Desirée Giusti vence Salão Primeiros Passos em edição que traz fotografia em destaque

A série “Se Não, Tudo Bem”, de Desirée Giusti, foi a grande vencedora do 26º Salão de Arte Primeiros Passos, do Centro Cultural Brasil Estado Unidos (CCBEU). O anuncio foi feito ontem, e traz os artistas Rafael da Luz e Rafael Moreira, em segundo e terceiro lugares, respectivamente, além de menções honrosas aos trabalhos das artistas Brenda do Carmo e Luiza Brilhante. A mostra com as obras premiadas e de outros 39 selecionados será aberta na quinta-feira, 7, às 19h, com entrada franca.

O prêmio é dedicado a revelar novos talentos no campo das artes visuais e recebeu mais de 200 projetos este ano. A tarefa de selecionar e premiar os melhores foi do júri formado por Éder Oliveira, Simei Bacelar e Valério Silveira. Gerente artístico-cultural do CCBEU, Simei destaca que desde 2015 o Salão tem um formato diferente, orientando o participante sobre como elaborar uma proposta. “Percebemos que houve uma melhora significativa na forma de seleção e apresentação dos trabalhos”, indica.

O projeto vencedor é uma série composta de três obras que sobrepõem fotografias e cartas. A artista conta que desejava fazer um trabalho que encontrasse estes dois suportes desde que recebeu uma carta do filho após viajar para fazer doutorado na França, onde mora atualmente, longe do menino, que ficou no Brasil. “Eu me emocionava muito, chorei muito quando li. Eu queria ressignificar a saudade, a dor, queria que pudesse ser tudo arte um dia”, ela conta. A breve carta dizia: “Mamãe, quero ir praí se você puder, se não, tudo bem. Beijos”.

Até chegar ao resultado da sobreposição entre carta e fotografias, a artista fez várias experimentações. “É um trabalho pequeno, delicado. É preciso se aproximar para ler, chegar perto. Enfim, é um trabalho em que eu falo sobre lugar, casa, memória, sobretudo sobre saudade”, diz.

A premiação no Salão significa também para Desirée o possível fim de um hiato, pois há tempos não produzia. Com várias cartas ainda guardadas, ela pensa em fazer uma série maior, ainda sem prazos para mostrar trabalhos.

Vazio e angústia como inspiração

Com o título “Entre a Distopia Humana e o Vazio Enquadrado”, a série de fotografias em preto e branco de Rafael da Luz arrebatou o segundo lugar falando dos vazios deixados nas relações humanas. A inspiração veio durante uma viagem para Brasília, quando percebeu como as pessoas viviam de forma acelerada, tanto que ninguém olhava para ninguém ou parecia se importar. “E parece que o ser humano se enquadrou nessa vida de vazios”, explica o artista, ao mencionar as imagens que resolveu por em quadro na fotografia.

Cada uma das três fotos que compõem a série traz apenas uma pessoa, que parece ir para o nada e estar cercada de um grande vazio. Rafael afirma que ter este trabalho premiado e exposto no Salão é uma grande forma de reconhecimento dele como artista. “É um primeiro passo mesmo”, diz ele, que iniciou na fotografia querendo registrar pessoas e suas histórias e que já teve premiado o projeto fotográfico “Resistência Natural”, que participou de uma mostra itinerante na Argentina, Colômbia e Uruguai.

O projeto que deu a Rafael Moreira o terceiro lugar no Salão Primeiros Passos surgiu em um momento de completa inquietação. “O corpo no espelho é o que vinha me inquietando”, conta o artista, que apresentou “A Descoberta do Estranho”. Ele se questionava qual a possibilidade de aquele corpo mostrado pelo espelho não ser o dele. “As pessoas trans não sofrem só esse desconforto interior, mas também com discriminações e violência. Então, quis utilizar esse espaço que o Salão oferece para sensibilizar o outro sobre essas questões”, diz ele.

A série inclui obras com técnicas de óleo sobre tela e óleo sobre espelho. Cada uma delas trata de um aspecto dessa vida de pessoas que passam pela disforia de gênero: o momento da descoberta, quando aquele corpo não representa a pessoa; o momento da busca por modificar o corpo; e o momento da violência sofrida após a mudança. “A premiação me traz muita gratidão por colocar em questão esse tema, que é de extrema importância”, afirma o artista.

Em “A Descoberta do Estranho”, 3º lugar, Rafael Moreira põe em discussão a disforia de gênero (Foto: Divulgação)

No campo da fotografia

A maioria dos trabalhos premiados envolve fotografia, uma linguagem com forte tradição na cidade. Entre eles, as duas menções honrosas. Brenda Brito do Carmo recebe menção pelas fotos “Alongamento”, “Descanso” e “Preparação”. Já Luiza Brilhante concorreu com a foto-instalação “Via Vitae Vivamus”, formada por fotografias e apropriações de mapas. “Comecei a rever surgiu o trabalho. Vi que as imagens formavam uma rota e as transformei em um mapa”, conta.

Também foram selecionados para a mostra Alexandra Conceição, Alexandre Limamoura, Antônia Nayane de Oliveira, Arnaldo Duarte, Benelton Lobato, Carol Pimentel, Cleber Cajun, Deia Lima, Elton Galdino, Ferdinando Magalhães, Fernando Paranhos, Ney Carvalho, Francisco Dion Ribeiro, Gilberto Guimarães Filho, Jéssica Wisniewski, Joelma fotos que eu já tinha, de lugares por onde passei, locais de afeto, e assim Simone Souza, Jorge David Ramos, Jorge Wanderley Teixeira, José Carvalho (Santo), Juliana Lobato (Juh Lee), Karina Martins, Lucas Negrão, Lúcio Volpini, Luiza Chedieck, Marcelo Kalif, Marcelo Santos / Andreza Machado, Maria Moraes, Mário Noronha, Maurício Igor de Almeida, Mônica Pereira (Mia Flautim), Mônica de Mor, Nívea Alessandra Brito, Otávio Castro, Rafael Areas Jr., Rosana Teixeira, Samir Dams, Sylvia Battaglia, Wellington Spinola e Ylen Brito.

VEJA

26º Salão Primeiros Passos Abertura e premiação: Quinta-feira, 7, às 19h

Visitação: Até 13/1, de segunda a sexta, de 14h às 19h, e sábado, de 9h às 13h.

Onde: Galeria Mabeu (Trav. Padre Eutíquio, 1309 – Batista Campos)

Quanto: Entrada Franca

(Lais Azevedo/Diário do Pará)