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Livro destaca movimentos da educação no País

Em um país que nasceu a partir de muitos povos, como querer uma educação que segue um padrão nacional? Em um país feito de diferentes cores, sabores, ritmos e saberes, como ensinar o mesmo conteúdo a todos? Foi indo em busca dessas diferenças e de projeto

Em um país que nasceu a partir de muitos povos, como querer uma educação que segue um padrão nacional? Em um país feito de diferentes cores, sabores, ritmos e saberes, como ensinar o mesmo conteúdo a todos? Foi indo em busca dessas diferenças e de projetos que deram certo no ensino, que uma equipe de pesquisadores, escritores e professores chegaram ao livro “Educação de Alma Brasileira”, lançado este ano e que foi o foco de um extenso debate durante o 3º Seminário Internacional de Educação Integral, realizado em São Paulo, com a parceria da Fundação SM e Fundação Itaú Social, também financiadores do livro junto com o Instituto C&A.

O trabalho caminha entre as luzes e sombras dos movimentos da alma brasileira, definidos a partir de uma pesquisa de opinião aplicada a todas as regiões do país e ancorada por sociólogos, historiadores, psicólogos e antropólogos. Na obra, estão detalhadas mais de 20 experiências de escolas e políticas públicas, históricas e atuais, além dos perfis de diversos educadores que contribuíram para uma educação de alma brasileira – da ousadia de Nise da Silveira à esperança de Rubem Alves, das atuais experiências indígenas e quilombolas aos CEUs (Centro Educacional Unificado) e CIEJAs (Centro de Integração de Educação de Jovens e Adultos), todos casos diferentes, todas faces de um povo que não cansa de se reinventar para sobreviver.

A curadora da pesquisa, Helena Singer, destaca que no país se fala muito em qualidade da educação, o que para ela levanta mais perguntas do que respostas. “Isso porque gira-se em torno de uma espécie de vazio, o da própria definição de qualidade”, coloca. Por esse caminho, a qualidade é relacionada a redes e instituições de ensino que apresentam bons resultados em indicadores que se baseiam em instrumentos que possam ser aplicados em todos os estudantes do mesmo ano, em todas as escolas do país. E ainda, que permitam comparações com índices internacionais. “Aí é que residem os problemas. A homogeneidade e o nivelamento deixam de fora a diversidade e a originalidade brasileiras”, afirma.

Por isso, o livro vai em busca de histórias de educadores e projetos de educação, resgata a tradição indígena de contar histórias. “Conta-se no livro mais uma versão, com olhos atentos ao que é consagrado, mas também ao que é pouco conhecido, ao que foi calado, mas que seguiu gritando no peito”, destacam Tathyana Gouvêa e Antônio Sagrado Lovato, em sua apresentação da obra.

Aprendendo a ser jabuticaba

De acordo com os pesquisadores envolvidos na realização do livro “Educação de Alma Brasileira”, a educação brasileira tem sido, até aqui, muito mais um reflexo de nossas desigualdades, preconceitos e privilégios de classe do que resultado de um projeto coletivo de país. E para que essa mudança aconteça, é preciso entender o que move a alma brasileira.

De acordo com Helena Singer, um desses movimentos é a antropofagia, que “compreende que o selvagem, alegre, afetivo e musical não deve ser substituído pelos valores da civilização moderna”. E ressalta, que é a antropofagia o que nos faz recusar a o complexo de vira-lata, descrito por Nelson Rodrigues como “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face ao resto do mundo”, e propõe uma educação onde o país se aceite como jabuticaba – algo próprio e único do Brasil.

Outro movimento importante encontrado nos projetos mais longínquos do país é a esperança radical. “É a esperança que recusa o fatalismo que sempre adia o nosso futuro”, afirma a curadora. E junto com a esperança está a integração, uma afirmação de identidade que vem do território, da valorização da sua beleza, da busca pelo equilíbrio e pela cooperação. Dessa sensação de união, nasce ainda um movimento dos mais bonitos da alma brasileira: a amorosidade. “É o que resiste à violência”, afirma Helena.

A curadora desta ainda que a amorosidade como movimento da educação brasileira se manifesta em práticas que, sem desvalorizar o público e o institucional, reconhecem o contexto violento de onde vêm muitas das crianças e jovens, para lhes oferecer acolhimento e afeto, acreditando no potencial dessa nova geração.

E é ainda esse potencial que gera o último dos movimentos da educação de alma brasileira: o empreendedorismo. “Trata-se da força, sabedoria e criatividade que os brasileiros têm para, mais do que sobreviver, viver com alegria celebrando a vida”.

BONS EXEMPLOS

É por isso que os pesquisadores encontraram uma história da educação no Brasil repleta de bons exemplos. Entre eles, Daniel Munduruku, nascido em uma tribo no Pará, que frequentou a escola durante a ditadura militar, momento em que os professores transmitiam aos estudantes a imagem de um índio parado no tempo, um ser selvagem, pobre e preguiçoso. Em um relato presente no livro, Daniel, professor e escritor premiado, conta: “Foi tão difícil aceitar minha própria condição que eu cheguei a desejar não ter nascido índio”. Hoje ele é um dos principais responsáveis por dar visibilidade à diversidade dos povos indígenas, por meio de seus saberes e modos de vida.

Educador social, Daniel ensina por meio da tradição indígena de contar histórias. Baseia-se, ainda, nas teorias pedagógicas de outros ilustres da educação: Paulo Freire e Edgar Morin, assim como Darcy Ribeiro, também presentes no livro. Com o objetivo de colocar os povos ancestrais em evidência, ele é ainda o criador do Instituto UK’A – Casa dos Saberes Ancestrais, onde, além das crianças e jovens, seu foco é fazer com que a sociedade supere seus preconceitos e passe a perceber o indígena como um igual, capaz de preservar e compartilhar a sabedoria de sua cultura.

A também curadora do livro Natacha Costa destaca que é preciso seguir “atento e forte”, como já dizia Caetano Veloso, convertendo solidariedade, criatividade, democracia e sustentabilidade em valores afirmados em cada escolha “como sujeitos e como coletivo”, finaliza.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)

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