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Polêmica na música: é preciso aderir à modinha para fazer sucesso?

Que os ritmos paraenses estão na moda, sabe-se bem. É carimbó na novela da Globo, é parceria com mestres da guitarrada, é artista fazendo tour internacional com roupas floridas na mala. Mas, e quem não faz esse tipo de som, por onde anda? O que produz? On

Que os ritmos paraenses estão na moda, sabe-se bem. É carimbó na novela da Globo, é parceria com mestres da guitarrada, é artista fazendo tour internacional com roupas floridas na mala. Mas, e quem não faz esse tipo de som, por onde anda? O que produz? Onde tem escoado sua produção cultural? O cantor e compositor Marcel Barretto suscitou essa discussão no Facebook, por meio de uma postagem provocadora há uma semana, que questiona os mecanismos de produção e difusão musical atuais e, também, a maneira como essa “onda” mainstream tem mudado a percepção de quem atua com produção musical - tarefa a que ele tem se dedicado no momento.

“Quero deixar claro que não me dói não estar hypado de camisa florida, em lombo de mestre e tocando ritmos paraenses. Prefiro seguir a linha de fazer e produzir o que gosto, as minhas verdades, o que cresci ouvindo e o que sempre fui... Nunca fui muito de brega, guitarrada, essas coisas, é divertido e tal... Mas não é a minha ‘vibe’. Tem muita gente pegando onda na modinha e tem muita gente de verdade levantando a bandeira ‘true’ [verdadeira] dos ritmos paraenses. Não me encaixo em nenhum dos dois! Não me fecho à riqueza que nosso som e ritmo tem. Dá pra mesclar muita coisa com bom gosto. Mas travestir o som e surfar na onda vai dar esquizomusicalidade quando o mar ficar calmo. Em tempos onde artistas catapulteiros se valem de modinhas éticas, étnicas, rítmicas e sociais que deveriam ser assuntos sérios, a linha entre o sério e o ridículo ficou muito fina e esticada. (...) Sigo underground”, desabafou em sua página em rede social.

Foi o suficiente para muita gente se doer pelo post e e o assunto render pano pra manga em rodas de músicos durante toda a semana. Mas Marcel Barretto garante que o recado não tinha o endereço certo que muitos achavam.

“Estou fazendo produções diversas e um cara me disse assim: ‘Marcel, quero fazer algo com ritmos regionais. O que tu achas?’. Eu fiquei chocado e disse que não era a vibe dele. Isso foi o que me motivou a postar, mas teve gente que vestiu a carapuça e gerou aquela confusão. Estou produzindo uma galera mais underground, mas quando se opta em fazer algo que vá para a guitarrada, para um estilo de música paraense, tem mais chance de ganhar projeto, de ser selecionado em edital. E tem mais, vem cara que nem é paraense, pega recurso de gente daqui, e vai embora, não tem conexão com a cidade. Recurso que poderia ir para gente daqui”, lamenta Marcel Barretto. “Foi uma real, verdades têm que ser ditas, um desabafo”, informou em entrevista.

No tal post polêmico do Facebook, o também cantor e compositor Félix Robatto arrematou o pensamento de Marcel, entre a ironia e a concordância, já que ele é um dos expoentes que levantam a bandeira da música paraense. “Concordo plenamente, Marcel! A verdade tem que estar em primeiro lugar. Vão nos espremer, sugar até a última gota, descartar o bagaço, mas o que vai ficar é a verdade! A verdade é a base de um muro feito com tijolos de experiências, se esse muro for construído e ficar em pé sem a verdade, uma hora ou outra ele cai. Camisa florida tá na moda hoje! Mas a verdade nunca sairá da moda. Aproveita esse teu pensamento e bota nas tuas músicas”, escreveu em resposta ao post.

Procurado pela reportagem, Robatto avaliou que era melhor ficar calado e não topou conceder entrevista. Mas no último dia 13, Robatto postou uma foto de sua antiga banda, La Pupuña, dando uma alfinetada direta em Marcel. “Há 13 anos, essa banda começava a botar a guitarrada na cena de Belém, fazíamos até nove shows por semana, tocando em vários bares e casas noturnas que jamais tocaram esse gênero. A banda nasceu de um projeto de pesquisa da Universidade do Estado do Pará que estudava estilo musical da guitarra paraense. Fomos muito influenciados por Pio Lobato, Cravo Carbono e os Mestres da Guitarrada. (...) As camisas floridas eram homenagem ao Mestre Vieira e aos Mestres da Guitarrada (...). Hoje, chamar guitarrada de modinha, desprestigiar os jovens que resolveram e resolvem aderir ao estilo é fácil! Já pensaste se tivessem tirado as nossas forças há 13 anos? Já pensaste como seria se o Vieira desistisse há mais 50 anos? Eu não sei o que estaria fazendo. Então... Vamos festejar a nossa música e o sucesso dela em vez de culpá-la por obstáculos normais na vida de um artista. Beijos do barbudo! Viva o La Pupuña!”, escreveu.

SENTIMENTAL

Para Marcel Barretto, mesmo tudo não passando de uma grande confusão - que ele tem se esforçado em desfazer convidando Félix Robatto e outras pessoas para conversar -, o que não deve continuar é a ideia de que fazer carimbó ou guitarrada, lambada ou siriá, poderá render algum fruto, se isso não couber na verdade do artista. Questionado se seu pensamento não seria demasiado romântico frente à indústria cultural que formata gostos e propostas estéticas ao sabor de um mercado, ele repete sua posição, mas não descarta mudar de ideia. “O Félix ficou puto porque se morde com a guitarrada. Ele era o único que eu não queria atingir. Todo mundo que faz está numa batalha seríssima para fazer a sua arte. Sou produtor musical e faria algo nesse sentido também [com base em ritmos regionais], claro, mas faria do meu jeito. Não só faria como já fiz, não me fecho. A minha questão não é contra o estilo, mas contra as pessoas acharem que elas precisam fazer isso para vingar de alguma forma na carreira. Tem que respeitar a arte dentro de si. É uma visão romântica, sim, mas sem isso não haveria arte”, acredita Marcel.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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