nesse ritmo. Muito rápido os bebês começam a brincar com esses tons que nos ouvem produzir”, destaca Patrícia Pereira-Leite.

Stela Barbieri, que é artista, educadora, escritora e contadora de histórias, conhece bem essa relação das crianças com a literatura, e diz que elas se tornam espelho do que lhes é passado. “Eles aprendem a música da gente”, diz ela, e exemplifica com um vídeo no qual duas professoras contam uma história para um bebê. Uma delas é muito enfática na hora de contar a parte em que um lobo aparece, e a outra conta tudo com muita calma. Quando em sua linguagem de bebê ele conta de volta a história para elas, também conta para cada uma na maneira em que elas apresentaram a história. “Eles são investigadores natos de nós”.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em _

Leia mais notícias de _. Clique aqui!

Últimas Notícias