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Helena Aben-Athar lança livro que retrata outra Belém

Helena Aben-Athar Bemerguy aprendeu a bordar ainda criança. A arte-ofício fazia parte da vida de uma menina nos anos 1940. Mais velha de sete irmãos, ela entendia o traçados bordando as peças dos enxovais dos bebês que iam chegando à família. Hoje, aos 80

Helena Aben-Athar Bemerguy aprendeu a bordar ainda criança. A arte-ofício fazia parte da vida de uma menina nos anos 1940. Mais velha de sete irmãos, ela entendia o traçados bordando as peças dos enxovais dos bebês que iam chegando à família. Hoje, aos 80 anos, como um fio de Ariadne, são as linhas bordadas que a ajudam a fazer o caminho de volta àqueles tempos de uma Belém que tinha receio da guerra e sirenes noturnas, com toques de recolher, mas que vivia sem medo de si. Suas memórias se transformaram no livro “Tecituras”, que ela lança esta noite, no Centro Cultural Sesc Boularvard, com direito a uma exposição das imagens bordadas originais que deram origem às ilustrações do livro.

“Eu gosto muito de artes e desde menina me vi aperfeiçoando meus bordados e vi também vários livros de outros autores sendo rebordados. Então conversei sobre isso com minha filha Amélia, que me ajudou a organizar o livro. Eu queria registrar minha infância, porque vivemos histórias fascinantes no tempo em que vivemos em Belém”, conta Helena.

Ela criou suas crônicas em capítulos, sobre o pai, a mãe, a vida em família, a cidade... Depois mandou seus escritos para a artista visual Bárbara Damas, que criou ilustrações para reviver essas cenas do passado. Em um trabalho coletivo, as lembranças frutificaram em cores. “Ela me mandou as ilustrações de volta, com os personagens que desenhou a partir do meu texto e eu criei todo um cenário a partir daí, do que eu lembrava do que era a nossa vida, de como era viver em comunidade nos anos 1940, 1950, em Belém”, conta Helena. “A gente não tinha medo de ir para a porta, conversar. O rádio era a maior tecnologia. Eu queria falar dessas coisas afetivas, dos amigos. Tenho amigos de infância que ainda me acompanham. E eu quero mostrar o quanto vale isso tudo, ter uma família constituída, amigos”, completa a autora.

Das memórias de Dona Helena surgem, por exemplo, os ânimos da Segunda Guerra, quando a família morava em um casarão na avenida que ainda se chamava São Jerônimo, atual Governador José Malcher. “De noite tocavam as sirenes e as luzes da cidade se apagavam. Meu pai nos levava para o porão, onde dormíamos sobre esteiras com lençóis. Ele tinha medo, mas para nós era uma grande farra”, lembra Helena, sobre o pai, advogado e tesoureiro do London Banking, que no final da vida se transformou em magistrado. “A casa ainda existe. Fotografei alguns de seus azulejos e bordei no livro. Ficava em frente à obra da Providência, que hoje é o colégio Orlando Bitar. A rua era de paralelepípedos e perto tinha os trilhos por onde passava o bonde. Atrás do colégio, era uma vacaria onde comprávamos leite”, conta.

Com uma tiragem de apenas 300 exemplares – o preço de capa foi apenas para bancar custos de edição -, o livro faz um trajeto de volta que acaba dando ao leitor de suas crônicas um bilhete para uma viagem não só à casa da família, mas para o passado de toda uma coletividade. “Pela história familiar dela, das lembranças que ela tem dos meus avós, ela acaba recriando o cotidiano daquela época, o que era ser paraense, a cultura gastronômica, o papel da mulher... Tem uma passagem, por exemplo, em que ela conta que a mãe era a responsável por cuidar da casa e da família, e que só ia à janela para acompanhar os filhos à escola”, pontua a filha de Helena, Amélia, que é historiadora.

Aos 17 anos, Helena foi morar em Macapá. Lá casou, terminou os estudos e gerou os quatro filhos – que só nasceram em Belém porque, numa época em que os exames não conseguiam antecipar o sexo da criança antes do parto, a família judia precisava estar perto de uma sinagoga no caso do nascimento de um filho homem, para garantir que ele fosse circuncidado. Além de Amélia, Ester, Ruben e Marcelo, que geraram cinco netos. Mas a imagem do pai voltando de bonde do Ver-o-Peso, de onde depois chegavam os carroceiros com as compras da família, as brincadeiras de rua, viajaram com ela, num labirinto de histórias contadas e recontadas, para serem bordadas em novos corações.

(Aline Monteiro/Diário do Pará)

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