Mostra 'Desova' reúne trabalhos em performance e novas mídias

Um corpo nu. Uma foto com pessoas em situações desagradáveis e angustiantes. Um vídeo com conteúdo nonsense, protagonizado por um artista ou coletivo e que gera protestos do público. A linguagem da performance está longe de ser uma unanimidade de aprovação dos espectadores e segue como uma construção estética que utiliza diversos meios para acontecer, mas emerge sobretudo de quem a executa. Pensando nas polêmicas recentes envolvendo mostras de artes visuais em São Paulo e Porto Alegre, performers de Belém organizaram o “Desova - 1ª Mostra de Performance Arte e Novas Mídias”, que começa hoje e segue até domingo, na Associação Fotoativa, na Campina. A entrada é gratuita.

“A mostra surgiu por uma inquietação causada pela escassez de festivais de performance aqui e de possibilidades de mostrar esse tipo de arte. Até mesmo por isso escolhemos esse nome, ‘desova’, para comparar com o período de reprodução de peixes e anfíbios. Belém tem esse cenário fértil, de diálogo com a natureza, mas também a metrópole. As tecnologias já estão na nossa memória cultural, temos o tecnobrega, e a performance vem se unir a essas reflexões”, explica o curador da mostra, Henrique Montagne.

A seleção dos artistas foi realizada via inscrição. Participam da mostra, entre outros artistas, Tales Frey, que atua entre o Brasil e Portugal; o coletivo Sara Não Tem Nome (MG); o grupo Corpos Informáticos (DF); a artista Élle de Bernardini (PR) e a paraense e já famosíssima Leona Vingativa. Ela apresenta a performance “Não Pode Esquecer o Quanto”. “Ela é tema de pesquisa em arte, ela é artista da performance, isso eu não tenho dúvida, é notório. E surgiu completamente no âmbito das novas mídias, foi através do YouTube que ficou famosa com o trabalho da Leona Vingativa, em 2009, e está catalogado no Museu da Imagem do Som, num catálogo específico de novas mídias e performance”, comenta o curador, ele próprio participante da mostra com uma performance.

Outra paraense, Marara Kelly, que atualmente mora no Rio de Janeiro, também participa como artista e curadora do evento, que terá no total 32 obras expostas nas categorias de video-performance, performance presencial e intervenção urbana com fotoperformance. Há ainda artistas do Ceará, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Sergipe, Amapá e São Paulo.

Hoje, a abertura da mostra terá exposição das obras de vídeo-performances. Amanhã, no espaço “Vermelha” e nos arredores do bairro da Campina, intervenções urbanas e performances presenciais serão transmitidas ao vivo via internet, assim como as experimentações sonoras, com discotecagens de artistas visuais paraenses. E no domingo, um “happening” será acionado na Praça da República.

“Existe na performance essa troca profunda com as novas mídias, desde a fotografia, o vídeo, essa hibridação de plataformas, redes sociais, publicações on-line e vemos esse emaranhado de possibilidades do corpo, estamos numa cidade muito performática, mas as pessoas não percebem esse tipo de arte ainda devido a dificuldade de compreendê-la. A ‘Desova’ traz essa possibilidade de mostrar como a performance sempre esteve nesses ínterins de linguagens e tecnologias. Pode ser vaga para alguns, mas também complexa, cheia e interpretações e estudos. É a arte do corpo”, defende Montagne.

Conheça

Desova – Mostra de Performance e Novas Mídias
Quanto: Aberto ao público
Quando: Hoje, às 18h
Onde: Associação Fotoativa (Praça das Mercês, nº 19 - Campina)
Classificação: 18 anos

Quando: Amanhã, às 18h
Onde: Vermelha (Rua Caetano Rufino, nº 22, entre Praça da Trindade e Av. Tamandaré)
Classificação: 18 anos

Quando: Domingo, às 12h
Onde: Praça da República
Classificação: livre

(Dominik Giusti/Diário do Pará)