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Pássaros voltam a cantar hoje em Outeiro

Quando Teonila fundou o Cordão de Pássaro Colibri de Outeiro (antigo Beija-Flor de Icoaraci), em 1971, sua filha, Laurene Ataíde, tinha 14 anos. Criar o pássaro foi sua maneira de preservar para a geração de sua filha essa manifestação cultural genuinamen

Quando Teonila fundou o Cordão de Pássaro Colibri de Outeiro (antigo Beija-Flor de Icoaraci), em 1971, sua filha, Laurene Ataíde, tinha 14 anos. Criar o pássaro foi sua maneira de preservar para a geração de sua filha essa manifestação cultural genuinamente paraense. Mas apenas manter o pássaro não era o suficiente para Laurene, que o herdou em 1998, com o falecimento da mãe. Ela queria ajudar a resgatar esse bicho-arte em extinção. E foi assim que a partir de 2005 começou a planejar, buscar recursos e executar vários projetos de resgate e revitalização de pássaros e outros bichos juninos.

“Eu herdei da minha mãe essa grande representação da cultura popular e me apaixonei. Logo no primeiro projeto de resgate dos cordões, com o patrocínio do Banco da Amazônia, realizei seis oficinas em Caratateua (Outeiro) e Cotijuba. Delas, três pássaros novos surgiram e estão voando até hoje”, orgulha-se Laurene, referindo-se aos pássaros Bigodinho da Brasília, Bem-te-vi do Fama e Pipira da Água Boa. Este último apresenta-se hoje, encerrando as oficinas realizadas de outubro a dezembro deste ano com várias comunidades e também patrocinadas pelo Banco da Amazônia.

Constam em documentos da Associação Folclórica de Belém que já existiram mais de 500 cordões de pássaros e que em 2013 não existiam nem 10% disso. Muito antes, em 2007, Laurene coordenava projetos em parceria com o Curro Velho também, resgatando o pássaro Tucano, de Portel, que há 24 anos não brincava. Em 2008, resgatou o pássaro A Garça Briosa, do Rio da Prata, em Abaetetuba. “Esse foi um dos que estavam extintos há mais tempo, 52 anos, e consegui realizar uma oficina com a participação de 68 pessoas da comunidade”, relata.

Ela também resgatou por conta própria o Beija-flor de Santo Antônio do Tauá, que há 48 anos não brincava. Na programação realizada neste fim de ano, alguns grupos já se apresentaram, encantando quem antes só rememorava os bons tempos dos Pássaros juninos por fotos ou lembranças na memória, como era o caso do Pássaro Japiim, do Mestre Mico, do município de Baião, parado há 32 anos. “Foi lindo ver como aquela comunidade abraçou o resgate do pássaro, coisa de arrepiar. E era o sonho do mestre, já idoso”, comenta Laurene.


Nos cordões de pássaros e outros bichos, personagens como o caçador, os índios, príncipes e marquesas ganham o palco em uma convivência pacífica, com histórias que terminam em música. (Foto: Diogo Viana/Divulgação)

A riqueza da cena na ópera cabocla

No dia da primeira apresentação após as oficinas de resgate do Pássaro Japiim, de Baião (que envolviam aulas de dança, música e teatro, além de confecção de figurinos e indumentárias), a apresentação iniciou após um cortejo pela comunidade e fogos na saída e na entrada no palco, montado na praça. “Foi uma grande felicidade ver o grupo renascer e com essa molecada nova, fortalecendo a nossa cultura popular”, conta animado o Mestre Mico, fundador do Japiim. E Laurene Ataíde completa: “A gente ver as crianças brincando, o amor, a alegria, isso é muito importante”.

A lista de pássaros e bichos juninos resgatados por Laurene, por meio da Associação e Ponto de Cultura Colibri, é ainda muito extensa. E ela diz que deseja seguir com os resgates, pois pedidos de comunidades que não têm como recuperar essa tradição sem apoio externo são muitos. “É impressionante, eles querem a brincadeira de volta, mas tem que ter incentivo. O mestre Mico, por exemplo, recebeu tudo novo. Todos eles recebem um violão, um pandeiro e uma flauta doce, e todo material para confecção de indumentárias e adereços”, conta a coordenadora do projeto.

Beleza que foge da extinção

Ao fim de cada cena, uma canção, e assim, o Pássaro é considerado uma verdadeira ópera cabocla. Os personagens convivem em harmonia. Tem príncipes e princesas, fadas e toda uma corte de marqueses e marquesas, vindos da cultura europeia. Mas tabém estão lá os índios, o caçador, os matutos e as danças regionais paraenses. “É uma convivência pacífica, com comédias, lendas, histórias, todas em torno de um passarinho. E todas as peças são diferentes umas das outras”, explica Laurene.

Para o resgate dos pássaros extintos, ela escreveu “Um Lindo Presente”, um incentivo para começar e depois criar suas próprias narrativas a partir de seus bichos. “É uma peça pequena, onde se encontram todos os esses personagens, e o principal, o porta-pássaro”, diz ela. O personagem ilustre é sempre feito por uma criança, que veste o seu personagem ou o leva sobre a cabeça. “É um trabalho muito bom porque a gente faz com a criança da própria comunidade, adolescentes, jovens, e adultos. Dá uma educação cultural sadia a todos eles”, afirma Laurene, que busca apoio para fazer nascer novos pássaros em 2018.


(Laís Menezes/Diário do Pará)

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