Demônios da Garoa se apresenta amanhã em Belém

Há quase 75 anos, o grupo paulista Demônios da Garoa reverbera o samba típico de São Paulo, nascido no início do século 20, no antigo Largo do Banana - onde hoje encontra-se o viaduto do Pacaembu e o Memorial da América Latina. Sérgio Rosa, um dos integrantes da banda e filho do fundador do grupo, Arnaldo Rosa, em entrevista ao Você, diz que a vitalidade se deve justamente a essa ligação com o lugar e com os clássicos de Adoniran Barbosa, cantor e compositor que deixou todas as suas composições para o grupo. Os Demônios da Garoa se apresentam neste sábado, às 22h, como parte das comemorações dos 150 anos do Grêmio Português. O sambista paraense Arthur Espíndola também faz show no evento.

Com Adoniran, parceria que deu certo

“O Demônios passou por muitas transformações dentro da música popular e se mantém até hoje. Sobreviveu à Jovem Guarda, à Tropicália, ao funk, axé, rap, pois continuamos nessa levada, com muita satisfação de levantar essa bandeira do samba de São Paulo, com letras sobre a vida da cidade, em forma de brincadeira, essa coisa gaiata, uma mistura do caipira com o sotaque italiano, uma parte do dialeto paulistano. Acaba que a gente agrada pais e filhos, são gerações. E os jovens também ouvem, então há uma continuidade que nos mantém, e a gente se sente gratificado”, diz Sérgio Rosa.

No repertório, músicas como “Iracema”, “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Samba do Arnesto”, “Tiro ao Álvaro”, além de composições autorais, como as de Ricardinho, filho de Sérgio e que integra o grupo como percussionista e cavaquinista, e do violonista Dedé Paraíso, e uma homenagem a Herbert Viana, com a música “Óculos”. Será um prazer retornar a Belém, faz tempo que não tocamos aí”, comenta Sérgio.

As músicas de Adoniran Barbosa foram compostas durante muitos anos especialmente para o Demônios da Garoa, após um encontro inesperado entre o compositor e os integrantes do grupo em 1949.

“A banda conheceu o Adoniran quando estavam gravando a trilha sonora do filme ‘O Cangaceiro’. Em 1958, o Demônios gravou o primeiro samba chamado ‘Malvina’ e foi campeã do carnaval. Com ‘Joga a Chave’, teve o bicampeonato. E daí para a frente, tudo que ele fazia levava no escritório do Demônios. E assim foi formada uma parceria de grande sucesso, mantivemos uma ótima relação. Adoniran era gente boa, mas ele acabou nunca participando da banda. Gostava de compor, nos mostrava as músicas e a gente ensaiava. A cada música nova, ele nos procurava”, relembra Sérgio Rosa.

CENTENÁRIO

Para comemorar 70 anos, o Demônios da Garoa gravou em 2011 o DVD “Vem Cantar Comigo”, com várias participações especiais, como Arnaldo Antunes, Péricles, Dudu Nobre. Sérgio adianta que ano que vem o público também poderá contar com mais eventos comemorativos aos 75 anos e que o plano maior é fazer com o que grupo chegue a longevos cem anos.

“Cem anos de atividade ininterrupta. Já pensou? A gente defende essa bandeira, de ser o grupo que tem a cara de São Paulo. Estamos aí nessa batalha, e esperamos por muitos e muitos anos, já estamos na terceira geração, meus filhos trabalham comigo, mas tem essa moçada nova. Quem sabe com perseverança a gente consiga levar ainda mais por muitos anos”, espera Sérgio Rosa.