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Visita guiada comemora aniversário do Theatro da Paz revelando detalhes

São 9h da manhã. Entramos em um dos símbolos da prosperidade do ciclo da borracha em Belém, acompanhados do guia Athos Oliveira, 24 anos, não para assistir a um dos muitos espetáculos que rolam por lá, mas sim para conhecer um pouco da história desse luga

São 9h da manhã. Entramos em um dos símbolos da prosperidade do ciclo da borracha em Belém, acompanhados do guia Athos Oliveira, 24 anos, não para assistir a um dos muitos espetáculos que rolam por lá, mas sim para conhecer um pouco da história desse lugar que completa 140 anos de fundação em fevereiro.

Estamos falando do Theatro da Paz. E a primeira curiosidade é que o nome original, Theatro Nossa Senhora da Paz, foi alterado depois que o então bispo da época, Dom Macedo Costa, achou incorreto que um local de apresentações “mundanas”, sem qualquer relação ou propósito com a Igreja, levasse o nome de uma santa. Então, o local passou a ser chamado apenas de Theatro da Paz.

Iniciando a visita, Athos nos mostra a riqueza de detalhes do hall, composto por materiais decorativos importados da Europa, como ferro fundido inglês nos arcos das portas, escadaria em mármore italiano, lustre francês, bustos em mármore de carrara dos escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias, estátuas em bronze francês, piso com pedras portuguesas formando mosaico, além de paredes e teto pintados à mão representando as artes gregas. “O ferro da porta da frente representa as folhas e fruto do guaraná. Já as das laterais, a seringueira”, diz o guia.

Quem observa tudo atentamente é a pianista Adriana Andraus, 60 anos, que veio de Goiânia passar o Carnaval na cidade e aproveitou para conhecer um pouco da história do teatro. “Passei por aqui e disse: ‘tenho que visitar antes de ir embora’. O guia foi falando os detalhes, coisas maravilhosas, e você pensa: ‘que viagem demais, é o tipo de cidade que dá vontade de voltar”, diz.

Subimos as escadarias até a sala de espetáculos, que abriga 880 pessoas, com cadeiras instaladas desde a fundação, feitas de pau amarelo e ferro inglês. “É verdade que tem visagem por aqui?”, pergunta a professora Liana Nauar, que se intitula uma apaixonada pelo local. Tanto que faz pesquisas sobre o da Paz e foi numa delas que descobriu sobre as assombrações que rondariam o lugar. “Dizem que tem uma bailarina que sempre aparece aqui e uma criança que fica correndo nos corredores do Paraíso [último andar]. Um dia, uma pessoa chamou um funcionário e disse que tinha essa criança correndo e que estava atrapalhando o espetáculo. O funcionário, para não assustar, disse apenas que chamaria os pais da criança”, conta Athos.

Para cada andar, uma classe econômica

Athos explica que os quatro andares da área de espetáculos foram claramente foi divididos por classe econômica. O primeiro andar tem o teto pintado com rosas brancas, que simbolizavam a classe pura, local destinado, na época, aos barões da borracha e outro ricos. No segundo andar fica o camarote do imperador, hoje exclusivo do governador do Estado, e tem o teto pintado de rosas coloridas, que representam a diversidade da classe (diga-se de passagem que o imperador nunca pisou no da Paz). Já o teto do terceiro andar é todo pintado de flores do campo e era destinado à classe média. O último andar, chamado de Paraíso, era destinado à classe servil, que vinha acompanhando os seus senhores. E este andar não tem pinturas no teto. O local ainda conta com a plateia e o proscênio, aquelas sacadas que ficam bem pertinho do palco. “Lá, as pessoas pagavam um preço mais caro porque queriam ser vistas, arrumar um casamento ou até se lançar na política”, diz o guia.

O guia Athos Oliveira explica cada detalhe pensado para refletir a riqueza do período áureo da borracha, que atraía um público rico ao Theatro da Paz ávido por cultura e por ver e ser visto (Foto: Octavio Cardoso)

Teatro fica de portas abertas até dia 27

Seguimos para o segundo andar passando pela escadaria com placas de bronze francês, luxo feito para embelezar o lugar por onde o imperador passaria para seguir ao seu camarote de 10 lugares, que hoje encontra-se fechado para visitações. Nessa passagem, o piso de madeira é ilustrado com vitória-régias e flor de lis. “A flor de lis é o símbolo da riqueza e as pessoas acreditavam, na época, que ao passar por aqui conseguiriam esses atributos”, conta o guia, avisando, em tom de brincadeira, que os visitantes podiam passar quantas vezes quisessem pelo local.

Marilene Silva e a filha Cláudia Gabrielle tratam de seguir o conselho. Vai que dá certo, né? “Bem interessante voltar para um local cheio de história e memórias. E quando você conhece, acaba meio que fazendo parte do lugar. É a primeira vez que venho para uma visita monitorada e tem muita coisa que eu não sabia”, fala Marilene, que mora em Bragança, nordeste do Estado.

Durante a visita, ainda é possível conhecer o Salão Nobre (Foyer), local onde a nobreza costumava se reunir para bailes, pequenos recitais e também durante os intervalos dos espetáculos. O espaço é decorado com espelhos e lustres em cristal francês e bustos em mármore de carrara de dois grandes compositores da época, Carlos Gomes e Henrique Gurjão. Hoje, o espaço só serve para visitação.

Vinda de Goiânia, a pianista Adriana Andraus se apaixonou pelo lugar e espera um dia voltar (Foto: Octavio Cardoso)

A professora Marilene Silva e a filha Cláudia, que vieram de Bragança, já conheciam o Theatro da Paz, mas com a visita guiada tiveram acesso a novas informações (Foto: Octávio Cardoso)

POLÊMICA

O terraço frontal foi alvo de polêmica ao transgredir a norma da arquitetura neoclássica italiana, que ditava colunas pares e entradas ímpares. No da Paz, foi feito o contrário, com sete colunas e seis entradas. Quando o espaço passou por uma reforma em 1905, o frontal foi recuado, retirando uma coluna e uma entrada. Para decorar, foram colocados medalhões de musas que representam as artes cênicas: comédia, poesia, música e tragédia. No centro, foi colocado o Brasão do Estado do Pará.

“A visita foi ótima, estamos vendo a beleza que a gente não tem a calma de ver. É uma questão de ter amor à cultura. Se eu pudesse, seria até a faxineira daqui só para estar aqui”, declara a professora Liana, uma apaixonada declarada pelo teatro.

Um lugar que transborda história, encanta não só quem visita, mas quem também trabalha no local. “Eu acho revigorante trabalhar com visitação e mostrar aquilo que muitas vezes as pessoas não conhecem. A maior curiosidade é sempre sobre quem já se apresentou aqui e sobre a questão dos fantasmas”, finaliza o guia Athos Oliveira.

A visita tem uma hora de duração e faz parte da programação de aniversário do Theatro da Paz, que completa 140 anos, com o projeto “Portas Abertas”. A programação segue até dia 27.

PARA CONHECER

Projeto Portas abertas
Quando: Hoje e terça, às 9h, 10h, 11h, 12h, 14h, 15h, 16h e 17h; sábado às 9h, 10h, 11h e 12h; e domingo às 9h, 10h e 11h
Onde: Theatro da Paz (Praça da República)
Quanto: Gratuito
Informações: (91) 98726-4932 e 98033-2162

(Aline Rodrigues/Diário do Pará)

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